Plurilinguismo e pluridiscursividade: caminhos decoloniais para a educação escolar indígena

Autores

  • Vanessa Silva Sagica Universidade Federal de Santa Catarina
  • Beatriz Oliveira Universidade Federal de Santa Catarina | EIEF Tekoá Marangatu

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2022.e83836

Palavras-chave:

Educação escolar indígena, Línguas indígenas, Povos originários, Políticas linguísticas educacionais

Resumo

Neste artigo propomos uma reflexão sobre a educação escolar indígena, a preservação das línguas originárias e os documentos oficiais que asseguram às comunidades indígenas uma educação escolar diferenciada, especialmente por percebermos que tais documentos não garantem às comunidades indígenas aportes didáticos que escapem às prerrogativas estritamente culturais ou integracionistas com sentido salvacionista colonial. Para tanto, realizamos uma análise bibliográfica e um levantamento documental de dois extremos do Brasil, o Estado de Roraima (Norte do país) e de Santa Catarina (Sul do país), no que tange aos documentos normativos sobre educação escolar indígena, a fim de discutir sobre como é possível, a partir dos documentos oficiais que amparam e legalizam a educação escolar indígena, (re)criarmos novos discursos que possam incluir a pluralidade linguística e discursiva dos povos originários, considerando tais documentos como instrumentos de políticas linguísticas educacionais.

Biografia do Autor

Vanessa Silva Sagica, Universidade Federal de Santa Catarina

Prof.ª de Língua Espanhola, Escritora, Tradutora (Port/Esp/Port). Doutoranda em Linguística da Área de concentração: Sociolinguística e Dialetologia/Linha de pesquisa: Política linguística da Pós-graduação em Linguística-UFSC; Mestre em Ciências da Linguagem -UNISUL/SC, Graduada em Letras Espanhol/Português pela Universidade Federal de Roraima. Especialista em Gestão Escolar pelo Instituto Federal de Santa Catarina. Membro dos grupos de pesquisa: - Políticas Linguísticas Críticas e Direitos linguísticos da UFSC; - Estudos em artes (GRUAS) da UNISUL; Integra a Equipe Executiva do Grupo de Trabalho Nacional da Década Internacional das Línguas Indígenas no Brasil (Responsável pela comunicação, divulgação de conteúdo nas mídias sociais, organização dos eventos realizados pelos GTs da Década e pela elaboração de materiais e docs. digitais do GT Nacional); Membro do grupo de indígenas que administra as redes sociais de literatura indígena em diferentes estados do Brasil, é uma das administradoras do perfil do @literaturaindigenarr que divulga a literatura de autoria indígena do estado de Roraima. Membro e Coordenadora do Projeto A literatura das Mulheres Indígenas da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil/SC Idealizadora e organizadora do projeto literário Sementes-Palavras que tem o objetivo de promover a Literatura Indígena nas instituições de ensino por meio de doações e aquisição de obras com recursos advindos da realização de cursos de línguas espanhola, palestras e/ ou oficinas de literatura indígenas. Suas pesquisas, produções e estudos estão relacionados a: Direitos Linguísticos - Língua materna - Memória Cultura Identidade Oralidade - Literatura indígena Tradução Ensino de línguas dentro de um contexto Multilíngue - Comunicação e divulgação de eventos em mídias digitais.

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Publicado

2022-12-19