A disforia de gênero como síndrome cultural norte-americana
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n356662Resumen
O diagnóstico “disforia de gênero”, proposto pela quinta edição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), é apresentado como uma “síndrome cultural” norte-americana, ilustrando a tendência expansionista da American Psychiatric Association (APA) em arregimentar as experiências de trânsito de gênero que escapem à matriz de inteligibilidade centrada em torno do masculino/feminino. A esse diagnóstico, forjado pelo pensamento binário estadunidense, nos moldes da chamada disease mongering, opõe-se a experiência da travesti brasileira como alteridade radical para com a matriz de inteligibilidade de gênero instituída.
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