Outro ponto de vista: uma historiografia linguística feminina no Brasil (1960-1990)

Autores

  • Cristina Altman Universidade de São Paulo image/svg+xml
  • Julia Lourenço Costa Universidade Federal de São Carlos

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2023.e95056

Palavras-chave:

Linguística brasileira, Historiografia Linguística, Mulheres na ciência

Resumo

A partir da perspectiva teórico-metodológica que considera o gênero, a concepção tradicional da neutralidade e da objetividade científicas são fortes pontos de inflexão, uma vez que estes valores têm também forte ancoragem em determinado ponto de vista. A imbricação entre feminismo e ciência promove, por exemplo, o maior interesse em construir saberes socialmente situados, isto é, aqueles que recorrem à história, as relações sociais e ao mundo para melhor compreender os fenômenos que analisam. Dessa ótica, as experiências e vivências dos sujeitos são mais fontes que obstáculos no processo científico e corroboram na promoção de uma perspectiva científica mais crítica. Desse modo, a "epistemologia do ponto de vista" (HARDING, 1993) procura, portanto, revisar as bases teóricas e epistemológicas nas quais determinado pensamento científico surge e, em vista disso, promover a compreensão de que pontos antes considerados marginais também participam das normas da pesquisa. Nesse sentido, partindo do pressuposto de que a historiografia linguística "tem como objeto a história dos processos de produção e de recepção das ideias linguísticas e das práticas delas decorrentes" (ALTMAN, 2012), pretendemos com esta pesquisa exercitar a reflexão científica a partir de outro ponto de vista sobre um mesmo objeto. Com base numa perspectiva feminina, pretendemos não salientar somente os grandes destaques da disciplina no Brasil, mas recolocar as mulheres nesta história. Essa proposta está assentada na constatação de que a literatura disponível sobre o tema, com este recorte específico, ainda não é suficiente no Brasil e que, apesar da diversidade e do pluralismo serem fundamentais na ciência, esses mesmos valores não são frequentemente observados quando sua historiografia é desenvolvida., Nosso objetivo não é questionar a relevância das pesquisas que homens desenvolveram na Linguística brasileira, nem contrariar o trabalho historiográfico que foi desenvolvido até o momento. Nosso olhar científico está mais direcionado na constatação do "aumento do interesse tanto em historiografia linguística, quanto nas condição das mulheres" (FALK, 1999) e na possibilidade da construção de uma historiografia linguística feminina no Brasil, que reposicione as mulheres, pesquisadoras e professoras, que participaram, e ainda participam ativamente dos movimentos científicos e do desenvolvimento da disciplina no país.

Biografia do Autor

Cristina Altman, Universidade de São Paulo

Professora Titular do Departamento de Linguística da Universidade de São Paulo (USP).

Julia Lourenço Costa, Universidade Federal de São Carlos

Julia Lourenço é pesquisadora FAPESP de Pós-doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar - FAPESP processo número 2017/12792-0); é doutora em Letras - área de concentração: Linguística, pela Universidade de São Paulo (USP); realizou estágio de pesquisa (Doutorado Sanduíche) na Université Paris-Sorbonne IV, sob a orientação do Prof. Dominique Maingueneau; possui mestrado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e é graduada em Letras - com licenciatura plena em Português/inglês - pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É membro participante do Laboratório de Estudos Epistemológicos e Discursividades Multimodais, da Universidade Federal de São Carlos (LEEDIM-UFSCar) e do Grupo de Estudos Semióticos, da Universidade de São Paulo (GES-USP). É editora da revista Linguasagem - Revista Eletrônica de Popularização Científica em Ciências da Linguagem - uma realização do Departamento de Letras e do Programa de Pós Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos - PPGL-UFSCar. Tem como foco as áreas de Linguística e de Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: Análise do discurso francesa, Semiótica greimasiana e Comunicação.

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Publicado

2023-10-20

Edição

Seção

Dossiê