Dos diagnósticos aos manuais: mercado farmacêutico e transtornos mentais da infância em questão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7984.2020.e75323

Resumo

O intuito do artigo é situar o momento de mudança - tanto nos artigos como nos procedimentos de pesquisa - que marca o DSM III enquanto forma de abordagem dos transtornos psiquiátricos situando a indústria farmacêutica na conformação de novos discursos. Este é o momento da reemergência do TDAH e marca o confronto com a abordagem psicodinâmica freudiana que será secundada pela alternativa de testes e procedimentos estatísticos. Qual o contexto destas transformações? Mobilizamos autores da sociologia econômica para pensar o mercado de medicamentos enquanto campo de lutas – luta em torno dos critérios de classificação da realidade - tão bem como a dinâmica de interatuação com o campo da saúde. O artigo parte de pesquisa bibliográfica e análise documental. O argumento é o de que a nosologia do TDAH como qualquer outro arbitrário cultural, não é neutra e expressa relações de poder. Se diversas pesquisas apontam o poder médico como poder biopolítico, é possível constatar como novos arranjos entre indústria farmacêutica e psiquiatria ampliam o espaço de atuação da primeira alcançando adolescência e infância somando a atuação da indústria farmacêutica como reforço biopolítico.

Biografia do Autor

Marcia da Silva Mazon, UFSC

Departamento de Sociologia e Ciência Política

Sociologia

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Publicado

2021-01-29

Edição

Seção

Dossiê Temático