A presença masculina de professores de Educação Física na Educação Infantil: da inserção à gestão escolar
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2020v22n42p453Resumo
Historicamente, a Educação Infantil vem se constituindo como um espaço de atuação profissional predominantemente feminino. A Educação Física, por sua vez, tem se mostrado como uma área do conhecimento que possui um número considerável de homens lecionando na primeira etapa da Educação Básica. O objetivo deste artigo é analisar, do ponto de vista das narrativas de professores dessa área, diretores e ex-diretores de Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Vitória/ES, como as questões de gênero impactaram na inserção, no reconhecimento profissional e na chegada à função de diretor escolar. Adota-se a Pesquisa Descritivo-interpretativa, com dados produzidos por meio de entrevistas semiestruturadas com cinco professores de Educação Física que são ou foram diretores de CMEIs em Vitória/ES. Os dados, analisados em diálogo com a literatura que focaliza as questões de gênero nas relações sociais e educacionais, apontam que a divisão sexual do trabalho e o machismo estrutural são fatores preponderantes para a afirmação e a consolidação dos professores na Educação Infantil, impactando, segundo os entrevistados, nas representações femininas ao considerarem os homens mais aptos a exercerem os cargos de direção nas instituições infantis.
Referências
ANDRADE FILHO, Nelson Figueiredo de; LARGURA, João Marcos Soares Nascimento; SARNÁGLIA, Thiago Queiroz. A presença de homens que trabalham na Educação Infantil do município de Vitória: desafios e perspectivas cotidianas. In: MELLO, André da Silva; SANTOS, Wagner; ANDRADE FILHO, Nelson Figueiredo de; POZZATTI, Mariana (org.). Pibid: formação docente e práticas pedagógicas em Educação Física. Curitiba: APPRIS, 2016. p. 77-93.
ARCE, Alessandra. Documentação oficial e o mito da educadora nata na educação infantil. Cadernos de pesquisa, São Paulo, n. 113, p.167-184, jul. 2001.
AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos: reações de gênero na escola. São Paulo: Contexto, 2012.
BELO, Raquel Pereira; CAMINO, Leoncio. Trabalho e gênero: elaborações discursivas sobre os papéis profissionais. Cadernos de psicologia social do trabalho, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 271-286, dez. 2012.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 26 ago. 2020.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 1996.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Resolução CNE/CES n. 7, de 31 de março de 2004: institui as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em educação física, em nível superior de graduação plena. Brasília, 2004.
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. In: BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. p. 80-101.
CAMPOS, Maria Malta et al. Profissionais de creche. Cadernos do Cedes, Campinas/SP, n. 9, p. 39-66, 1991.
CHAMON, Magda. Trajetória de feminização do magistério do magistério: ambiguidades e conflitos. Belo Horizonte: Autêntica/FHC-FUMEC, 2005.
CONNELL, Robert William; MESSERSCHMIDT, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 241-282, jan./abr. 2013.
DEVIDE, Fabiano Pries et al. Estudos de gênero na Educação Física Brasileira. Motriz, Rio Claro/SP, v. 17 n. 1 p. 93-103, jan./mar. 2011.
DRIESSEN, Geert. The feminization of primary education: effects of theachers’ sex on pupil achievement, attitudes and behaviour. International Review of Education, n. 53, p. 183-203, 2007.
GARIGLIO, José Angelo; REIS, Carolina Guimarães. A dupla vulnerabilidade profissional de professores de Educação Física iniciantes. Currículo sem Fronteiras, v. 17, n. 2, p. 398-432, maio/ago. 2017.
GARMS, Gilza Maria Zauhy; MARIN, Fátima Aparecida Dias Gomes. A qualidade do cuidar e educar na educação infantil: ressignificação das concepções teóricas dos profissionais. In: II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores. Anais... Águas de Lindóia, 2014. p. 5062-5074. Disponível em: http://200.145.6.217/proceedings_arquivos/ArtigosCongressoEducadores/448.pdf. Acesso em: 02 jul. 2020.
GOMIDES, Wagner Luiz Tavares. Transitando na fronteira: a inserção de homens na docência da Educação Infantil. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Viçosa/MG, 2014.
GONÇALVES, Josiane Peres et al. Relações de Gênero e Representações Sociais Relativas à Atuação de Homens Professores de Crianças. Revista Formação Docente, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p. 36-54, jan./jun. 2015.
HIRATA, Helena; KERGOAT, Danièle. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 132, p. 595-609, set./dez. 2007.
HYPOLITO, Álvaro Moreira. Trabalho Docente, Classe Social e Relações de Gênero. Campinas/SP: Editora Papirus, 1997.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopse estatística da Educação Básica 2017. Brasília: Inep, 2018. Disponível em: http://inep.gov.br/ sinopses-estatisticas-da-educacao-basica. Acesso em: 15 jun. 2020.
