Surdos e a educação bilíngue em tempos de pandemia: o enunciATO de professores em análise

Autores

  • Neiva Aquino Albres Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR
  • Ana Paula Jung

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2021.e81034

Resumo

Neste estudo, propõe-se uma análise do contexto da política linguística para surdos e o lugar do professor, refletindo sobre as ações linguísticas institucionais e as práticas cotidianas de ensino de e em Libras no Brasil em período de pandemia. Pautadas na perspectiva dialógica do discurso de Bakhtin e do círculo (2006, 2008), utilizamos a pesquisa qualitativa. Esta pesquisa tem o caráter etnográfico virtual proposto nas perspectivas de Hine (2009, 2015). Para tanto, selecionamos documentos textuais e visuais no intuito de descrevê-los, analisá-los e compará-los. Constatamos que, apesar da política no Brasil garantir o acesso às informações em Libras e à educação remota, isso ocorre de fato pela via da ação proveniente das comunidades de surdos e de intérpretes. Esse fato escancara as desigualdades sociais, principalmente a linguística, em período de distanciamento social. A partir destas constatações, concluímos que as desigualdades são minimizadas pela ação de professores e de tradutores e intérpretes de Libras-Português, ouvintes, e surdos que unidos desenvolvem uma política linguística de baixo para cima.

Biografia do Autor

Neiva Aquino Albres, Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

Mestrado em Educação - UFMS< doutroanda em Educação Especial - UFSCAR

Ana Paula Jung

Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução –PGET. Docente do Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC Campus Palhoça Bilíngue. Curso Pedagogia Bilíngue. Palhoça, Santa Catarina, Brasil.

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Publicado

2021-12-29