Ideologias sobre educação bilíngue em narrativas de mulheres surdas e possíveis aproximações com a abordagem translíngue

Autores

  • Mairla Pereira Pires Costa Universidade Federal de Santa Catarina
  • Bianca Sena Gomes Universidade Federal de Santa Catarina
  • Gilmara Jales da Costa Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2022.e83310

Palavras-chave:

Educação de surdos, Língua Brasileira de Sinais, Translinguagem, Ideologia linguística

Resumo

Atualmente, a translinguagem está sendo utilizada como forma de proporcionar um ensino para bilíngues, considerando aspectos holísticos do indivíduo, como o respeito às culturas, às línguas e às sociedades que estão envolvidas nesse processo de ensino e de aprendizagem (GARCÍA, 2009a; GARCÍA, 2009b). Elucubrando o histórico educacional de pessoas surdas no Brasil e as exigências indicadas pelas políticas educacionais para que tais pessoas tenham acesso a uma educação bilíngue Libras-português, este estudo trata da educação de surdos e das ideologias linguísticas em interlocução com o tema da translinguagem. Tomando por base as narrativas de quatros surdas bilíngues, analisa-se possíveis aproximações com as práticas translíngues. As entrevistas foram selecionadas a partir do Projeto Corpus Libras, em discursos produzidos em Libras, registrados em vídeos. Como resultados, identificou-se que as narrativas das entrevistadas sobre suas vivências escolares demonstraram concordância com a abordagem translíngue, nas diferentes experiências de mulheres surdas. Constata-se caminhos distintos para aquisição de linguagem e/ou aprendizagem de língua(s) e variadas ações pedagógicas por parte dos professores no ensino de surdos. Os discursos evidenciam a importância da convivência em comunidade linguística (em língua de sinais) como fator que favorece a construção da identidade e da cultura surdas, aspectos recorrentemente narrados pelas entrevistadas. A não nomeação de línguas é um ponto que precisa ser melhor discutido, considerando o contexto de surdos bilíngues (Libras e português) bimodais.

Biografia do Autor

Mairla Pereira Pires Costa, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutoranda em Estudos da Tradução no Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução na Universidade Federal de Santa Catarina e Mestrado no mesmo programa. Cursando Especialização Lato Sensu em Educação de Surdos no Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC. Graduação em Biblioteconomia - com Habilitação em Gestão da Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2012), Graduação em Pedagogia - Licenciatura pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI). Membro do Grupo de Pesquisa em Interpretação e Tradução de Línguas de Sinais - InterTrads registrado no CNPq. Professora Substituta do curso de Pedagogia Bilíngue no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) - Câmpus Palhoça Bilíngue. Interesse em pesquisas relacionadas aos Estudos da Interpretação em Língua de Sinais, Interpretação Educacional (par linguístico Libras/Português) e Educação de Surdos. Revisora de textos acadêmicos, com ênfase nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Bolsista CAPES/Excelência.

Bianca Sena Gomes, Universidade Federal de Santa Catarina

É professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV) pelo Departamento de Letras (DLA), no âmbito de Língua Brasileira de Sinais. Doutoranda e Mestra em Linguística - pelo programa de Pós- Graduação em linguística da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), orientada pela professora Ronice Quadros. Graduada no curso de Letras Libras na área de licenciatura na UFSC. Realizou intercâmbio na Gallaudet University. Possui o PROLIBRAS. Atualmente faz parte do Grupo de Pesquisas do CNPQ, no projeto Corpus de Libras, orientada pela Prof.ª Dr.ª Ronice Quadros; do Grupo de Estudos Linguísticos da Libras (GELL), liderado pela Prof.ª Dr.ª Aline Lemos Pizzio e lidera o Grupo de estudos linguístico de bilinguismo, translinguagem e tradução (GELBITRA)

Gilmara Jales da Costa, Universidade Federal de Santa Catarina

É Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pelo departamento de Letras (CCHLA). Doutoranda e Mestre em Linguística Aplicada com a área de concentração em Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com orientação da profa. Dra. Ronice Quadros. Graduada em Licenciatura plena - Letras Libras pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Coda - filha de pais surdos. Tem experiência na área de Letras, Linguística, bilinguismo bimodal, Codas, aquisição da linguagem, tradução e Interpretação com ênfase em Língua Brasileira de Sinais - Libras e português. Atualmente faz parte do Grupo de estudos linguístico de bilinguismo, translinguagem e tradução (GELBITRA).

Referências

ABDELHAY, A.; MAKONI, S. B.; SEVERO, C. G. Language planning and policy: the discursive landscaping of modernity. In: ABDELHAY, A.; MAKONI, S. B.; SEVERO, C. G. Language planning and policy: ideologies, ethnicities and semiotic spaces of power. v. 1. United Kingdom: Cambridge Scholars, 2020. p. 1-21.

BISHOP, M.; HICKS, S.. Orange eyes: Bimodal bilingualism in hearing adults from deaf families. Sign Language Studies, v. 5, n. 2, p. 188-230, 2005.

BISOL, C.; SEPERB, T. M. Discursos sobre a surdez: deficiência, diferença, singularidade e construção de sentido. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 1, p.7-3, 2010.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Presidência da República, [2005]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5626.htm. Acesso em: nov. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 10 jul. 2018.

