Análise enunciativa das marcas modais presentes em corpus de interpretação simultânea de libras-português.
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p289Resumo
Este texto centra-se nas questões do trabalho do Intérprete de Língua de Sinais na condição de segundo enunciador da produção discursiva. Esses profissionais, no momento da interpretação, buscam recriar [atualizar] os conceitos emanados da língua fonte para a língua alvo, instaurando, assim, uma segunda instância enunciativa. O quadro teórico mobilizado situa-se na perspectiva da Linguística Enunciativa (BENVENISTE, 1989; FLORES, 2008, 2009a, 2009b, 2010) e no estudo dos modais em línguas orais e na LIBRAS. Tem-se, por objetivos, buscar as marcas deixadas pelo segundo sujeito enunciador do texto, neste caso, o intérprete, quanto ao uso de modais especificamente e analisar as escolhas desse segundo sujeito enunciador por utilizar um ou outro tipo de modal (no texto alvo), que esteja explícito ou implícito na primeira situação de enunciação (no texto fonte). Para análise, a fala de uma pessoa surda, com tempo total de 40' (quarenta minutos), que estava sendo interpretada para o Português oral, foi transcrita. Após a transcrição, 6 (seis) excertos da fala total, com ocorrências de modais na língua fonte ou alvo, foram analisados. Em função das análises empreendidas, pontua-se: 1. a tendência de que a modalidade deôntica seja quase sempre interpretada como na língua fonte; 2. as escolhas interpretativas são sempre guiadas por pistas enunciativas deixadas na fala do primeiro enunciador, para as quais o intérprete deve revelar domínio de aspectos pertinentes tanto à língua fonte quanto à língua alvo; 3. na ausência de marcas modais explícitas, os intérpretes são sensíveis às noções modais extravasadas por toda a superfície textual; 4. a omissão temporal na interpretação de modais epistêmicos de grande valor de aderência podendo funcionar como uma estratégia interpretativa e não como um falseamento da informação original; 5. a noção de “tempo de checagem”, sendo proposta para recobrir o tempo (não cronológico) no qual o intérprete, após receber a informação da língua fonte, realizasua interpretação.
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