Ditos e não-ditos na natureza do crime: o silêncio na indexação de boletins de ocorrência nos crimes de feminicídio

Autores

  • Denise Cristina Belam Universidade Estadual Paulista, Departamento de Ciência da Informação, Marília. São Paulo, Brasil.
  • Deise Maria Antonio Sabbag Universidade de São Paulo, Departamento de Educação, Informação e Comunicação, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-6392-4719
  • Marcos Vinicius Santos de Carvalho Terra Universidade Estadual Paulista, Departamento de Ciência da Informação, Marília. São Paulo, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-4275-3292
  • Francisco Arrais Nascimento Unesp https://orcid.org/0000-0003-4424-8844

DOI:

https://doi.org/10.5007/1518-2924.2022.e88288

Palavras-chave:

Feminicídio, Ciência da Informação, Organização do Conhecimento

Resumo

Objetivo: Identificar as microestruturas utilizadas nos boletins de ocorrências gerados após mortes de mulheres para nomear as práticas criminosas, identificando assim possíveis inverossimilhanças, preconceitos e antipatias.

Método: Utilizou-se da organização conceitual por categorias e a análise do discurso com o pressuposto de que nomear para apreender é diferente de nomear para punir. Para tanto, utilizando-se dos recortes: geográfico (São Paulo - Brasil), temporal (janeiro - dezembro de 2020) eleito em função das condições socioambientais impostas pelo avanço do SARS-CoV-2 no ano de 2020, que pode ter impulsionado aumento significativo nos casos de feminicídio no Brasil, foi realizada uma leitura documental nos 167 boletins de ocorrências fornecidos pela Secretaria Estadual da Segurança Pública.

Resultado: Se pode observar o uso de termos diferenciados para os crimes cometidos contra mulheres mesmo as características dos mesmos apontarem para o crime de feminicídio. Dos 167 documentos analisados, dois não tinham feminicídio como desdobramento do crime. Em um, vítima e autor não possuíam qualquer tipo de relação, sendo classificado como homicídio simples. Homicídio simples é o ato de matar outra pessoa de forma dolosa, com a intenção de cometer o crime; crimes sem qualificadores podem aumentar os privilégios ou diminuir a pena. O outro documento estava com o campo de desdobramento em branco, não trazendo nenhuma informação.

Conclusões: Nomear para apreender é diferente de nomear para punir. A nomeação verossimilhante evita recorrentes subnotificações e apagamentos que prejudicam a busca e o acesso à informação. Sabendo disso, acredita-se na necessidade de nomear o feminicídio, representando-o de maneira precisa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Denise Cristina Belam , Universidade Estadual Paulista, Departamento de Ciência da Informação, Marília. São Paulo, Brasil.

Doutoranda e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Possui graduação em Biblioteconomia pela UNESP de Marília. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Organização e Representação da Informação, atuando principalmente nos temas, feminismo, movimentos sociais, organização do conhecimento, violência doméstica e Feminicídio, também membro do grupo de estudos ECOAR (Estudos Contemporâneos em Organização, Análise e Recuperação da Informação), sob a responsabilidade da Prª. Dra. Deise Maria Antonio Sabbag.

Deise Maria Antonio Sabbag , Universidade de São Paulo, Departamento de Educação, Informação e Comunicação, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.

Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp, 2013). Professora Doutora da Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto desde 2014, onde realiza atividades de ensino, pesquisa, extensão (com enfoque na área de Organização do Conhecimento) e gestão. É docente permanente na Pós-Graduação do Programa de Ciência da Informação da UNESP/Marília, linha pesquisa Produção e Organização da Informação. Realizou atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), atuando nos curso de Biblioteconomia, Arquivologia e Mestrado Profissional em Biblioteconomia (2010 a 2014). Atuou nesta instituição como vice-diretora da Escola de Biblioteconomia no período de 2011 a 2014, sendo diretora interina entre 2012 a 2013. Participa dos Grupos de Pesquisa Linguagem, Discurso e Organização do Conhecimento(UNESP) ; Análise Documentária (UNESP) e Biblioteca, Memória e Resistência (UNIRIO). É membro das Sociedades Científicas de sua especialidade. Vice-Presidente da International Society for Knowledge Organization (ISKO ? Capítulo Brasileiro) período 2017 - 2019. Membro da International Society for Knowledge Organization(ISKO) no exterior. Membro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB) onde atuou como coordenadora Adjunta do GT 2 - Organização e Representação do Conhecimento. Membro da Associação Brasileira de Ensino em Ciência da Informação. Atualmente é editora do período científico Biblioteca Escolar em Revista da USP/Ribeirão Preto. Líder do Grupo de Pesquisa ECOAR (Estudos Contemporâneos em Organização, Análise e Recuperação da Informação. Temas de interesse de pesquisa: Organização do Conhecimento, Vocabulários Controlados, Linguagem Documentária, Cultura da Convergência, Estudo Culturais em Organização do Conhecimento. 

Marcos Vinicius Santos de Carvalho Terra , Universidade Estadual Paulista, Departamento de Ciência da Informação, Marília. São Paulo, Brasil.

Doutorando em Ciência da Informação, da Universidade Estadual Paulista, campus de Marília. Além disso, é mestre em Ciência da Informação também pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, 2019). É graduado em Ciências da Informação e da Documentação e Biblioteconomia pela Universidade de São Paulo (USP, 2016) e graduado em Letras pela Associação Faculdade de Ribeirão Preto (UNIESP-AFARP, 2012). É também membro do grupo de estudos ECOAR (Estudos Contemporâneos em Organização, Análise e Recuperação da Informação.

