Nísia Floresta e ainda a controvérsia da tradução de Direitos das mulheres e injustiça dos homens

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n259012

Resumo

Neste artigo apresenta-se uma breve biografia intelectual de Nísia Floresta (1810-1885), cujos registros são reproduzidos, mesmo atualmente, não sem lacunas e imprecisões de vários tipos. Esforça-se por se situar em torno da publicação de seu primeiro livro, Direitos das mulheres e injustiça dos homens (1832), o qual era considerado, até pouco tempo, como se fora tradução não literal empreendida a partir da versão francesa de A vindication of the rights of woman (1792), obra da escritora inglesa Mary Wollstonecraft. A despeito das vicissitudes acerca das origens literárias das primícias de Nísia Floresta, o livro deu no associar do nome de Wollstonecraft ao ainda então incipiente ideário feminista no país. O intento subjacente deste trabalho consiste em evidenciar uma antiga descoberta acadêmica no tocante à procedência do referido livro, ainda hoje pouco difundida ou assimilada em meio às pesquisas acadêmicas ulteriores.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lia Pinheiro Barbosa, Professora Adjunta da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2000), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2004) e doutorado em Estudos Latino-Americanos (2013), pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), com período sanduíche no Centro de Estudios Superiores de México y Centroamérica (CESMECA). Atualmente sou docente da Universidade Estadual do Ceará, na Faculdade de Educação de Crateús (FAEC), no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), no Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE) da mesma IES. Líder do Grupo de Pesquisa Pensamento Social e Epistemologias do Conhecimento na América Latina e Caribe. Investigadora do Grupo de Pesquisa Práxis, Educação e Formação Humana e do Programa Alternativas Pedagógicas y Prospectiva Educativa en América Latina (APPeAL-UNAM). Membro da Red Transnacional Otros Saberes - RETOS.

Vinícius Madureira Maia, Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE), pelo qual é mestre. Advogado atuante na Procuradoria Jurídica da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Referências

ALENCAR, Maria Eduarda dos Santos; BLUME, Rosvitha Friesen. “Mulheres traduzindo literatura no Brasil nos séculos XIX e XX”. Revista Ciência & Trópico, Recife, v. 39, n. 1, p. 97-115, 2015.

ANDRADE, Wilma Therezinha Fernandes de. ”Narcisa Emília: uma irlandesa na vida de José Bonifácio”. Revista Leopoldianum, Santos, v. 30, n. 81/82, p. 11-28, 2004.

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 2008.

BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

CAMPOI, Isabela Candeloro. “O livro ‘Direitos das mulheres e injustiça dos homens’ de Nísia Floresta: literatura, mulheres e o Brasil do século XIX”. História, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 106-213, ago./dez. 2011.

CANDIDO, Antonio. Recortes. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

CARVALHO, Ruy Vasconcelos de. “Cercada por brutamontes e bugres”. Afetivagem, 2011. Disponível em http://afetivagem.blogspot.com.br/2011/11/cercada-por-brutamontes-e-bugres.html. Acesso em 10/04/2018.

COSTA, Sérgio. “O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda”. Revista Sociedade e Estado, v. 29, n. 3, p. 823-839, setembro/dezembro 2014.

DÉPÊCHE, Marie-France. “A tradução feminista: teorias e práticas subversivas/Nísia Floresta e a Escola de Tradução Canadense”. Textos de História, v. 8, n. 1/2, p. 157-188, 2000.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana, 2010.

DUARTE, Constância Lima. “As viagens de Nísia Floresta: memória, testemunho e história”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n. 3, p. 147-160, setembro-dezembro/2006a.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo. Brasília: Mercado Cultural; Fundação Banco do Brasil; REDEH, 2006b, v. 01. Disponível em http://www.projetomemoria.art.br/NisiaFloresta/bio_um_casal_f.html. Acesso em 20/04/2018.

DUARTE, Constância Lima. “Nísia Floresta e Mary Wollstonecraft: diálogo ou apropriação?”. O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, p. 153-161, 2001.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: vida e obra. Natal: Imprensa Universitária, 1985.

FLORESTA, Nísia. “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”. In: DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana, 2010. p. 81-107.

FLORESTA, Nísia. “Opúsculo humanitário”. In: DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana, 2010. p. 108-122.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. São Paulo: Global, 2006 [1936].

