Homens na Educação Infantil: propostas educativas açucaradas? Questões de gênero na educação da pequena infância

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2020v22n42p507

Resumo

A presença de professores homens na educação infantil evidencia a existência de noções atreladas a uma cultura do machismo e do patriarcado em que as relações de poder explodem como marcas do/no corpo. Neste ensaio, analisamos as hierarquias de poder e gênero na educação infantil. Trata-se de um diálogo construído a partir da materialidade de duas pesquisas que abordaram a docência masculina na educação infantil. Uma delas, inspirada na abordagem de histórias de vida, analisou dados quantitativos e entrevistas semi-estruturadas com docentes de uma rede pública brasileira. A outra, com inspiração etnográfica, foi realizada em uma rede pública brasileira e uma italiana e analisou anotações de caderno de campo, entrevista e fotografia. A partir do referencial dos estudos de gênero e feministas, problematizamos a visão da docência feminina associada a algo de menor valor e a constituição de desigualdades de gênero na educação infantil, assim como delineamos possíveis contribuições da presença masculina nesse contexto.

Biografia do Autor

Peterson Rigato da Silva, UNESP - Doutorando Prefeitura de Piracicaba-SP Diretor de Educação Infantil

Pedagogo e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP. Atualmente doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação na UNESP - Rio Claro. Diretor de creche e pré-escola da rede Municipal de Educação Infantil de Piracicaba, Professor no curso de Pedagogia da UNIMEP e militante do Fórum Paulista de Educação Infantil (2018/2021) e MIEIB. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em diferenciação sócio-cultural - GEPEDISC/ linha Culturas Infantis e do IMAGO/UNESP, tem experiência na área de Educação e Pesquisa, com ênfase em Educação Infantil, atuando, principalmente nos seguintes temas: Relações de Gênero, Culturas Infantis, Políticas Públicas para a Pequena Infância, Pedagogia da Infância, Pedagogia da Educação Infantil, Sociologia da Infância. (Texto informado pelo autor)


Mariana Kubilius Monteiro, Instituto Federal de Santa Catarina/Pedagoga

Pedagoga no instituto Federal de Santa Catarina. Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2008), mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (2014) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atua principalmente nos seguintes temas: educação infantil, masculinidade, gênero, carreira docente. (Texto informado pelo autor)

 

Ana Lúcia Goulart de Faria, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/Docente da Faculdade de Educação

Desde 1984 é docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Coordena a linha culturas infantis do GEPEDISC - Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Diferenciação Sócio Cultural. Tem publicações, pesquisas e orientações de Graduação, Pós-Graduação e pós doc nas áreas de Pedagogia e Formação Docente, atuando quase exclusivamente na primeira etapa da educação básica, na Educação Infantil em creches e pré-escolas, na Pedagogia da infância, pequena infância e relações de gênero, pequena infância e classe social, pequena infância e relações étnico-raciais, parque infantil, crianças pequenas de 0 a 6 anos, Sociologia da infância, culturas infantis e formação para a especificidade da docência em creches e pré-escolas. Desde a finalização do pós-doc (bolsa PDE/CNPq) na Università degli Studi di Milano-Bicocca, em setembro de 2010, foi membro do Colegiado Docente de Doutorado da mesma até 2018. Foi do Conselho Municipal de Educação de Campinas de 2004-2006 e é atualmente membra do grupo gestor do Fórum Paulista de Educação Infantil -FPEI 2019-2021, e foi também na gestão anterior de 2016-2018. Atualmente aposentada, continua professora colaboradora plena da FE Unicamp orientando, publicando, dando curso na pós graduação e desenvolvendo 3 projetos de pesquisa sempre na intersecção idade-relações de gênero-classe social-relações étnico-raciais no Brasil, na Itália (com a Università degli Studi Milano Bicocca) e na Suécia. (Texto informado pelo autor)

 

Helena Altmann, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)/Professora associada (livre docente).

É professora associada (livre docente) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1998) e doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2005). Na Unicamp, é professora na Faculdade de Educação Física e no Programa de Pós-graduação em Educação e coordenadora do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE). Foi coordenadora do GTT Gênero do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (2015-2017). Tem experiência na área de educação, educação física e esporte, com ênfase em gênero e sexualidade. Integra o Grupo de Pesquisa Corpo e Educação, vinculado à Faculdade de Educação Física, e o Grupo de Pesquisa Focus, da Faculdade de Educação. (Texto informado pelo autor)


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Publicado

2020-11-05