O comentário ensaístico como tradução: o exemplo de Mon cœur mis à nu, de Charles Baudelaire
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2018v38nespp135Resumo
Ao traduzir o projeto póstumo Mon cœur mis à nu, de Charles Baudelaire, a partir dos seus muitos inacabamentos, propus um espaço de reescrita em que três traduções possíveis operam simultaneamente, cada qual colocando em cena uma dimensão específica dos seus inacabamentos: marcas matéricas do manuscrito; inexistência de uma ordenação definitiva; rede de historicidades das edições e traduções anteriores. Neste ensaio, ocupo-me especificamente do caso da (não) ordenação de Mon cœur mis à nu, procurando mostrar como a estratégia do comentário-ensaio como tradução me permitiu estabelecer uma relação com Mon cœur mis à nu que nem recorre a soluções apressadas (ordenação randômica digital, edição em folhas avulsas etc.) nem se limita a uma inviável restituição linear e cronológica dos manuscritos. Ao percorrer o texto ensaisticamente, num tipo específico de comentário que Antoine Berman chegou a esboçar teoricamente no seu também inacabado L’âge de la traduction, produz-se uma tradução possível desse texto, desenhada a partir de linhas de força que, atravessando a leitura e a escrita ensaística, talham, estilhaçam e rearranjam o original. Para diferenciar o comentário ensaístico de tradução da nota de tradutor, também é brevemente exposto o trabalho de Ana Cristina César sobre o conto Bliss, de Katherine Mansfield.
Referências
BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 1983.
____________________. Correspondance II. Paris: Gallimard, 1973.
____________________. Mon cœur mis à nu. Édition diplomatique établie par Claude Pichois. Genève: Librairie Droz, 2001.
BENHAMOU, Françoise. Le livre à l’heure numérique. Paris: Seuil, 2014.
BERMAN, Antoine. L’âge de la traduction. Paris: PUV, 1999.
BLIN, Georges; CRÉPET, Jacques. Introduction: notes, éclaircissements et commentaires critiques. BAUDELAIRE, Charles. Journaux intimes: Fusées, Mon cœur mis à nu, Carnet. Paris: José Corti, 1949.
CESAR, Ana Cristina. O conto Bliss anotado. CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: IMS e Editora Ática, 1999.
CRÉPET, Eugène. Journaux intimes: Fusées; Mon cœur mis à nu. BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres posthumes. Paris: Maison Quantin, 1887, p. 67-70.
FALEIROS, Álvaro; MATTOS, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Copetti Editor, 2017.
GALÍNDEZ, Verónica. Descontinuidade e leitura de manuscritos. Revista Manuscrítica, São Paulo, n. 16, USP, p. 10-24, 2009.
GIMÉNEZ, Diego. El nuevo Livro do desassossego de Jerónimo Pizarro. MatLit, [SL] v. 1, n. 2, p. 165-171, 2013.
GUYAUX, André. Préface. BAUDELAIRE, Charles. Fusées. Meu coração nu e cru. La Belgique Déshabillée. Paris: Gallimard, 2011 [1986].
KOMESU, Fabiana. Pensar em hipertexto. ARAÚJO, J. C.; BIASI-RODRIGUES, B. (orgs.) Interação na internet: novas formas de usar a linguagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p. 87-108.
MATTOS, Thiago. (Re)traduções brasileiras de Meu coração nu e cru, de Charles Baudelaire. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
PICHOIS, Claude. Notice. BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 1983.
_______________. Introduction. BAUDELAIRE, Charles. Mon cœur mis à nu. Édition diplomatique établie par Claude Pichois. Genève: Librairie Droz, 2001.
POE, Edgar A. Contes, essais, poèmes. Tradução de Jean-Marie Maguin e Claude Richard. Paris: Éd. Robert Laffont, coll. Bouquins, 1995.
POSSENTI, Sírio. Notas um pouco céticas sobre hipertexto e construção de sentido. Os limites do discurso: ensaios sobre discurso e sujeito. Curitiba: Criar, 2002, p. 205-225.
RIGEADE, Anne-Laure. Vers une pensée du texte traduit: une lecture de Pnine et Feu pâle et d’un extrait des deux traductions françaises de Ulysses. Palimpsestes, Paris, n. 20, 2007.
SARDIN, Pascale. De la note du traducteur comme commentaire: entre texte, paratexte et pretexte. Palimpsestes, Paris, n. 20, 2007.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro, com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista).

















