BREGONCI, A. de M. A educação bilíngue para surdos pensada a partir da lógica da escola para todos: egocentrismo, altruísmo, tradução e justiça cognitiva. In: VIEIRA-MACHADO, L. M. da C.; COSTA JÚNIOR, E. R. da. Educação de surdos: políticas, práticas e outras abordagens. Curitiba: Appris: 2018. p. 107-122.

CAPOVILLA, F. C.; TEMOTEO, J. G. A importância do novo Deit-Libras para a educação bilíngue da criança surda. In: ANDREIS-WITKOSKI, S.; FILIETAZ, M. R. P. (orgs.). Educação de surdos em debate. Curitiba, Ed. UTFPR, 2014. p. 103-128.

FRANCO, M.: Currículo e emancipação. In: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. v. 2. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. 213-224.

GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: Global perspectives. Malden, MA: Blackwell, 2009a.

GARCÍA, O. Emergent bilinguals and TESOL: What’s in a name? TESOL Quarterly, v. 43, 322-326, 2009b.

GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: A global perspective. New Jersey: John Wiley & Sons, 2011.

GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K.; VALDÉS, G. The translanguaging classroom: Leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017.

GARCÍA, O.; LEIVA, C. Theorizing and Enacting Translanguaging for Social Justice. In: BLACKLEDGE, A.; CREESE, A. (eds.). Heteroglossia as practice and pedagogy: Educational Linguistics: New York, 2014. p. 199-216.

GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: Language, Bilingualism and Education. London: Palgrave Macmillan UK, 2014.

GOMES, B. S. Aquisição da linguagem de uma criança coda: produções, tipos de sobreposições e influência dos interlocutores neste processo. 2018. 143 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.

HOFFMEISTER, R. J. Famílias, crianças surdas, o mundo dos surdos e os profissionais da audiologia. In: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. v. 2. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. 113-130.

KRASHEN, S. Principles and practice in second language acquisition. United Kingdom: Pergamon Press,1982.

KYLE, J. O ambiente bilíngue: alguns comentários sobre o desenvolvimento do bilinguismo para os surdos. In: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. v. 2. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. 15-26.

LOPES, L. P. da M. Inglês e globalização em uma epistemologia de fronteira: ideologia lingüística para tempos híbridos. DELTA, v. 24, n. 2, p. 309-340, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-44502008000200006.

LOS RÍOS, C. V. de; SELTZER, K. Translanguaging, coloniality, and English classrooms: An exploration of two bicoastal urban classrooms. Research in the Teaching of English, p. 55-76, 2017.

MATTOS, L. C.; VIEIRA-MACHADO, L. M. da C. Pensar as práticas pedagógicas bilíngues na educação de surdos na contemporaneidade. In: VIEIRA-MACHADO, L. M. da C.; COSTA JÚNIOR, E. R. da. Educação de surdos: políticas, práticas e outras abordagens. Curitiba: Appris: 2018. p. 19-36.

NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Caderno de pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 1-5, 1996.

QUADROS, R. M. de. Políticas linguísticas e educação de surdos em Santa Catarina: espaço de negociações. Cad. CEDES, v. 26, n. 69, p. 141-161, 2006.

QUADROS, R. M. de. Língua de Herança: Língua Brasileira de Sinais. Porto Alegre: Penso, 2017.

QUADROS, R. M. de et. al. Língua Brasileira de Sinais: patrimônio linguístico brasileiro. Florianópolis: Editora Garapuvu, 2018.

RAJAGOPALAN, K. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola, 2003.

ROBERTSON, X. A.; RAMIREZ, I. C.: Educación Bicultural Bilngue para lãs Personas Sordas en Chile. In: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. v. 1. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. 225-231.

RODRIGUES, J. R.; VIEIRA-MACHADO, L. M. da C.; VIEIRA, E. T. de B. Congresso de Paris (1900): a seção de surdos e sua atualidade em relação à educação de surdos. Revista Brasileira de História da Educação, v. 20, n. 1, p. e095, 6 dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.4025/rbhe.v20.2020.e095.

SANTOS, S. A. dos; VERAS, N. C. de O. Políticas de tradução e de interpretação: diálogos emergentes. Travessias interativas, n. 22, p. 332-351, jul./dez., 2020. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/Travessias/article/view/15334/11575.

SARDINHA, T. B. Linguística de corpus: histórico e problemática. DELTA, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000.

TOMITCH, L. M. B.; TUMOLO, H. S. Pesquisa em letras estrangeiras: 5º período. Florianópolis: LLE/CCE/UFSC, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/117026. Acesso em: 20 ago. 2021.

TRIADÓ, C. Educación temprana y lenguaje en los ninos sordos. In: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. v. 1. Porto Alegre: Evangraf, 1999. p. 249-257.

VOGEL, S.; GARCÍA, O. Translanguaging. New York: University of New York, 2017.

YIP, J.; GARCÍA, O. Translinguagens: recomendações para educadores. Iberoamérica Social: revista-red de estudios sociales IX, p. 164-177, jan. 2018.

Publicado

2022-12-19