“[...] DIU só é DIU quando está no útero”: a intra-ação do discursivo e do não discursivo como re-membramento
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8412.2025.e105639Palavras-chave:
Dispositivo microprotético e intra-ativo DIU, Análise neomaterialista dos discursos, Intra-ação, Re-membrar, DifraçãoResumo
Como parte da atual pesquisa de doutoramento que pensa o funcionamento polivalente do dispositivo microprotético (Silva, 2021) e intra-ativo DIU, este texto tem a proposta de fazer uma defesa cuidadosa de uma análise neomaterialista dos discursos (Butturi Junior; Camozzato, 2023), no costurar foucaultiano a conceitos caros aos estudos neomaterialistas, pós-humanos e com-postos, sobretudo com Tsing, Barad, Bennet e Haraway. O propósito deste texto é costurar dois recortes: um que é a irrupção discursiva do DIU, que foram os anos 1960, os testes com formatos de DIUs e, ainda, o DIU Dalkon Shield; e outro que é um excerto da estória fabulada de Mirabel, uma das entrevistadas da pesquisa, que narrou ter sentido o DIU “[...] furando de dentro pra fora”. Nessa filigrana do contar de efeitos, de misturas, de assemblages e de etnografar multiespécie, por ora, alguns pontos em nós de análises possíveis são: as agências humanas e das coisa mais-que-humanas e não humanas, como fluidos, células, endométrio, dores, sangue, DIU, plástico, cobre, hormônio sintético levonorgestrel, enfim, são actantes no funcionamento do dispositivo microprotético e intra-ativo DIU, tanto como empecilhos para todo categorizar tecnomédicocientífico quanto como zona que carece de organização funcional para o devir-com resultar em contracepção; e a polivalência dessas intra-ações, na brincadeira de furar o que é dentro e o que é fora, são re-membramentos material-discursivos.
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