Soberania alimentar no Machimbombo e na aldeia: gênero na perspectiva Sul-Sul

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DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n366961

Resumen

Neste artigo são alinhavados olhares das mulheres do eixo Sul-Sul, suas aproximações e
distanciamentos, a partir de categorias de análise que têm como marco a soberania e a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Argumenta-se nessa reflexão acerca da importância da análise de gênero em perspectiva interseccional em dois cenários diversos. O primeiro cenário é a partir do ponto de vista das mukheristas, nome pelo qual são chamadas as mulheres moçambicanas que fazem o comércio entre Maputo (Moçambique) e Johannesburg (África do Sul). O segundo cenário é constituído pelas mulheres da aldeia Cinta Vermelha-Jundiba, que vivem na região do semiárido, no Vale do Jequitinhonha, no Brasil. Observar-se-á como, a partir de panos moçambicanos e sementes brasileiras, essas mulheres trançam suas sobrevivências.

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Biografía del autor/a

Rita Simone Liberato, Universidade de Sergipe

Doutora em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Realizou Doutorado Sanduíche na Ryerson University, Canadá, com bolsa da CAPES. Mestre em Comunicação e Cultura pela Ryerson Universityand York University (2009). Diplomada em Canadian Journalism for Internationally Trained Writers no Sheridan College - Graduate Programs (2008). Coordenadora do Programa Cultura do Sesc Sergipe. Produtora, editora e diretora de vídeos participativos.

Laura Moutinho, Universidade de São Paulo

Professora Associada (Livre-Docente) do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAS) ambos da USP e Doutora em Antropologia Cultural pela UFRJ. Realizou Pós-Doutorado na Universidade de Princeton, é bolsista produtividade nível 1 D do CNPq, Editora da Revista de Antropologia e Coordenadora da Comissão Projeto Editorial da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).

Isabel Noronha, Universidade de Coimbra

Licenciada em Psicologia Clínica e Aconselhamento pelo Instituto Superior Politécnico Universitário (ISPU), onde também leccionou, é mestre em Saúde Mental e Clínica Social pela Universidade de Léon, na Espanha, e Doutora em Antropologia pela Unicamp. Foi membro fundador da primeira cooperativa independente de Video (“Coopimagem”) e da Associação Moçambicana de Cineastas.

Brigitte Bagnol, University of the Witwatersrand

Brigitte tem mais de 35 anos de experiência na região da África Austral (vivendo em Moçambique e na África do Sul) como antropóloga especializada em desenvolvimento, antropologia da ecologia, comunicação, sexualidade, antropologia da saúde, Uma Saùde e nutrição com lentes de gênero. Ela é uma consultora independente que trabalha na África e na Ásia para diferentes agências nacionais e internacionais para dar treinamento, desenhar ou avaliar projetos e conduzir pesquisas.

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Publicado

2019-12-20

Cómo citar

Liberato, R. S., Moutinho, L., Noronha, I., & Bagnol, B. (2019). Soberania alimentar no Machimbombo e na aldeia: gênero na perspectiva Sul-Sul. Revista Estudos Feministas, 27(3). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n366961

Número

Sección

Seção Temática Nações e Memórias em Transe: Moçambique, África do Sul e Brasil