Herança colonial confrontada: reflexões sobre África do Sul, Brasil e Estados Unidos
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n366960Resumo
Em 09 de março de 2015 centenas de estudantes iniciaram um movimento na prestigiosa
University of Cape Town (UCT) para a retirada da estátua de Cecil Rhodes, representante do colonialismo inglês no século XIX, do campus. Nesse mesmo ano, em novembro, estudantes da Princeton University ocuparam a reitoria exigindo que fosse removido de um dos prédios do campus o nome de Woodrow Wilson, defensor da segregação dos negros no sul dos Estados Unidos. Em maio desse ano, a Universidade Federal de Goiás (UFG) foi a primeira universidade do país a implementar reserva de vagas para indígenas, afrodescendentes e deficientes em cursos de pós-graduação. O objetivo deste artigo é compreender e analisar a força desses fenômenos, que são entendidos nessa reflexão como demandas decoloniais com dimensões global e local.
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