A ficção científica e o novum (1977)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2176-8552.2021.e84708%20%20Palavras-chave:
Ficção científica, novum, teoria da narrativaResumo
Neste ensaio, o crítico iugoslavo Darko Suvin propõe, a partir do filósofo marxista Ernst Bloch, o novum como categoria determinante para se compreender a ficçãocientífica face a outros gêneros narrativos: o de Fantasia, o mítico, o conto de fadas e a ficção naturalista. O novum consistiria em um princípio que instaura uma mudança no universo do relato, analogamente à norma empírica do autor. Além disso, é um evento essencialmente histórico, na medida em que não será reconhecido como novidade
em qualquer época (o que também vale para a narrativa de ficção científica, que não é sempre considerada como tal). Aliada, portanto, à analogia, essa categoria substitui noções anteriores de Suvin como a extrapolação, a qual afirma agora ser insustentável, por essa se pautar em uma noção de futuro como tempo limitado. Por sua vez, o novum
modifica a própria conexão entre as relações espaciais e temporais e se estabelece de acordo com a sua relevância. Demonstrando afinidade com a teoria marxista, o autor sugere que esse gênero narrativo se valha de uma colaboração entre as ciências humanas e as naturais, pois somente as primeiras contemplariam adequadamente a
modificação dos processos históricos e das relações sociais operada pelo novum
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