O giro decolonial no Direito Internacional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2177-7055.2022.e85235

Palavras-chave:

Decolonialidade, Terceiro Mundo, Direito Internacional, TWAIL, Colonialidade do Fazer

Resumo

O presente texto tem como objetivo central estabelecer o ponto de contato entre o pensamento decolonial e o direito internacional. Isso porque, tendo a decolonialidade emergido como contraponto à colonialidade inaugurado na modernidade, o qual elevou o Europeu/Norte Global ao centro do sistema mundial e estabeleceu uma estrutura hierarquizada, opressora e excludente a qual ainda se mantém na atualidade, ele se torna uma base teórica adequada para questionar a opressão existente no campo do Direito Internacional. Afinal, este ramo do Direito, dotado de elementos colonialistas desde a sua origem, passa a ser questionado na atualidade em razão de não apenas não ouvir o Terceiro Mundo, mas também por não responder seus anseios ou por permitir que ele colabore com a formulação de novas regras, como aponta o Movimento Terceiro Mundista de Direito Internacional. Logo, através de uma pesquisa de natureza aplicada, seguindo o método dedutivo de abordagem e a técnica da revisão bibliográfica, busca-se compreender a relação entre eles, concluindo-se, ao cabo, que a decolonialidade, expressada pelas abordagens terceiro-mundistas, é de suma importância para contestar o papel designado ao Sul Global no Direito Internacional.

Biografia do Autor

Tatiana Cardoso Squeff, Universidade Federal de Uberlândia

Doutora em Direito Internacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com período sanduíche junto à University of Ottawa. Professora permanente do Programa de Pós-graduação em Direito e professora Adjunta de Direito Internacional da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Expert brasileira nomeada pelo Ministério da Justiça/SENACON para atuar junto à Conferência de Direito Internacional Privado da Haia - HCCH, no 'Projeto Turista"; Líder da linha de pesquisa Direito Internacional Crítico (DICRÍ) do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direito Internacional (GEPDI) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisadora NETI/USP.  

Referências

ABRAMOVICH, Víctor; COURIS, Christian. Los Derechos Sociales como Derechos Exigibles. 2ª ed. Madrid: Ed. Trotta, 2014.

AFONSO, Henrique W. A questão desenvolvimentista na segunda metade do século XX: um olhar desde as TWAIL. Revista Quaestio Iuris, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, pp. 101-124, 2019. DOI: https://doi.org/10.12957/rqi.2019.38776

AFONSO, Henrique Weil. A Reconstrução Histórica da Diversidade no Direito Internacional. Rio de Jeneiro: Lúmen Júris, 2015.

AMORIM, Celso. Teerã, Ramalá e Doha: Memórias da política externa ativa e altiva. 2ª edição. São José dos Campos, SP: Benvirá, 2018.

ANGHIE, Antony. Towards a Postcolonial International Law. In: SINGH, Prabhakar; MAYER, Benoît. Critical International Law: postrealism, postcolonialism and transnationalism. New Dehli: Oxofrd Unveristy Press, 2014.

ANGHIE, Antony. Imperialism, Sovereignty, and the making of International Law. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

ANGHIE, Antony. The Evolution of International Law: colonial and postcolonial realities. In: FALK, Richard; RAJAGOPAL, Balakrishnan; STEVENS, Jacqueline [Eds.] International Law and the Third World. New York: Routledge, 2008.

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política. Brasília, n. 11, pp. 89-117, mai./ago. 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004

BALLESTRIN, Luciana M. A. Modernidade/colonialidade sem “Imperialidade”? O elo perdido do giro decolonial. Revista Dados, Rio de Janeiro, v. 60, n. 2, pp. 505-540, 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/001152582017127

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

BIANCHI, Andrea. International Law Theories: an inquiry into different ways of thinking. Oxford: Oxford University Press, 2016.

BRAGATO, Fernanda F. Para além do discurso eurocêntrico dos direitos humanos: contribuições da descolonialidade. Novos Estudos Jurídicos, v. 19, n. 1, pp. 201-230, 2014. DOI: https://doi.org/10.14210/nej.v19n1.p201-230

BRAGATO, Fernanda Frizzo. O que há de novo no constitucionalismo latino-americano: reflexões sobre o giro descolonial. In: GOMES, Ana Cecília de Barros; STRECK, Lenio Luiz; TEIXEIRA, João Paulo Allain. Descolonialidade e Constitucionalismo na América Latina. Belo Horizonte: Arraes, 2015.

