Compatibilizando Autopoiese e Atribuições Funcionais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1808-1711.2022.e84679

Palavras-chave:

Autopoiesis, functional attributions, causal roles, fitness, adaptation

Resumo

Ao estruturarem sua compreensão dos seres vivos enquanto máquinas autopoiéticas, Humberto Maturana e Francisco Varela reiteradamente tecem críticas à aplicação das noções de função e aptidão (fitness) então estabelecidas em teorias científicas. Tais críticas apresentam-se em duas frentes principais: por um lado, os autores afirmam que atribuições funcionais são causalmente inertes, o que as reduz a meros artifícios explicativos não operacionalizáveis; por outro, defendem que todo organismo, enquanto não for destruído em suas interações com o meio, conserva sua aptidão, sendo esta constitutiva dos seres vivos e, portanto, invariável. Contudo, como defende Gustavo Caponi, podemos compreender que atribuir funções significa nada mais do que destacar papeis causais desempenhados em determinados processos de referência, de modo que a comparação entre estruturas que desempenhem a mesma função possibilita a medição dos diferentes graus de eficiência em sua realização. No âmbito da biologia, esta estrutura conceitual traduz-se nas funções biológicas, operadas por diferentes subsistemas dos organismos e referentes à manutenção do ciclo vital, assim como na aptidão biológica, tomada como a eficiência na operação destas funções e determinante no processo evolutivo. Defendemos que a proposta de Caponi é imune a ambos os ataques dos autores chilenos, ao incorporar um conteúdo operacional e contextual para as atribuições funcionais e ao possibilitar a referência a aptidão biológica, cuja importância evolutiva pode ser aferida momento a momento. Tal abordagem mostra-se, ademais, como uma adição muito oportuna à chamada teoria da autopoiese, aparelhando-a com uma concepção bastante pertinente de atribuições funcionais.

Referências

Amundson, R. & Lauder, G.V. 1998. Function without purpose: The uses of casual rose function in evolutionary biology. In Biology and Philosophy 9: 443–469.

Brandon, R.N. 2013. A General Case for Functional Pluralism. In: P. Huneman (ed.), Functions: Selection and Mechanisms, p.97–104.

Caponi, G. 2020. The Darwinian Naturalization of Teleology. In: L. Baravalle & L. Zaterka (ed.), Life & Evolution: Latin American Essays on the History and Philosophy of Biology 26: 121-142. Switzerland: Springer.

Coddington, J. 1994. Homology and convergence in studies of adaptation. In: P. Eggleton & R. Vane-Wright (Ed.). Phylogenetics and ecology: 53-78. London: Linnean Society.

Cummins, R. 1975. Functional analysis. In Journal of Philosophy 72(20): 741-765.

Cummins, R. 2002. Neo-teleology. In A. Ariew; R. Cummins; M. Perlman (Ed.), Functions: New essays in the Philosophy of Psychology and Biology: 164–174. Oxford: OUP.

Futuyma, D. 2005. Evolution. Sunderland: Sinauer.

Hirata, C. 2010. A causalidade em Hobbes: necessidade e inteligibilidade. In Cadernos Espinosanos 23: 33-58.

Maturana, H. 1982. Aprendizaje o deriva ontogénica. Arch. Biol. Med. Exp. 15.

Maturana, H. 1988a. Ontology of observing: The biological foundations of self consciousness and the physical domain of existence. In Conference workbook for “Texts in cybernetic theory”: 1-53. California: The American Society for Cybernetics.

Maturana, H. 1988b. Reality: The search for objectivity or the quest for a compelling argument. In The Irish Journal of Psycology 9: 25-82.

Maturana, H. 2006. Veinte años después: Prefacio de Humberto Maturana R. a la segunda edición. In H. Maturana & F. Varela, De Máquinas y Seres Vivos: Autopoiesis, la organización de lo vivo. Buenos Aires: Lumen.

Maturana, H. & Mpodozis, J. 1992. Origen de las Especies por Medio de la Deriva Natural. Santiago: Editorial Universitária S.A., 1992.

Maturana, H. & Varela, F. 2006. De Máquinas y Seres Vivos: Autopoiesis, la organización de lo vivo. Buenos Aires: Lumen.

Maturana, H. & Varela, F. 2003. El árbol del conocimiento: Las bases biológicas del entendimiento humano. Buenos Aires: Lumen.

Mingers, J. 1995. Self-producting systems: Implications and Applications of Autopoiesis. New York: Plenum Press.

Moreno, A. & Mossio, M. 2015. Biological autonomy: A philosophical and theoretical enquiry. Dordrecht: Springer.

Sober, E. 1984. The nature of selection. Chicago: Chicago University Press.

Varela, F.G. et al. 1974. Autopoiesis: The organization of living systems, its characterization and a model. In BioSystems 5: 187-196. Amsterdã: North-Holland Publishing Company.

Varela, F. 1979. Principles of Biological Autonomy. New York: Elsevier North Holland.

Varela, F. 1991. Evolutionary Path Making and Natural Drift. In E. Rosch; E. Thompson; F.J. Varela. The Embodied Mind: Cognitive Science and Human Experience. Massachussets: MIT Press.

Varela, F. & Weber A. 2002. Life after Kant: Natural purposes and the autopoietic foundations of biological individuality. In Phenomenology and the Cognitive Sciences 1: 97-125. Netherlands: Kluwer Academic Publishers.

Downloads

Publicado

2022-06-07

Edição

Seção

Special Issue: Models and Modeling in the Sciences