Francisco Arrais Nascimento, Unesp

Doutor em Ciência da Informação

Universidade Estadual Paulista, Departamento de Ciência da Informação, Marília. São Paulo, Brasil

Referências

BRASIL. 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico.

BRASIL. Diretrizes nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres. Secretaria de Políticas para Mulheres. Brasília, 2016.

BRASIL. Lei Maria da Penha. Lei n. 11.340/2006. Coíbe a violência doméstica e familiar contra a mulher. Presidência da República, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 02.out. 2020.

CAPRIOLI, M. da S. “Análise do discurso literário”: proposta de metodologia no processo de análise documental de textos narrativos de ficção. 2018. 104 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, 2018.

CORDEIRO, P. A. C. Análise do discurso e Ciência da Informação: ensaio sobre uma possibilidade metodológica. 2004. 93f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

CORRY, J. A. Satirical view of London at the commencement of the nineteenth century. Kearsley, 1801.

COSTA, M. I. P. da. Estudo preliminar da terminologia empregada pela Polícia Civil do RS no Boletim de Ocorrência Policial. Dissertação de Mestrado em Estudos da Linguagem, Faculdade de Letras da UFRGS, Porto Alegre, 2009.

DAHLBERG, I. Current trends in knowledge organization. In: GARCIA MARCO, F. J. (Ed.). Organización del conocimiento en sistemas de información y documentación. Zaragoza: Libreria General, 1995. v.1, p.7-26.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

GIORGENON, D.; SOUSA, L. M. A.; PACIFICO, S. M. R. Sujeito, corpo e um espelho (cibernético): a memória em imagem e em discurso. Tempo psicanal., Rio de Janeiro, v.46, n. 1, p. 81-97, jul. 2014.

JESUS, J.aqueline G.Gomes de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília, 2012.

LAGARDE, M.. Por la vida y libertad de las mujeres, fin al feminicidio. Gobierno del Estado de Puebla, Consejería Jurídica del Ejecutivo Estatal, 2008.

LUCAS, C. R.. Indexação: gesto de leitura do bibliotecário. 1996. 2020. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado) – UNICAMP, Campinas.

MELLO, A. R. de. Feminicídio: uma análise sociojurídica da violência contra mulher no Brasil no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: GZ, 2020.

MURARO, R. M.; BOFF, L. Feminino e masculino: uma nova consciência para o encontro das diferenças. Rio de Janeiero: Sextante, 2002.

NASCIMENTO, F. A.; FIORAVANTI, D. C. B.; BIZELLO, M. L.; MARTÍNEZ-ÁVILA, D. Representação, memória e esquecimento: analise da filmografia relacionada a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XIX ENANCIB), 2018.

OLSON, H. A. The power to name: locating the limits or subject representation in libraries. Dordrecht: Kluwer Academic Publisher, 2002.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Viena: 1993.

ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 7ª ed. Campinas: Pontes, 2007b.

ORLANDI, E. P. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007a.

PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. 5 ed. Campinas: Pontes, 2008.

PERON, A. P. Entre relatos e registros: a discursivização da violência conjugal na Delegacia da Mulher de Maringá. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Maringá. 2007.

PINTO MOLINA, María. El resumen documental: principios y métodos. Madrid: Pirámide, 1992.Salamanca: Funcación Germán Sánchez Ruipérez

PRADO, L. R. et al. Curso de Direito Penal Brasileiro. 13 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

RADFORD, J.; RUSSELL, D. E. H. Femicide: The politics of woman killing. Nova York: Twayne Publishers, 1992.

RANGANATHAN, S. R.. Prolegomena to library classification. 3. ed. London: Asia Publishing House, 1967.

RÍOS, M. L. y de los. Los cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas. México: UNAM, 2005.

SARACEVIC, T. Relevância reconsiderada. In: Anais da segunda conferência sobre concepções de biblioteconomia e ciência da informação (CoLIS 2). Nova Iorque: ACM, 1996. p. 201-218.

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA. Governo de SP inaugura a 137ª DDM de São Paulo em Itaquaquecetuba. São Paulo: 2021. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/governo-de-sp-inaugura-a-137a-ddm-de-saopaulo-em-itaquaquecetuba-2/ . Acesso em 27/09/2021.

SENADO FEDERAL. Comissão Mista Parlamentar de Inquérito da Violência contra a Mulher. Brasília. 2013. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496481. Acesso em: 02 out. 2021.

SZWARCWALD, C. L.; MALTA, D. C.; BARROS, M. B. de A. Comportamento saudáveis: Bebida alcoólica. In: Convid Pesquisa de Comportamentos. Rio de Janeiro, 2020.

Publicado

2022-12-02

Como Citar

BELAM , Denise Cristina; SABBAG, Deise Maria Antonio; TERRA, Marcos Vinicius Santos de Carvalho; NASCIMENTO, Francisco Arrais. Ditos e não-ditos na natureza do crime: o silêncio na indexação de boletins de ocorrência nos crimes de feminicídio. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, [S. l.], v. 27, n. 1, p. 01–22, 2022. DOI: 10.5007/1518-2924.2022.e88288. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/88288. Acesso em: 9 nov. 2024.