CHIMNI, Bhupinder S. The Past, Present and Future of International Law: A Critical Third World Approach. Melbourne Journal of International Law, v. 8, n. 2, pp. 499-515, 2007. Disponível em: http://www5.austlii.edu.au/au/journals/MelbJIL/2007/27.html. Acesso em: 20 out. 2021.

CHIMNI, Bhupinder S. Third World Approaches to International Law: a manifesto. In: ANGHIE, Antony; CHIMNI, Bhupinder S.; OKAFOR, Obiora. The Third World and the World Order: Law, Politics and Globalizatin. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2003.

CORTE IDH. Caso Lagos del Campo vs. Peru. Sentença de 31 ago. 2017 – Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/se riec_340_esp.pdf>. Acesso em 25 jan. 2018).

ESLAVA, Luis; OBREGÓN, Liliana; URUEÑA, René. Imperialismo(s) y Derecho(s) Internacional(es): ayer y hoy. In: ANGHIE, Antony; KOSKENNIEMI, Martti; ORFORD, Anne. Imperialismo y Derecho Internacional. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2016.

GALINDO, George Rodrigo B. A volta do terceiro mundo ao direito internacional. Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional. Belo Horizonte, v. 119-124, pp. 46-68, ago./dez. 2013.

GATHII, James Thuo. TWAIL: a brief history of its origins, its decentralized network, and a tentative bibliography. Trade, Law and Development. Mandore, v. 3, n. 1, pp. 26-48, 2011. Disponível em: https://lawecommons.luc.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1203&context=facpubs. Acesso em: 20 out. 2021.

KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das Grandes Potências: a transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Campos, 1989.

MIGNOLO, Walter D. Delinking: The rhetoric of modernity, the logic of coloniality and the grammar of de-coloniality. Cultural Studies, v. 21, n. 2/3, pp. 449-514, 2007. DOI: https://doi.org/10.1080/09502380601162647

MIGNOLO, Walter. La opción descolonial. Letral. Granada, n.1, pp. 4-22, 2008.

MUTUA, Makau. What is TWAIL? Proceedings of the ASIL 94th Annual Meeting. Washington D.C., pp. 31-38, abr. 2000. DOI: https://doi.org/10.1017/S0272503700054896

OEA. Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em: 20 out. 2021.

ONU. Assembleia Geral. Resolução n. 2.758. Aprovada em 25 out. 1971. Disponível em: https://digitallibrary.un.org/record/192054. Acesso em: 20 out. 2021.

OKAFOR, Obiora C. Newness, imperialism, and international legal reform in our time: a TWAIL perspective. Osgoode Hall Law Journal, Toronto, v. 43, n. 1, p. 171-191, 2005. Disponível em: http://digitalcommons.osgoode.yorku.ca/ohlj/vol43/iss1/7. Acesso em: 20 out. 2021.

ORFORD, Anne. The past as law or history? the relevance of imperialism for modern international law. IILJ Working Paper 2: History and Theory of International Law Series, pp. 1-17, jun. 2002. Disponível em: https://www.iilj.org/publications/the-past-as-law-or-history-the-relevance-of-imperialism-for-modern-international-law-2/. Acesso em: 20 out. 2021.

PAHUJA, Sundhya. The postcoloniality of international law. Harvard International Law Journal, v. 46, n. 2, pp. 459- 469, 2005.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade, Poder, Globalização e Democracia. Novos Rumos, a. 17, n. 37, pp. 4-28, 2002.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

RAJAGOPAL, Balakrishnan. Counter-Hegemonic International Law: Rethinking human rights and development as a third world strategy. Third World Quarterly. London, v. 27, n. 5, pp. 467-783, 2006. DOI: https://doi.org/10.1080/01436590600780078

RAJAGOPAL, Balakrishnan. International Law from Below: development, social movements and Third World Resistance. Cambridge: Cambridge University Press, 2003

SALMÓN, Elizabeth. Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. Bogotá: Editorial Universidad del Rosario, 2011.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução a uma Ciência Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.

