Década internacional das línguas indígenas no Brasil: o levante e o protagonismo indígena na construção de políticas linguísticas

Autores

  • Sâmela Ramos da Silva Meirelles Universidade Federal do Amapá
  • Altaci Corrêa Rubim Universidade de Brasília
  • Anari Braz Bomfim Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2022.e84209

Palavras-chave:

Políticas linguísticas indígenas, Povos Indígenas, Década Internacional das Línguas Indígenas

Resumo

O presente trabalho discute o protagonismo indígena na Década das Línguas Indígenas no Brasil. Parte-se de uma discussão sobre o cenário sociolinguístico das línguas ancestrais e as ações políticas que povos indígenas, autonomamente e em parceira, vêm desenvolvendo com relação ao fortalecimento, à revitalização e à retomada de suas línguas. Em seguida, são tratadas das concepções de língua/linguagem que são a base epistemológica desses projetos de revitalização e retomada linguística. Encontramo-nos em momento crucial diante do perigo de desaparecimento de muitas línguas ancestrais no Brasil e no mundo, no qual a defesa dessas línguas se mostra central na garantia dos direitos dos povos indígenas e de sua diversidade linguístico-cultural. Nesse sentido, são levantadas algumas reflexões sobre a emergência do protagonismo indígena para a elaboração de políticas linguísticas locais, regionais e nacionais no que tange à Década Internacional das Línguas Indígenas, que, no Brasil, está sendo coordenada por indígenas das cinco regiões do país e suas organizações.

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Publicado

2022-12-19