Nas ruínas do progresso: uma desleitura de Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2025.e108609

Palavras-chave:

Jorge Amado, Antropoceno, Progresso, Autenticidade , Melancolia

Resumo

O artigo sustenta que, na era do Antropoceno, o romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, pode ser alvo de uma desleitura irônica que subverte sua interpretação tradicional, tanto marxista quanto liberal. A oposição entre o Coronel Ramiro Bastos e Mundinho Falcão já não representa o famigerado embate entre tradição e modernidade, mas passa a simbolizar a tensão entre duas modalidades de vida social: uma enraizada na comunidade e no ambiente natural (o jardim), e outra orientada para a globalização econômica (a dragagem da barra). Embora equivocada, essa releitura reflete uma ambiência marcada pela melancolia e pelo desencanto, na qual o progresso econômico deixa de ser visto como um vetor de desenvolvimento e passa a ser interpretado como um agente de destruição ambiental e de erosão das formas autênticas de vida social.

Biografia do Autor

José Luís Câmara Leme, Universidade Nova de Lisboa

Concluiu o Doutoramento em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. É atualmente Presidente do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da mesma universidade. Desenvolve investigação nas áreas das Humanidades, com particular enfoque na Filosofia, na Ciência e na Política. Publicou estudos sobre o pensamento de Michel Foucault, Hannah Arendt e Emmanuel Levinas, abordando temas como o ethos da verdade, a ideia de crise e os processos de despolitização. Nos últimos anos, tem-se dedicado à reflexão sobre o lugar e o desenraizamento, explorando as problemáticas da expansão espacial e do antropocénico. É membro do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT).

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Publicado

2025-09-12

Edição

Seção

Dossiê | Antropoceno, Biopolítica e Pós-humano: novas materialidades?