“Gradualmente, o aprazível universo o foi abandonando”: “encegamento” e mediação cultural em “O Fazedor”, de Jorge Luis Borges

Autores

  • Aline Cristina de Oliveira Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Palmas
  • Rodrigo Batista de Almeida Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

DOI:

https://doi.org/10.5007/2176-8552.2021.e85121%20

Resumo

O escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) ganhou projeção mundial a partir do reconhecimento literário de sua obra. Com problemas de visão que o acompanharam por toda a vida, torna-se completamente cego por volta dos 55 anos, mas esse acontecimento não determinou o fim da sua produção artística. Este trabalho objetivou analisar como o processo de “encegamento” permeou a obra de Borges, a partir da análise do conto homônimo do livro O fazedor, produzido no período de perda da visão. Como aporte teórico, foi adotada a teoria das transferências culturais de Espagne e Werner (1988). Diversas marcas do processo de “encegamento” foram encontradas no texto analisado, sendo possível identificar diferentes tipos de transferências culturais, sobretudo para entender de que modo as leituras de Borges feitas ao longo da vida surgem e são remodeladas na sua produção. Diferentes percepções diante da perda da visão puderam ser observadas e isso pode servir de suporte para, sobretudo, videntes compreenderem como a cegueira afeta o sujeito, indicando possíveis formas de promover acessibilidade no meio social que repercuta na maximização da inclusão de pessoas com deficiência visual.

Palavras-chave: Jorge Luis Borges; O fazedor; cegueira na literatura; “encegamento”

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Publicado

2022-03-08