CHAMADA/CALL FOR PAPERS - Dossiê temático: Mercado, mídia e consumo

2019-03-21

Como estudar os mercados no século XXI? Quais as alternativas para entender como as pessoas consomem, quais os seus gostos e como elas acessam o que desejam consumir? E quais mudanças estes processos provocam assim como são provocados na sociedade, nos modos de sociabilidade? Como se produzem as crenças difundidas via algoritmos de mídias sociais e aplicativos e que estão disponíveis para consumidores deste mercado? Em que medida essas crenças difundidas pelas mídias sociais e pelos aplicativos de relacionamento são incorporadas ou sofrem resistências dos consumidores de produtos, de serviços e de valores?

O fenômeno das mídias sociais, os mercados e seus consumidores são temas que instigam o debate de diferentes áreas e esta é a proposta deste dossiê.

Quando falamos de mercados isto implica que atores interessados em vender encontram-se com aqueles interessados em comprar e a partir do acordo de preço, qualidade e condições de entrega se realiza o ato de transferência de direitos de propriedade dos primeiros para os segundos. Este é a definição do mercado, porém este encontro é sempre povoado por relações de poder, assimetrias informacionais e necessariamente preenchido pela construção de significados sempre cambiantes.

Fala-se dos gostos e dos bens de consumo como parte constituinte dos estilos de vida – conjunto de práticas e de consumos que tendem a ser adotadas pelo mesmo grupo e que expressam relações de pertencimento a uma classe social ou o que Weber chamou a própria estilização da vida. Os agentes tendem a ter gostos relacionados com suas condições econômicas, o gosto é um marcador de classe e é um produto do mesmo princípio: o habitus. Nas últimas décadas o tema das mídias sociais são um convite ao debate da Sociologia dos Mercados: as vendas online, os algoritmos, o espaço público e privado do face book e WhatsApp respectivamente mostram como a vida online e off- line se constituem e reconstituem em processos dinâmicos, que afetam e são afetados pela vida social e pela vida digital.

O contexto nos instiga novas questões: a ameaça das vendas online sobre lojas físicas tão bem como a perda de postos de trabalho; o surgimento de novas formas de dominação no mercado de trabalho digital, muitas vezes eufemizada no discurso de flexibilidade e de empreendedorismo; a construção de novas formas de relacionamentos por meio das mídias sociais e dos aplicativos, nos quais se consomem afetos e também desafetos.

Como desdobramento, o conceito de mercado tem sido reelaborado empiricamente, assim como a ideia de consumidor. No uso efetivo das mídias sociais e dos aplicativos para realizar trocas e consumos (econômicas, afetivas, sexuais, de valores), o consumidor do século XXI tem construído novas subjetividades (habitus), em alguma medida influenciadas pelos algoritmos das mídias e dos aplicativos. Esses algoritmos, por sua vez, são produzidos por agentes e instituições historicamente datadas, que estão em disputa não apenas por valores numéricos, mas ainda e, sobretudo, pela produção de narrativas e pela definição de um sentido para o mundo social, ou seja, a doxa, no sentido aplicado por Pierre Bourdieu. Com o consumo “espontâneo” das mídias e aplicativos, corre-se o risco de performatizar valores e crenças prescritas pelos empreendedores digitais.

Portanto, a sociologia dos mercados está diante de um novo contencioso. O Dossiê busca contribuir para o entendimento desse fenômeno acolhendo trabalhos que, a partir da ideia de mercado, mídias sociais e consumidor, busquem entender as interações entre espaços públicos, privados, virtuais e corporativos; abordem as relações de trabalho e de dominação no mundo digital; se interessem pelo consumo de afetos, de discriminações e de ódios, por meio das trocas digitais; tratem os agentes e as instituições das mídias digitais como atores em permanente disputa pelo poder; considerem as novas formas de sociabilidades, sem negar a capacidade dos consumidores em ressignificarem os condicionantes virtuais. Enfim, trabalhos que contribuam para entendimentos dos agenciamentos e das resistências na construção do conceito de mercado e de consumidor do século XXI, considerando que estes estão em constante interação com as mídias sociais.

Submissões abertas para dossiê temático até 16 de Abril em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica