Profissionalidade e gênero: participação dos homens e pequena infância
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2020v22n42p322Resumo
A abordagem da relação entre profissionalidade e gênero no trabalho com a pequena infância, proposta neste artigo, exige uma breve contextualização. Jan Peeters é diretor do Centro de Inovação da Pequena Infância, um centro de pesquisa ligado à Universidade de Gante, na Bélgica, e ao curso de Pedagogia Social e Trabalho Social. Seus estudos se centram na relação entre gênero e pequena infância, com destaque à coordenação de cinco projetos sobre a profissionalização dos serviços para a pequena infância, no âmbito da União Europeia (UE). Os serviços para a pequena infância no âmbito da UE, em especial nos países e regiões citados por Peeters no artigo, são variados e, de modo geral, possuem caráter intersetorial, envolvendo áreas como assistência social, educação e saúde. Ainda que em diferentes países - mesmo regiões e cidades - possuam características próprias, pode-se caracterizá-los como serviços que surgem com uma perspectiva de guarda e mais recentemente incorporam uma perspectiva de acolhimento. O acolhimento é, deste modo, uma concepção mais alargada sobre o compartilhamento com as famílias da educação e cuidado das crianças pequenas, que pode ocorrer em instituições coletivas, instituições de pequeno porte que acolhem poucas crianças, em alguns contextos até cinco, no espaço privado da família, com a contratação de um/a profissional credenciado/a pelo órgão responsável, dentre outras formas. Essa variedade de serviços, nomeada em algumas passagens do texto como estruturas para a pequena infância, se difere significativamente do contexto brasileiro, e exige alguma atenção para a sua compreensão, inclusive em relação às terminologias utilizadas, como acolhimento, quando refere ao objetivo dos serviços e cuidadores/as e educadores/as, quando identifica os/as profissionais que atuam nos diferentes serviços com as crianças. Em relação ao tema central - a relação entre gênero e profissionalidade - o autor trata-o considerando o conjunto de profissionais que atuam nos diferentes serviços de acolhimento das crianças pequenas. Os estudos, políticas e programas que descreve e analisa ao longo do texto levam-no a defender uma equidade de gênero nas profissões da pequena infância, o que o autor denomina de profissionalidade neutra no plano do gênero, definição proveniente em especial das experiências desenvolvidas no Reino Unido no Sheffield Children’s Centre e no Pen Green Family Centre, serviços integrados para a pequena infância, que desde os anos 1980 empregam quase tantos homens como mulheres. Estes breves apontamentos buscam situar aspectos que caracterizam a importante contribuição de Jan Peeters ao debate sobre gênero e profissionalidade no trabalho com a pequena infância e introduzir o/a leitor/a na abordagem aqui apresentada, que foi sistematizada a partir de uma conferência realizada em 2009, transformada em artigo e publicada em 2013, na obra “Pequena infância e participação: uma abordagem democrática do acolhimento” (Petite enfance et participation: une approche démocratique de l’accueil), organizada por Sylvie Rayna e Catherine Bouve.
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