Quando a convivialidade oculta a desigualdade: Lélia Gonzalez e a democracia racial brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2024.e105109

Palavras-chave:

Democracia racial, Convívio e desigualdade, Racismo cotidiano, Feminismo negro

Resumo

A ideia de democracia racial, também conhecida como mito da democracia racial, não é apenas uma crença equivocada. Na verdade, engloba um conjunto de mecanismos que regulam as práticas sociais, as relações de poder, as formas de interação social e o pensamento coletivo dentro de um sistema de dominação étnico-racial historicamente estabelecido. Com base na análise de Lélia Gonzalez, procuraremos investigar quais ações sociais concretizam, apoiam e ao mesmo tempo dificultam a percepção do racismo cotidiano. Como podemos explicar a ampla aceitação e propagação do mito da democracia racial? E o que o mito da democracia racial esconde, além do que ele revela? O objetivo deste texto é compreender a questão paradigmática da democracia racial brasileira, assumindo indiretamente o quadro conceitual da relação entre convivialidade e desigualdade. Como o convivialidade esconde as desigualdades? E como o nexo de convivialidade e desigualdade poderia contribuir para a compreensão da democracia racial? Lélia Gonzalez pode nos ajudar a encontrar respostas para essas perguntas.

Biografia do Autor

Rúrion Soares Melo, USP

Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Possui graduação (2003), mestrado (2005) e doutorado (2009) em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), e pós-doutorado pelo CEBRAP (2011). É Principal Investigador do Mecila - Maria Sibylla Merian Centre e Pesquisador Principal de Projeto Temático da FAPESP. Coordena o Grupo de Estudos de Política e Teoria Crítica da USP.

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Publicado

2025-03-20