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A escrita como prática humana: do efeito retroativo ao efeito enunciativo da proposta de intervenção da redação ENEM no ensino-aprendizagem da escrita

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2020v21n2p189

Resumo

Este trabalho, a partir do diálogo entre a Linguística Aplicada – mais precisamente os estudos sobre avaliação linguística – e a Linguística da Enunciação – mais precisamente a teorização enunciativa de Émile Benveniste –, busca responder às seguintes questões: 1ª) que efeito retroativo a Competência 5 avaliada na redação Enem pode ter sobre o ensino-aprendizagem da escrita na educação básica? 2ª) que efeito enunciativo essa competência pode ter sobre a constituição, por parte do aluno, do texto como um espaço para a plena expressão de sua singularidade como sujeito de linguagem? Para tanto, são analisados quatro recortes enunciativos advindos de textos que alcançaram nota mil nas edições de 2017 e 2018 do Enem. Os resultados da análise conduzem às seguintes respostas às questões formuladas: 1ª) a Competência 5 avaliada na redação Enem pode ter, como efeito retroativo na educação básica, o ensino-aprendizagem de um modelo de texto rígido, caracterizado pelo fixação de expressões e pela repetição de ideias atinentes a agentes, ações, meios e efeitos sociais das propostas de intervenção elaboradas nas produções textuais estudantis; 2ª) essa competência pode ter ainda, como efeito enunciativo na escrita do aluno, a cristalização de relações significantes que geram uma reificação de seu texto, minando-o como espaço para a plena expressão de sua singularidade como sujeito de linguagem.

Biografia do Autor

Giovane Fernandes Oliveira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Doutorando em Estudos da Linguagem, vinculado à linha de pesquisa "Análises Textuais, Discursivas e Enunciativas", do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa, Língua Francesa e suas Literaturas pela mesma instituição (2016). Realizou um semestre de mobilidade acadêmica na Université de Rouen (França), onde cursou disciplinas na graduação em Sciences du Langage - Français Langue Étrangère e no mestrado em Sciences du Langage - Diffusion du Français (2015). Seus interesses de pesquisa circunscrevem-se a três campos do saber: 1) Epistemologia da Linguística e História das Ideias Linguísticas, com foco nos legados de Ferdinand de Saussure, Émile Benveniste e Michel Pêcheux; 2) Aquisição da Linguagem, com foco na aquisição da fala e da escrita em língua materna a partir da perspectiva enunciativa benvenistiana; 3) Estudos do Letramento, com foco em leitura, produção textual e oralidade letrada nos letramentos escolar e acadêmico. Membro da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN). Integrante do projeto de pesquisa "A (re)invenção de discursos na aquisição e no processo de ensino-aprendizagem de língua materna: uma abordagem enunciativa", coordenado pela Profa. Dra. Carmem Luci da Costa Silva. Organizador do site "Estudos enunciativos", página de divulgação científica que busca dar a conhecer as pesquisas desenvolvidas na UFRGS a partir da teoria da linguagem benvenistiana. Suas experiências profissionais circunscrevem-se a duas áreas de atuação: 1) docência em Língua Portuguesa, com ênfase em ensino e avaliação de textos dissertativo-argumentativos em contexto de preparação para vestibulares e o ENEM; 2) revisão e assessoria linguística na elaboração de textos técnico-científicos.

Carolina Knack, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Professora Adjunta de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutora em Estudos da Linguagem, pela linha de pesquisa Análises Textuais, Discursivas e Enunciativas do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre pela mesma linha de pesquisa (UFRGS).

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Publicado

2020-12-10 — Atualizado em 2021-01-26

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