Difusão do conhecimento científico sobre evolução biológica

a circulação de ideias promovida pela mídia digital

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1982-5153.2023.e86432

Palavras-chave:

Ciência popular, Circulação de ideias, Divulgação científica, Ludwik Fleck

Resumo

No presente trabalho analisamos comentários de internautas emitidos em matérias de divulgação científica relacionadas a temas de evolução orgânica. O objetivo específico foi diagnosticar limites conceituais relacionados ao entendimento e aceitação da teoria evolutiva. Foram definidas três categorias organizacionais para a classificação dos comentários coletados: (i) concepções criacionistas cristãs (24 comentários); (ii) concepções transformacionistas Lamarckistas (15 comentários), e (iii) concepções que estão de acordo com a teoria vigente (01 comentário). Com base nos resultados, buscamos fazer uma análise epistemológica com base em Ludwik Fleck (1896-1961), articulando a divulgação científica e a circulação de ideias. Identificamos diversos limites conceituais nos comentários emitidos pelos internautas. Discutimos três aspectos fundamentados na epistemologia de Fleck que parecem ser fundamentais para uma divulgação científica socialmente comprometida: ciência como construção humana sócio-histórica e sistematizada; ciência como processo conflituoso, mutável e não produto definitivo e; ciência como atividade intra e intercoletiva envolvendo diferentes concepções e valores.

Biografia do Autor

Winis Henrique Rodrigues de Andrade, Universidade Federal de São Carlos

Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos, campus de Sorocaba. Foi bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID na temática Interdisciplinaridade. Possui experiência nas áreas de pesquisa em Educação, Ensino de Ciências, Educação Ambiental, Divulgação Científica e Educação Popular. Atualmente participa de grupos de estudos relacionados à Educação. Foi bolsista no projeto de extensão Cursinho Popular Educação e Cidadania da Universidade Federal de São Carlos campus Sorocaba onde atua hoje como professor voluntário.

Antônio Fernando Gouvêa Silva, Universidade Federal de São Carlos

Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1980) e Doutor em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Atuou como professor no Ensino Fundamental e Médio e no Ensino Superior em universidades públicas e privadas. Presta serviços de assessoria a Secretarias de Educação na implementação de movimentos de reorientação curricular fundamentados em pedagogias críticas. Professor de Ensino Superior, Graduação e Pós-Graduação, na Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba e na Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua como pesquisador nas áreas de Currículo Crítico, Políticas Curriculares e Metodologia do Ensino de Ciências Naturais e Biologia.

Fernando Faria Franco, Universidade Federal de São Carlos

Possui graduação em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (2002), mestrado em Ciências Biológicas (Genética) pela Universidade de São Paulo (2005), doutorado em Ciências Biológicas (Genética) pela Universidade de São Paulo (2009) com estágio sanduiche na Universidade de Buenos Aires (UBA, Argentina). Atuou como pesquisador visitante na Universidade de Columbia (NY, EUA) (2020). Foi por duas vezes coordenador do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas CBL-So (UFSCar). Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Evolução. Atualmente é Professor Associado no Departamento de Biologia do Centro de Ciências Humanas e Biológicas - CCHB/UFSCar, Sorocaba; é presidente do Núcleo Docente Estruturante do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas CBLN-So (UFSCar); é credenciado no Programa de Pós-graduação em Biologia Comparada (USP).  

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Publicado

2023-05-22

Edição

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Artigos