A voz discente (des)organizando a aula de ciências

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2022.e80495

Palavras-chave:

Mediação, Enunciado, Significação Conceitual, Conceitos Científicos

Resumo

Apresentamos e discutimos análise discursiva de uma aula de Ciências no Ensino Fundamental, na qual a voz dos estudantes é privilegiada, para mostrar construções conceituais acerca de um fenômeno de interesse discente, que é a influência da Lua nas marés. No curso das interações verbais são tratados diversos conceitos científicos, em movimento de significação, pelos estudantes. A análise discursiva é conduzida por meio de um dispositivo analítico que organiza as falas, as quais constituem a categoria bakhtiniana da enunciação. A questão que move a pesquisa é: por que processos as manifestações dos estudantes, na aula, podem mobilizar mediações entre os movimentos de ensinar e aprender, para que aprendizagens possam ocorrer dialogicamente? Como hipótese de pesquisa assume-se que fomentar e acolher as manifestações dos estudantes propicia interações capazes de gerar elaborações conceituais discentes sobre os fatos científicos, a partir de um fenômeno de interesse, e também gerar compreensões docentes sobre os movimentos de aprender dos estudantes. Os resultados são apresentados em forma de um ‘Tema de enunciação’, constituído analiticamente a partir do tratamento pedagógico da inter-relação entre conhecimento cotidiano, e conhecimento científico, por meio da contextualização dos conhecimentos sobre as marés locais. Este Tema de enunciação veicula elaborações conceituais discentes e docentes, prefigurando um tipo de aula em que a não linearidade se constitui como uma das principais características, contribuindo para ampliar a visão sobre a aula, explicitando compreensões discentes sobre a mesma e sobre as dinâmicas pedagógicas vividas em contraposição às idealizadas.

Biografia do Autor

Núbia Rosa Baquini da Silva Martinelli, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul

Possui curso Técnico em Química (1986), Licenciatura em Ciências, Habilitação Física na Universidade Federal do Rio Grande (1996) e Mestrado em Educação Ambiental pela mesma Universidade (2001). É doutora em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande (2019), com o apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Exerce docência no Ensino Fundamental (Ciências e Matemática), tendo exercido docência no Ensino Médio (Física), Ensino Superior (Metodologia Científica e Didática para Física). Atuou como professora na Pós-Graduação em Mídias na Educação (2010). Principais áreas de interesse e atuação: Produção Curricular na Educação Científica; Educação Ambiental; Educação Profissional; Educação Popular.

Jaqueline Ritter, Universidade Federal do Rio Grande

Pós-doutorado em Didáctica de las ciencias experimentales en la Universidad Autónioma de Madrid (UAM), Espanha - Apoio Capes processo 88881-3337199/2019/01. Professora Adjunta na Escola de Química e Alimentos (EQA) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), onde atua como professora e coordenadora do curso de Química Licenciatura. Mestrado (2011) e doutorado (2015) em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ/RS, com um período de doutorado Sanduiche na Universidade Autónoma de Madrid (UAM), na Espanha - Apoio Capes PDSE Nº 8940/12-6. Possui graduação em Ciências Plenas - Habilitação em Química - UNIJUÍ/RS (2001) e Especialização em Gestão e Apoio Pedagógico na Escola Básica - Ênfase em Administração e Supervisão Escolar pela Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ/RS (2003). Tem experiência na Educação Básica: Direção e Supervisão Escolar, professora de Ciências e Matemática no Ensino Fundamental e Química no Ensino Médio. Desde 2012, atua na formação de professores de Química, ministra aulas de Educação Química, Estágio supervisionado, Química Geral e Fundamentos de Química. É professora do quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências PPGEC/FURG - Química da vida e saúde. Desenvolve pesquisa em Educação na área de Formação de Professores e desenvolvimento de Currículo com ênfase na Abordagem histórico-cultural. Coordena o Grupo de Pesquisa GEQPC / FURG - Grupo de Educação Química na produção curricular - Área de CNT e o Programa DA capes Residência Pedagógica, também na área de CNT - na FURG.

Luiz Fernando Mackedanz, Universidade Federal do Rio Grande

Possui graduação em Licenciatura Em Física pela Universidade Federal de Pelotas (2000), mestrado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003) e doutorado em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). Atualmente trabalha como professor associado no Instituto de Matemática, Estatística e Física (IMEF) da Universidade Federal do Rio Grande, atuando junto aos programas de Pós Graduação em Educação em Ciências (PPGEC) e Mestrado Profissional em Ensino de Física (MNPEF) e ocupa a coordenação do curso de Física Licenciatura. Trabalhou como professor assistente da Universidade Federal de Pelotas, lotado na Universidade Federal do Pampa, campus Caçapava do Sul, atuando junto ao curso de Geofísica. Tem experiência na área de Física, com ênfase em Fenomenologia de Partículas em Altas Energias e trabalha, desde 2010, na área de Educação em Ciências e Ensino de Física, atuando nos temas: formação de professores, inovações pedagógicas no ensino de ciências, temas controversos da física, contextualização e historicidade das ciências, interdisciplinaridade na atuação e formação de professores, formação continuada de professores de ciências naturais, relações de poder no currículo de ciências naturais. Coordena o Grupo de Pesquisa em Inovações no Ensino de Ciências (INOVAFIS), onde o foco de estudo são as inovações metodológicas e teóricas no processo ensino e aprendizagem, mantendo a historicidade das relações, bem como entendendo o caráter epistemológico destas inovações.

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Publicado

2022-08-15

Como Citar

Martinelli, N. R. B. da S., Ritter, J., & Mackedanz, L. F. (2022). A voz discente (des)organizando a aula de ciências. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 39(2), 351–380. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2022.e80495

Edição

Seção

Ensino e aprendizagem de Ciências/Física