A reprodução assistida em Cuba: traços de uma biopolítica racial
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2024v32n291295Palavras-chave:
doação de óvulos, biopolítica, raça, parentescoResumo
A fertilização in vitro por ovodoação é uma das tecnologias reprodutivas empregadas em Cuba. Mesmo que as biotecnologias reprodutivas forneçam possibilidades para confrontar a ordem simbólica que assume a raça como um elemento central da matriz de inteligibilidade do parentesco, no caso da ovodoação, os esforços do Estado cubano se concentram na vigilância das marcas fenotípicas como condição para a troca de material reprodutivo entre doadoras e receptoras de óvulos. A análise que desenvolvemos busca caracterizar essa biopolítica racial do parentesco, seus pressupostos racistas, os quais delimitam um âmbito de abjeção reprodutiva em função das misturas fenotípicas envolvidas, e as possibilidades abertas para a sua subversão. A dimensão crítica que propomos busca contribuir com os debates antirracistas na sociedade cubana atual.
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