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. Tradução de Maria da Penha Villalobos, Lólio Lourenço de Oliveira e Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: EDUSP, 2017.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 [1936]. p. 162.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Quadro geral da população livre considerada em relação aos sexos, estados civis, raça, religião, nacionalidades e grão de instrucção, com indicação dos numeros de casas e fogos. Rio de Janeiro, 1872. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv25477_v1_br.pdf. Acesso em 20/04/2018.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática, 1994.

KOSTER, Henry. Travels in Brazil. London: Paternoster-Row, 1816. Disponível em http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/biblioteca/exposicoes-virtuais/exposicoes-virtuais-permanentes/relatos-de-viajantes-estrangeiros-sobre-o-brasil-dos-seculos-xviii-e-xix. Acesso em 12/04/2018.

LA BARRE, François Poullain. De l´egalité des deux sexes, discours physique et moral: où l’on voit l’importance de se défaire des préjugés. Paris: Chez Jean du Puis, 1673. Disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k82363t.texteImage. Acesso em 12/04/2018.

LEITE, Luis Filipe. “Opúsculo Humanitário”. Ilustração Luso-Brasileira. Lisboa: Arquivo Universal, 1860, t. IV, v. 2, p. 20.

LIDDEL, Charlotte Elizabeth. Brazil’s First Feminist? Gender and Patriotism in the Works of Nísia Floresta. 2005a. Dissertation. University of Manchester.

LIDDEL, Charlotte Elizabeth. “Nature, nurture and nation: Nísia Floresta’s engagement in the breastfeeding debate in Brazil and France”. Feminist Review, n. 79, Latin America: History, war and independence, p. 69-82, 2005b.

MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Pará de Minas: Virtual Books, 2002.

MATTHEWS, Charlotte H. Gender, Race, and Patriotism in the Works of Nísia Floresta. Woodbridge: Tamesis Books, 2012.

MATTHEWS, Charlotte H. “Between ‘Founding Text’ and ‘Literary Prank’: Reasoning the roots of Nísia Floresta’s Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens”. Ellipsis, n. 8, p. 9-36, 2010.

MONTAGU, Mary Wortley. Woman not Inferior to Man: or, a Short and Modest Vindication of the Natural Right of the Fair-Sex to a Perfect Equality of Power, Dignity and Esteem with the Men. London: Printed for John Hawkins, at the Falcon in St. Paul’s Church-Yard, 1739. Disponível em http://digital.library.upenn.edu/women/sophia/woman/woman.html. Acesso em 12/04/2018.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano II. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. “Um espectador nos trópicos: estudo de caso sobre produção e reprodução cultural”. In: PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. O Carapuceiro: e outros ensaios de tradução cultural. São Paulo: Hucitec, 1996a. p. 129-166.

PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. “A Mary Wollstonecraft que o Brasil conheceu, ou A travessura literária de Nísia Floresta”. In: PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. O Carapuceiro: e outros ensaios de tradução cultural. São Paulo: Hucitec, 1996b. p. 167-192.

PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. “Pela liberdade das mulheres”. Mais! Folha de São Paulo, domingo, 10/09/1995. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/10/mais!/3.html. Acesso em 12/04/2018.

PEDERSEN, Jane Elisabeth. “Sexual Politics in Comte and Durkheim: Feminism, History and the French sociological tradition”. Signs, v. 27, n. 1, p. 229-263, Autumn 2001.

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas Literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

PICKERING, Mary. Auguste Comte: An Intellectual Biography, v. III. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

SEIDL, Roberto. Nísia Floresta: 1810-1885: a vida e a obra de uma grande educadora, precursora do abolicionismo, da República e da emancipação da mulher no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Moderna, 1933.

TELLES, Norma. “Escritoras, escritos, escrituras”. In: DEL PRIORE, Mary (Org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997.

WOLLSTONECRAFT, Mary Godwin. Reivindicação dos direitos da mulher. Tradução de Ivania Pocinho Motta. São Paulo: Boitempo, 2016.

WOLLSTONECRAFT, Mary Godwin. Reivindicação dos direitos das mulheres. Tradução de Amanda Odelius e Andreia Reis do Carmo. São Paulo: EDIPRO, 2015.

Downloads

Publicado

2020-09-16

Como Citar

Pinheiro Barbosa, L., & Madureira Maia, V. (2020). Nísia Floresta e ainda a controvérsia da tradução de Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Revista Estudos Feministas, 28(2). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n259012

Edição

Seção

Artigos