O homem-professor na Educação Infantil e a produção da profissionalidade
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2020v22n42p558Resumo
Neste artigo, a partir da proposição de uma lei que limita a atuação de homens na Educação Infantil no Estado de São Paulo, problematizamos a figura do homem-professor nesta etapa da educação. Sustentados nos Estudos de Gênero, de vertente pós-estruturalista, nos cabe considerar que nossas instituições educativas são atravessadas por scripts de gênero que dimensionam nosso olhar e conduzem a conduta dos sujeitos. Este texto foi produzido através do diálogo entre duas pesquisas produzidas em momentos distintos (BELLO, 2006; ZANETTE, 2018), mas que tinham como corpus a primeira etapa da Educação básica. As metodologias utilizadas foram a observação participante em uma turma da Educação Infantil e grupos focais com docentes, respectivamente. Depreendeu-se deste diálogo que o estranhamento da presença do homem-professor na Educação Infantil é ratificado pelo pânico moral que vêm se produzindo ao longo do tempo. Pânico este que traduz o sujeito masculino como portador de uma sexualidade incontrolável, consequentemente, perigosa. Contudo, percebe-se que estes obstáculos podem ser encarados como elementos que contribuem para a constituição de uma profissionalidade masculina que atua junto a diferentes instituições com crianças.
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