Traduzindo os recursos sonoros do livro I da Utopia para o português do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35n2p211Resumo
O texto latino da Utopia de Thomas Morus está repleto de recursos sonoro-semânticos, poucos deles levados em conta nas versões da obra para outros idiomas. Ainda que raramente observados pelos tradutores, esses recursos são importantes, afinal como observou Edward Surtz (1967), se o modo como um escritor se exprime é moldado pelas ideias, essas também são moldadas pelas ferramentas da expressão. Essa indissociabilidade foi percebida já no século XVI, como prova a atitude do humanista Juan Vives, que, em 1523, recomendava a leitura da Utopia por duas razões: pelo uso da língua e pelo assunto. E, no entanto, um dos aspectos menos trabalhados pelos críticos do libellus aureus é, justamente a especificidade da língua em que ele foi escrito, seu estilo, suas particularidades. Dentre eles, está a musicalidade, ou, nas palavras de André Prevost, os “aspectos físicos” da linguagem moreana, suas “rimas e ritmos” (cf. André Prévost, 1978). Esta comunicação pretende apreciar algumas “figures of sound” (a expressão é de Surtz) do livro I da Utopia. Para tanto, vamos cotejar as passagens latinas com duas traduções brasileiras, a última tradução portuguesa e minha própria versão.
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