O ocaso ideológico da contradição
DOI:
https://doi.org/10.5007/1677-2954.2024.e105430Palavras-chave:
Contradição, Crítica, Crise, Nancy Fraser, Rahel JaeggiResumo
O argumento deste artigo é o seguinte: no preciso momento em que assistimos o retorno da “contradição” ao léxico da crítica social, presenciamos também a sua perda de potencial crítico enquanto conceito. Se preferirmos, estamos diante da perda total de vínculo com a noção de negação determinada que, em seus momentos mais altos, caracterizou a “contradição” como categoria crítica. Que esse ocaso seja “ideológico”, isso se deve, como tento argumentar, a um “retorno fraseológico” operado nos usos que Nancy Fraser e Rahel Jaeggi têm dado ao termo. Contradição como disfuncionalidade estrutural (FRASER) e contradição como obstáculo prático de autocompreensão (JAEGGI) constituem, na esteira do vocabulário original da teoria crítica, um “simulacro ideológico” ou um “retorno à teoria tradicional”. Para argumentar nessa direção, o texto está dividido em 5 seções: (i) uma introdução; (ii e iii) uma reconstrução das concepções de contradição de Nancy Fraser e Rahel Jaeggi, respectivamente; (iv) uma tentativa de demonstração de que tais conceitos de contradição não caracterizam, de fato, contradições e, portanto, constituem um ocaso do significado crítico do termo; (v) a conclusão avaliativa desse ocaso como ideológico.
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