Ideologia e construção de identidades em uma audiência de conciliação no PROCON

Autores

  • Maurício Carlos da Silva Universidade Federal de Juiz de Fora Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
  • Amitza Torres Vieira Universidade Federal de Juiz de Fora

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2019v16n2p3685

Resumo

O artigo propõe identificar o papel da ideologia na construção de identidades em uma audiência de conciliação no PROCON, a partir de um estudo qualitativo com dados reais de fala. Nesse contexto institucional, a negociação entre as partes, reclamante e reclamado, depende de uma intensa construção discursiva de versões sobre o fato. Considera-se a concepção de ideologia enquanto sentido negociado (BILLIG, 1991; SHI-XU, 2000; THOMPSON, 2011) e a noção de identidade também é tomada como um construto interacional (BUCHOLTZ e HALL, 2004; OCHS, 1993; MOITA LOPES, 2001). Os resultados do estudo mostram que a dimensão ideológica serviu para fornecer status de factualidade a opiniões subjetivas (SHI-XU, 2000), atuando no sentido de orientar a significação do processo de construção e sustentação de identidades dos reclamados como maus profissionais x bons profissionais.

Biografia do Autor

Maurício Carlos da Silva, Universidade Federal de Juiz de Fora Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais

Doutorando em Linguística - UFJF. Mestre em Estudos Linguísticos - UFV (2014). Especialista em Língua Portuguesa - FIJ (2011). Licenciado em Letras Português/Espanhol - UNIPAC (2008). Bacharel em Filosofia FAM (2006). Atualmente é professor efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus São João Del-Rei. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Línguas Portuguesa e Espanhola, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino de Línguas Materna e Estrangeira, Linguística Aplicada, Análise da Conversa e Sociolinguística Interacional.

Amitza Torres Vieira, Universidade Federal de Juiz de Fora

Possui Graduação em Letras pela Faculdade de F.C.L. de Carangola/ Universidade Estadual de Minas Gerais (1997), Mestrado em Letras/Linguística pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2002), Doutorado em Letras/Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2007) e Pós-Doutoramento na Unviersidade Federal Fluminense. É Professor Adjunto IV da Universidade Federal de Juiz de Fora, atuando como professora na Faculdade de Letras e na Pós-Graduação em Linguística. Desenvolve pesquisas na área da Sociolinguística Interacional e na interface gramática e interação, com ênfase em argumentação e avaliação em dois contextos institucionais: PROCON e Audiências do Juizado Especial Criminal.

Referências

BILLIG, M. Ideology and opinions: studies in rethorical psychology. London: Sage, 1991.

BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 de set. 1990. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 21 jul. 2017.

BRENNEIS, D. Language and disputing. Annual Review of Anthropology, Los Angeles, California, v. 17, p. 221-237, 1988.

BUCHOLTZ, M.; HALL, K. Language and identily. In: DURANTI, A. A Companion to Linguistic Anthropology. Oxford: Blackwell Publishing, 2004. p. 369-394.

CORONA, M. D. Fala-em-interação cotidiana e fala-em-interação institucional: uma análise de audiências criminais. In: LODER, L. L.; JUNG, N. M. Análises de fala-em-interação institucional: a perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica. Campinas-SP: Mercado das Letras, 2009. p. 13-44.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. A disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: ______. (Orgs.) O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006.

DREW, P.; HERITAGE, J. Analyzing talk at work: an introduction. In: ______. Talk at work: interaction in institutional settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. p. 3-65

GOFFMAN, E. Frame analysis. New York: Harper & Row, 1974.

______. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. (Orgs.) Sociolingüística interacional. São Paulo: Loyola, 2002 [1964].

______. Footing. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. (Orgs.). Sociolingüística interacional. São Paulo: Loyola, 2002 [1979].

GRIMSHAW, A. D. Conflict talk. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

GUMPERZ, J. J. On interactional sociolinguistic method. In: SARANGI, S.; ROBERTS, C. (Orgs.). Talk, work and institutional order: discourse in medical, mediation and management settings. New York: Mouton de Gruyter, 1999. p. 453-471.

______. Convenções de contextualização. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. (Orgs.). Sociolinguística Interacional. São Paulo: Edições Loyola, 2002 [1982].

HALL, S. Quem precisa da identidade? Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. In: SILVA, T. T. (Orgs.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000 [1996]. p. 103-133.

KOCH, I. G. V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2009.

MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

MAYNARD, D. W. Inside plea bargaining: the language of negociation. New York: Plenum, 1984.

MOITA LOPES, L. P. Práticas narrativas como espaço de construção das identidades sociais: uma abordagem socioconstrucionista. In: RIBEIRO, B. T.; COSTA LIMA, C.; LOPES DANTAS, M. T. (Orgs.). Narrativas, Identidades e Clínica. Rio de Janeiro: Edições IPUB/CUCA, 2001, p. 55-71.

OCHS, E. Constructing social identity: a language socialization perspective. Researchon Language and Social Interaction, v. 26, n. 3, p. 287-306, 1993.

OLIVEIRA, A. E. A prática discursiva de perguntar em situações de conflito: uma abordagem interacional. 2010. 154f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Departamento de letras, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2010.

PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica. 2. ed. Tradução de Maria Ermantina G. G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. Sistemática elementar para a organização da tomada de turnos para a conversa. Tradução de Maria Clara Castellões de Oliveira et. al. Veredas, Juiz de Fora, MG, v. 7, n. 1-2, p. 11-73, 2003 [1974].

SCHIFFRIN, D. Interactional sociolinguistics. In: SCHIFFRIN, D. Approaches to discourse. Massachussettts/Oxford: Blackwell Publischers, 1994. p. 97-136.

SHI-XU. Argumentation, explanation, and social cognition. Text: an interdisciplinary journal for the study of discourse, New York, v. 12, n. 2, p. 263-291, 1992.

______. Opinion discourse: Investigating the paradoxical nature of the text and talk of opinions. Research on Language and Social Interaction, v. 33, n. 3. p. 263-289, 2000.

THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria crítica na era dos meios de comunicação de massa. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

VUCHINICH, S. The sequential organization of closing in verbal family conflict. In: GRIMSHAW, A. Conflict talk: sociolinguistics investigation of arguments in conversation. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

YIN, Roberto K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookmam, 2001.

Downloads

Publicado

2019-08-01

Edição

Seção

Artigo