KUHLMANN JR., Moysés. História da Educação Brasileira. Revista Brasileira de Educação, n. 14, p. 5-18, maio/ago. 2000.
LOURO, Guacira Lopes. Magistério de 1º Grau: um trabalho de mulher. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 14, n. 2, p.31-39, jul./dez. 1989.
MARTINS, Rodrigo Lema Del Rio. O lugar da Educação Física na Educação Infantil. 2018. Tese (Doutorado em Educação Física) – Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES, 2018.
MARTINS, Rodrigo Lema Del Rio; MELLO, André da Silva. Perfil profissional dos professores de educação física que atuam na educação infantil pública das capitais brasileiras. Revista Humanidades e Inovação, Palmas, v. 6, n. 15, p. 160-172, 2019.
MELLO, André da Silva et al. Educação física na educação infantil: do isolamento pedagógico à articulação com outras áreas do conhecimento. Kinesis, Santa Maria/RS, v. 36, n. 3, p. 15-27, set./dez. 2018.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Laços perigosos entre machismo e violência. Ciências & Saúde Coletiva, v. 1, n. 10, p. 18-34, 2005.
MOLINA NETO, Vicente. A prática dos professores de educação física das escolas públicas de Porto Alegre. Movimento, Porto Alegre, Ano V, n. 9, p. 31-46, 1998.
MONTEIRO, Mariana Kubilius; ALTMANN, Helena. Homens na educação infantil: olhares de suspeita e tentativas de segregação. Cadernos de pesquisa, São Paulo, v. 44, n. 153, p. 720-741, jul./set. 2014.
MOSCHKOVICH, Marília Barbara Fernandes Garcia. “Machismo estrutural”, oculto e terrível. Portal de notícias Sul 21, 2013. Disponível em: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2013/11/machismo-estrutural-oculto-e-terrivel-por-marilia-moschkovich/. Acesso em: 26 maio 2020.
NOGUEIRA, Sonia Terezinha Oliveira; BRASIL, Katia Tarouquella Rodrigues. O lugar do reconhecimento no trabalho docente. Revista EXITUS, Santarém/PA, v. 3, n. 2, p. 93-107, jul./dez. 2013.
OLIVEIRA, Márcio de; MAIO, Eliane Rose. “Você tentou fechar as pernas?” – a cultura machista impregnada nas práticas sociais. Polêmica, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 1-18, jul./set. 2016.
RAMOS, Joaquim. Gênero na Educação Infantil: relações (im)possíveis para professores homens. Jundiaí: Paco Editorial, 2017.
ROCHA, Maria Custódia Jorge da; BRABO, Tânia Suely Antonelli Marcelino. Escola, gênero e gestão em ação: um estudo de caso em Portugal. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 31, n. 2, p. 391-407, maio/ago. 2015.
ROCHA, Maria Custódia Jorge da. Perspectivas organizacionais sobre a liderança feminina em contexto educativo. In: COSTA, Jorge Adelino; MENDES, António Neto; VENTURA, Alexandre (org.). Liderança e estratégia nas organizações escolares. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2000. p. 109-118.
SAYÃO, Deborah Thomé. Educação Física e educação infantil: riscos, conflitos e controvérsias. Motrivivência, Florianópolis, v. 11, n. 13, p. 221-238, nov. 1999.
SAYÃO, Deborah Thomé. Relações de gênero e trabalho docente na Educação Infantil: um estudo de professores em creches. 2005. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2005.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Trad. Guacira Lopes Louro, 1998.
SIMÕES, Joaquim; AMÂNCIO, Lígia. Gênero e enfermagem: um estudo sobre a minoria masculina. Sociologia, Problemas e Práticas, Oeiras-Portugal, n. 44, p. 71-81, jan./abr. 2004.
SOUZA, Andréa Rodrigues de; MELO, José Carlos de. Educadora ou tia: os reflexos da feminização do magistério na construção da identidade profissional de professores(as) da educação infantil. Inter-Ação, Goiânia, v. 43, n. 3, p. 697-709, set./dez. 2018.
SOUZA, Fernando Torres Otero de. Educação Física e gestão escolar: orientações legais, produções acadêmicas, formação docente e representações sociais. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES, 2019.
STEMMER, Márcia Regina Goulart da Silva. Reflexões sobre o papel e a formação do professor de Educação Infantil. In: PEIXE, Débora Cristina de Sampaio; NEIVERTH, Thaisa. Creches Catarinenses: experiências de formação e práticas pedagógicas. Florianópolis: UFSC/CED/NUP, 2014.
THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack. K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
VIANNA, Cláudia Pereira. A feminização do magistério na educação básica e os desafios para a prática e a identidade coletiva docente. In: YANNOULAS, Silvia Cristina. (org.). Trabalhadoras: análise da feminização das profissões e ocupações. Brasília: Abaré, 2013. p. 159-180.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais referentes aos artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.