SCIPPA, Victória N.; SQUEFF, Tatiana Cardoso. A Imprescindível Adoção da Responsabilidade ao Proteger no Direito Internacional: debates a partir da guerra da Líbia. In: JUBILUT, Liliana; LOPES, Rachel de O.; GARCEZ, Gabriela S.; FERNANDES, Ananda P. (Org.). Direitos Humanos e vulnerabilidade e o direito humanitário. Boa Vista: Ed. UFRR, 2019, pp. 534-574

SEITENFUS, Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.

SEGATO, Rita Laura. Que cada pueblo teja los hijos de su historia: el pluralismo jurídico en diálogo didáctico con legisladores. In: CHENAUT, Victoria; GÓMEZ, Magdalena; ORTIZ, Héctor; SIERRA, María Teresa (Coord.). Justicia y Diversidad en América Latina: pueblos indígenas ante la globalización. Ecuador/Ciudad de México: FLACSO/CIESAS, 2011.

SEGATO, Rita Laura. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-Cadernos CES. Coimbra, v. 18, pp. 106-131, 2002. DOI: https://doi.org/10.4000/eces.1533

SKOUTERIS, Neil. Fin de NAIL: New Approaches to International Law and its Impact on the Contemporary Legal Scholarship. Leiden Journal of International Law. Leiden, v. 10, n. 3, pp. 415-420, 1997.

SOLER, M. Elisenda Riera. El derecho a la alimentación en el sistema universal de protección de los derechos humanos. In: MARTÍN, Ana Gemma L.; CÁRDENAS, Carlos Maurício L.; MEDINA, Manuel Alberto (Eds.). Responsabilidad Internacional y del Estado: encrucijada entre sistemas para la protección de los derechos humanos. Bogotá: Editorial Universidad del Rosario, 2015.

SQUEFF, Tatiana Cardoso. Overcoming the “coloniality of doing” in international law: soft law as a decolonial tool. Revista Direito GV, São Paulo, v. 38, n. 3, e2127, 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/2317-6172202127

SQUEFF, Tatiana Cardoso. Cross fertilization as a neocolonial tool? IMpression deriving from the artavia murilo vs. Costa Rica case before the Inter-American Court of Human Rights. Revista da Faculdade de Direito do Sul de Minas, Pouso Alegre, Edição Especial: 107-131, 2019b. Disponível em: https://revista.fdsm.edu.br/index.php/revistafdsm/article/view/33. Acesso em: 20 out. 2021.

SQUEFF, Tatiana Cardoso. Overcoming the coloniality of knowledge in international law: the case of enviromental refugees. Revista Direito das Políticas Públicas, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, 2019. Disponível em: http://seer.unirio.br/index.php/rdpp/article/view/9395. Acesso em: 20 out. 2021.

SQUEFF, Tatiana Cardoso; DAMASCENO, Gabriel. Descolonizar o direito internacional em prol de múltiplas miradas: entre desmistificações e ressignificações. In: MANTELLI, Gabriel; MASCARO, Laura. Direitos Humanos em Múltiplas Miradas. São Paulo: OAB/ESA, 2021, p. 271-285

SQUEFF, Tatiana Cardoso; GOMES, Joséli Fiorin. Corte Interamericana de Direitos Humanos para Americanos: os perigos do uso da fertilização cruzada entre as cortes europeia e americana. In: GOMES, Eduardo Biacchi; SQUEFF, Tatiana de A. F. R. Cardoso; BRANDÃO, Clarissa Maria B. (Orgs.). Direitos Humanos, Feminismo e Decolonização na América Latina. Rio de Janeiro: Ed. Multifoco, 2017.

WATSON, Adam. The evolution of International Society: a comparative historical analysis. New York: Routledge, 1992.

Downloads

Publicado

2023-02-01

Como Citar

CARDOSO SQUEFF, Tatiana. O giro decolonial no Direito Internacional . Seqüência Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, v. 43, n. 91, p. 1–24, 2023. DOI: 10.5007/2177-7055.2022.e85235. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/85235. Acesso em: 19 abr. 2024.