Virtude e moralidade nas lições de ética de Kant

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2025.e108628

Palavras-chave:

Virtude, Ética, Autocracia, Imperativo Categórico

Resumo

Entre as teorias morais da modernidade, a doutrina kantiana é, segundo muitos, a mais notável. A doutrina da virtude de Kant ocupa um lugar especial entre as teorias modernas porque se desenvolve tanto a partir de uma fundamentação rigorosa do conceito de dever e obrigação, quanto enquanto uma doutrina da autonomia, aspectos que caracterizam a doutrina do imperativo categórico. Assim, embora Kant se valha amplamente de seus predecessores modernos, ele certamente os supera na medida em que elabora sua doutrina da virtude com base em uma concepção própria e mais profunda da ética. O meu objetivo neste artigo não é, no entanto, investigar mais profundamente as principais características da doutrina kantiana da virtude, mas antes tentar mostrar como os aspectos principais dessa concepção já estavam desenvolvidos em meados de 1770 nas Lições de Ética. Na minha tentativa de reconstrução, concentro-me especificamente em cinco características do conceito kantiano de virtude, a saber: 1) virtude como análoga à força, “autocracia” e “autodomínio”; 2) virtude como “autocoerção” fundada em um princípio de “liberdade interna” e como resistência ao mal radical; 3) virtude como característica de uma “vontade finita” para a qual a lei moral se apresenta como um “imperativo” que representa uma necessitação prática; 4) virtude como “elemento antropológico” que permite que sentimentos e inclinações tenham lugar e desempenhem um papel no todo da natureza humana; e 5) virtude como algo “adquirido” e a “educação” como aspecto fundamental desse processo.

Referências

BAXLEY, A. M. Kant’s theory of virtue: the value of autocracy. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

CUNHA, B. A gênese da ética de Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: libeArs, 2017.

CUNHA, B. Estudo introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Petrópolis: Vozes, 2019.

CUNHA, B. Estudo introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições de metafísica. Petrópolis: Vozes, 2021.

CUNHA, B.; FELDHAUS, C. Estudo introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições de ética. São Paulo: Unesp, 2018.

CRUSIUS, C. A. Anweisung vernünftig zu Leben (1744). Hildesheim: Olms, 1969.

DENIS, L. Kant’s Conception of Virtue. In: GUYER, P. (ed.). Cambridge companion to Kant and modern philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

HENRICH, D. Hutcheson und Kant. In: Kant-Studien, v. 49, p. 49–69, 1957/58.

HENRICH, D. Über Kants früheste Ethik. In: Kant-Studien, v. 54, p. 404–431, 1963.

HUTCHESON, F. An inquiry into the original of our ideas of beauty and virtue. Londres: [s.n.], 1725.

KANT, I. Gesammelte Schriften, vols. I–XXVIII. Berlin: Akademie der Wissenschaften, 1910–1972.

KANT, I. Eine Vorlesung Kants über Ethik. Ed. P. Menzer. Berlin: De Gruyter, 1924.

KANT, I. Vorlesung zur Moralphilosophie. Ed. W. Stark. Berlim/Nova York: De Gruyter, 2004.

KANT, I. Metafísica dos Costumes. Traduzido por Clélia Martins, Bruno Nadai, Diego Kosbiau e Monique Hulshof. Petropólis: Vozes, 2017.

KANT, I. Lições de Ética. Traduzido por Bruno Cunha e Charles Feldhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

KANT, I. A Religião nos Limites da Simples Razão. Traduzido por Bruno Cunha. Petropólis: Vozes, 2017.

KÜHN, M. The moral dimension of Kant’s inaugural dissertation: a new perspective on the “great light” of 1769? In: ROBINSON, H. (ed.). Proceedings of the eighth international Kant congress. Milwaukee: Marquette University Press, p. 373–392, 1995.

KÜHN, M. Einleitung. In: KANT, I. Vorlesung zur Moralphilosophie. Ed. W. Stark. Berlim/Nova York: De Gruyter, p. vii–xxxv, 2004.

KÜHN, M. Kant’s metaphysics of morals: the history and significance of its deferral. In: DENIS, L. (ed.). Kant’s metaphysics of morals: a critical guide. Cambridge: Cambridge University Press, p. 9–27, 2010.

LAYWINE, A. Kant’s early metaphysics and the origins of the critical philosophy. Atascadero: Ridgeview Publishing Company, 1993.

LOUDEN, R. Transformação total: porque Kant não desistiu da educação. In: Studia Kantiana, v. 14, n. 22, p. 5–28, 2016.

MENZER, P. Der Entwicklungsgang der Kantischen Ethik in den Jahren 1760–1785 – Erster Abschnitt. In: Kant-Studien, v. 2, p. 290–322, 1899.

MENZER, P. Der Entwicklungsgang der Kantischen Ethik in den Jahren 1760–1785 – Zweiter Abschnitt. In: Kant-Studien, v. 3, p. 41–104, 1899.

SHELL, S. M. The embodied of reason: Kant on spirit, generation and community. Chicago: University of Chicago Press, 1996.

SHELL, S. M. Kant and limits of autonomy. Londres: Harvard University Press, 2009.

SCHILPP, P. A. La ética pré-crítica de Kant. Cidade Universitária: UNAM, 1966.

SCHMUCKER, J. Die Ursprünge der Ethik Kants in seinen vorkritischen Schriften und Reflexionen. Meisenheim: Hain, 1961.

SCHNEEWIND, J. A invenção da autonomia: uma história da filosofia moral moderna. São Leopoldo: Unisinos, 2001.

SCHÖNFELD, M. The philosophy of the young Kant: the precritical project. New York: Oxford University Press, 2000.

SCHWAIGER, C. Kategorische und andere Imperative: Zur Entwicklung von Kants praktischer Philosophie bis 1785. Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 1999.

STARK, W. Nachwort. In: KANT, I. Vorlesung zur Moralphilosophie. Berlin: De Gruyter, p. 371–408, 2004.

VELKLEY, R. Freedom and end of reason: on the moral foundation of Kant’s critical philosophy. Chicago: University of Chicago Press, 1989.

WARD, K. The Development of Kant’s View on Ethics. New York: [s.n.], 1972.

WOLFF, C. Vernünfftige Gedancken von der Menschen Thun und Lassen: zu Beförderung ihrer Glückseeligkeit – (Deutsche Ethik; 1720). In: Gesammelte Werke. Hildesheim: Olms, 1960.

ZAMMITO, J. Kant, Herder and birthday of anthropology. Chicago: University of Chicago Press, 2002.

Downloads

Publicado

2025-11-26

Edição

Seção

Artigos