A expressão do futuro do presente, a terceira onda variacionista, os gêneros do discurso e o mundo pós-COVID-19: algumas discussões
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8420.2021e75509Resumo
Este texto, em homenagem à professora Edair Maria Görski, objetiva resgatar algumas reflexões empreendidas por Bragança (2017) no que tange a implicações teórico-metodológicas decorrentes da centralidade que os gêneros do discurso ganham em alguns trabalhos de terceira onda variacionista, fazendo emergir um novo ângulo investigativo para fenômenos variáveis, tais como a expressão do futuro do presente. Por meio de pesquisa bibliográfica, examinam-se (i) parte da literatura sobre esse fenômeno e (ii) parte da literatura da terceira onda variacionista, para ancorar uma breve análise de dois artigos jornalísticos que versam sobre o futuro pós-COVID-19. Os resultados dessa reflexão apontam, como consequências teórico-metodológicas da incorporação de novas perspectivas sobre a variação na terceira onda variacionista, dentre outros aspectos, para: (i) a visão de língua como prática social, sendo a prática discursiva a que recebe mais atenção; (ii) o foco na compreensão da paisagem social das práticas discursivas, por meio do exame da prática estilística; (iii) os gêneros do discurso como o quadro mais produtivo para o exame do estilo linguístico; (iv) o estilo linguístico como uma propriedade do gênero; (v) o linguístico e sua exterioridade como dimensões integradas; (vi) a imprescindibilidade de análise da dimensão social e verbal dos gêneros do discurso, para exame de formas em variação/mudança; (vii) a relação forma-função do fenômeno em tela sendo contraída no âmbito do estilo do gênero e estando a serviço de sua orientação ideológica. Sob esse novo ângulo, muito ainda há o que se investigar sobre a expressão do futuro do presente.
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