Diálogo institucional e razão pública: revisitando o debate entre John Rawls e Jeremy Waldron

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2177-7055.2022.e85430

Palavras-chave:

Diálogo Institucional, Razão Pública, John Rawls, Jeremy Waldron.

Resumo

O presente artigo investiga como a razão pública pode contribuir para o diálogo institucional na resolução de desacordos de moralidade política. Parte-se da premissa de que o diálogo institucional promove igualdade entre as instituições participantes, não estabelecendo o protagonismo de um dos Poderes. Como metodologia, realiza-se o estudo bibliográfico, especialmente de dois autores que discordam profundamente sobre o conteúdo e o âmbito de aplicação da razão pública: John Rawls, o qual defende um papel especial para a Suprema Corte; e Jeremy Waldron, defensor do protagonismo legislativo na resolução de desacordos morais. Analisando os argumentos dos autores, é possível ressaltar duas conclusões que contribuem para um diálogo institucional isonômico: primeiro, que as Cortes Constitucionais, apesar de sua especial contribuição para o diálogo institucional, não possuem acesso exclusivo à razão pública, não servindo como referencial superior aos outros Poderes; segundo, que apesar da argumentação constitucional ser um elemento importante da razão pública, existem outros argumentos igualmente relevantes que podem ser melhor examinados pelo Legislativo e pelo Executivo.

Biografia do Autor

Matheus Casimiro , Centro Universitário Christus (Unichristus)

Professor da Unichristus. Doutorando em Direito Público pela UERJ. Mestre e Graduado em Direito pela UFC. Especialista em Filosofia e Teoria do Direito pela PUC-MG. Fundador e coordenador-geral do Núcleo de Pesquisa em Interpretação e Decisão Judicial (NUPID). 

Rodrigo Brandão , Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor-Adjunto de Direito Constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutor e Mestre em Direito Público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Procurador do Município do Rio de Janeiro.

Referências

ALEXANDER, Larry; SCHAUER, Frederick. Defending judicial supremacy: a reply. Constitutional Commentary, v. 17, p. 455-482, 2000.

ANDRÉA, Gianfranco Faggin Mastro; FRANCISCO, José Carlos; GUNDIM, Wagner Wilson Deiró. Diálogo institucional e democracia: das experiências do Canadá e da África do Sul para o Brasil. Seqüência: estudos jurídicos e políticos, v. 42, n. 88, p. 1-30, 2021.

BARROSO, Luís Roberto. A judicialização da vida e o papel do Supremo Tribunal Federal. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

BATEUP, Christine. The Dialogic Promise - Assessing the Normative Potential of Theories of Constitutional Dialogue. Brooklyn Law Review, v. 71, p. 1109-1180, 2005.

BONFIM, Vinícius Silva; PEDRON, Flávio Quinaud. A razão pública conforme John Rawls e a construção legítima do provimento jurisdicional no STF. Revista de Informação Legislativa, v. 54, n. 214, p. 203-223, 2017.

BRANDÃO, Rodrigo. Diálogos constitucionais nos Estados Unidos e no Brasil. Revista Jurídica Luso-Brasileira, v. 1, n. 4, p. 1443-1490, 2015.

BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia Judicial v. Diálogos Constitucionais: a quem cabe a última palavra sobre o sentido da Constituição. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.

CAMARGO, Eduardo Aidê Bueno de. O Judiciário e o aborto: como os juízes devem lidar com o desacordo moral razoável no conflito entre direitos fundamentais?. 2018. 300 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil Constitucional; Direito da Cidade; Direito Internacional e Integração Econômica; Direi) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

DIXON, Rosalind. Creating dialogue about socioeconomic rights: Strong-form versus weak-form judicial review revisited. International Journal of Constitutional Law, v. 5, n. 3, p. 391-418, 2007.

DIXON, Rosalind; GINSBURG, Tom. Constitutions as political insurance: variants and limits. In: DELANEY, Erin F..; DIXON, Rosalind (Org.). Comparative Judicial Review. Northampton: Edward Elgar Publishing, 2018. p. 36-59.

DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. Tradução: Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

EISGRUBER, Christopher L.. Constitutional Self-Government. Cambridge: Harvard University Press, 2001.

FRIEDMAN, Barry. The politics of judicial review. Texas Law Review, v. 84, p. 257-337, 2005.

GARGARELLA, Roberto. As teorias da justiça depois de Rawls: um breve manual de filosofia política. Tradução: Alonso Reis Freire. Martins Fontes: São Paulo, 2008.

GARGARELLA, Roberto. The majoritarian reading of the Rule of Law. In: PRZEWORSKI, Adam; MARAVALL, José María (Org.) . Democracy and the rule of law. New York: Cambridge Press, 2006, p. 147-167.

HIRSCHL, Ran. The political origins of the new constitutionalism. Indiana Journal of Global Legal Studies, v. 11, n. 1, p. 71-108, 2004.

