O duplo cego da antropologia
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2012v2n30p83Resumo
O objetivo desse trabalho é o de explorar as discussões que se iniciam no Círculo de Viena, no que se chamou de “virada linguística”, em favor do trabalho antropológico. Para tanto, ela se abre em dois níveis de questionamento sobre o lugar da tradução, que podem ser resumidos em duas questões: como descrever o outro a partir das categorias que dispomos na antropologia? Em outros termos, os outros têm linguagem, mas para que possamos dizer algo sobre eles, precisamos da nossa linguagem, ou seja, o próprio processo de descrição já é por si mesmo um processo de tradução. O segundo nível é o de como dialogar entre antropólogos a partir de contextos etnográficos diferentes - ou seja, como traduzir entre antropologias aquilo que já é fruto, num primeiro nível, de uma tradução para a antropologia? Dito de outra maneira, seguindo uma ideia geral presente na obra de Nelson Goodman - a de que o mundo é criado na descrição e que cada descrição nova cria uma nova versão de mundo - qual é o estatuto da descrição antropológica? - é ela um modo de criar versões de mundo? Igualmente, se as pessoas que os antropólogos estudamos criam suas versões de mundo ao descreve-los para nós, como se dá a tradução entre as versões dos outros para as nossas versões? Seguindo Marilyn Strathern, o que os outros podem fazer é o que cabe no limite de uma certa linguagem, a deles - o que podemos fazer é o que cabe no limite de uma certa linguagem - a nossa, entre elas, seguindo W. O. Quine, apenas a indeterminação da tradução.
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