Parto “natural” e/ou “humanizado”? Uma reflexão a partir da classe

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DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157704

Resumo

A “humanização” da assistência ao parto vem se difundindo no Brasil nas últimas décadas, tendo se disseminado principalmente nas camadas médias urbanas. Através de sua incorporação ao sistema público de saúde, a proposta foi estendida também a mulheres de camadas populares, o que vem colocando alguns desafios e gerado questionamentos, sobretudo ao formato que tem assumido a assistência “humanizada” nas instituições públicas. A partir da análise de duas situações vivenciadas por mulheres de diferentes classes sociais (uma no setor público e outra no privado), o artigo busca refletir acerca das noções de parto “natural” e de parto “humanizado”, apontando como se configuram, em cada um desses contextos, diferentes percepções sobre “humanização” e, em decorrência, também sobre o que seria seu oposto: a “violência obstétrica”.

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Biografia do Autor

Sônia Maria Giacomini, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Departamento de Ciências Sociais

Olívia Nogueira Hirsch, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Departamento de Ciências Sociais

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Publicado

2020-06-05

Como Citar

Giacomini, S. M., & Hirsch, O. N. (2020). Parto “natural” e/ou “humanizado”? Uma reflexão a partir da classe. Revista Estudos Feministas, 28(1). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157704

Edição

Seção

Artigos