KAVANAGH, Aileen. Participation and judicial review: a reply to Jeremy Waldron. Law and Philosophy, v. 22, n. 5, p. 451-486, 2003.

KRAMER, Larry D.. The People Themselves: Popular Constitutionalism and Judicial Review. New York: Oxford University Press, 2004.

LISTER, Andrew. Public Reason and Political Community. London: Bloomsburry Academic, 2013.

LOPES FILHO, Juraci Mourão; MAIA, Isabelly Cysne Augusto; SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes. Os desacordos de moralidade política entre executivo e judiciário: uma análise do recurso extraordinário nº 657.718/MG. Revista Eurolatinoamericana de Derecho Administrativo, vol. 7, n. 1, p. 207-230, ene./jun., 2020.

MCMAHON, Christopher. Reasonable Disagreement: A Theory of Political Morality. New York: Cambridge University Press, 2009

MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011.

NEVES, Marcelo. Entre Hidra e Hércules: princípios e regras constitucionais. 2ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.

OTTER, Ronald C. Den. The Importance of Constitutional Public Reason. In: LANGVATN, Silje A.; KUMM, Mattias; SADURSKI, Wojciech (Org.). Public Reason and Courts. New York: Cambridge University Pres, 2020. p. 66-89.

POST, Robert; SIEGEL, Reva. Roe rage: democratic constitutionalism and backlash. Harvard Civil Rights-Civil Liberties Law Review, v. 42, p. 373-433, 2007.

QUONG, Jonathan. Public Reason. In: ZALTA, Edward N. (Ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2017. Disponível em: https://plato.stanford.edu/archives/win2017/entries/public-reason/. Acesso em: 17 nov. 2021.

RAWLS, John. O liberalismo político. Tradução: Dinah de Abreu Azevedo. 2ª ed. Ática: São Paulo, 2000a.

RAWLS, John. The idea of public reason revisited. The University of Chicago Law Review, v. 64, n. 3, p. 765-807, 1997.

RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução: Almiro Piseta e Lenita M. R. Esteves. Martins Fontes: São Paulo, 2000b.

RAZ, Joseph. Practical Reason and Norms. New York: Oxford University Press, 1999.

ROACH, Kent. Dialogic judicial review and its critics. Supreme Court Law Review (2nd), v. 23, p. 49-104, 2004.

SADURSKI, Wojciech. Judicial Review and Public Reason. In: DELANEY, Erin F..; DIXON, Rosalind (Org.). Comparative Judicial Review. Northampton: Edward Elgar Publishing, 2018. p. 337-356.

SCHAUER, Frederick. Judicial supremacy and the modest constitution. California Law Review, v. 92, p. 1045-1067, 2004.

SCHWARTZMAN, Micah. The completeness of public reason. Politics, Philosophy & Economics, v. 3, n. 2, p. 191-220, 2004.

SCOTT, Joanne; STURM, Susan. Courts as catalysts: re-thinking the judicial role in new governance. Columbia Journal of European Law, v. 13, p. 565-594, 2006.

SILVA, Virgílio Afonso da. Beyond Europe and the United States: the wide world of judicial review. In: DELANEY, Erin F.; DIXON, Rosalind (Org.). Comparative Judicial Review, Northampton: Edward Elgar Publishing. p. 318-336.

SILVA, Virgílio Afonso da. O STF e o controle de constitucionalidade: deliberação, diálogo e razão pública. Revista de direito administrativo, v. 250, p. 197-227, 2009.

WALDRON, Jeremy. A dignidade da legislação. Tradução: Luís Carlos Borges. São Paulos: Martins Fontes, 2003.

WALDRON, Jeremy. A essência da oposição ao judicial review. In: BIGONHA, Antonio Carlos Alpino; MOREIRA, Luiz (Org.). Legitimidade da Jurisdição Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2010. p. 93-157.

WALDRON, Jeremy. Judges as moral reasoners. International Journal of Constitutional Law, v. 7, n. 1, p. 2-24, 2009.

WALDRON, Jeremy. Law and Disagreement. Oxford: Oxford University Press, 1999.

WALDRON, Jeremy. Public Reason and Justification in the Courtroom. Journal of Law, Philosophy and Culture, v. 1, n. 1, p. 107-134, 2007.

ZURN, Christopher F.. Constitutional Interpretation and Public Reason: Seductive Disanalogies. In: LANGVATN, Silje A.; KUMM, Mattias; SADURSKI, Wojciech (Org.). Public Reason and Courts. New York: Cambridge University Pres, 2020. p. 323-349.

Downloads

Publicado

2023-02-01

Como Citar

CASIMIRO , Matheus; BRANDÃO , Rodrigo. Diálogo institucional e razão pública: revisitando o debate entre John Rawls e Jeremy Waldron. Seqüência Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, v. 43, n. 91, p. 1–31, 2023. DOI: 10.5007/2177-7055.2022.e85430. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/85430. Acesso em: 26 abr. 2024.