CFP: O Gótico Contemporâneo na literatura, na produção audiovisual e nas novas formas de arte

2023-12-20

Prazo para submissão: 30 de abril, 2024.

 

Editores convidados: 

Prof. Dr. George Ayres Mousinho (UFSC);

Prof. Dr. Carl Sederholm (Brigham Young University - Utah); 

Prof. Dr. Antonio Alcalá Gonzalez (Tecnológico de Monterrey - México)

 

A palavra gótico sugere múltiplos significados. Desde suas conexões com os godos que, em suas migrações pela Europa central, Itália e Ibéria, contribuíram para a queda do Império Romano; às colossais catedrais medievais na França; às histórias de horror vitorianas e subculturas modernas; o gótico adquiriu conotações complexas que continuam a torná-lo um objeto de estudo cativante em uma variedade de campos. Fred Botting (1996) afirma, por exemplo, que "as relações entre real e fantástico, sagrado e profano, sobrenatural e natural, passado e presente, civilizado e bárbaro, racional e fantasioso, continuam sendo cruciais para a dinâmica gótica de limite e transgressão" (6). Para ele, o gótico representa "uma escrita de excesso", de subversão, de crise. Para David Punter e Glennis Byron (2004), "o gótico tem mais a ver com momentos específicos, tropos, motivos repetidos que podem ser encontrados dispersos, ou disseminados, através da tradição literária ocidental moderna" (xviii). Mesmo que ainda não esteja claro onde o gótico se encaixa em termos de categorização, o tópico ainda abre uma pluralidade de perspectivas e mudanças históricas e ressignificações.

 

Os contextos turbulentos dos séculos XX e XXI aumentaram ainda mais as maneiras como novas produções artísticas redefinem uma compreensão ampla do gótico. Elementos temáticos literários como a atmosfera misteriosa de florestas remotas receberam uma virada geográfica e cultural através do gótico sulista americano e de seus recursos temáticos em retratos de conflitos raciais, pântanos sombrios e os "fantasmas" da Guerra Civil na sociedade moderna. Vampiros clássicos tornaram-se vampiros vegetarianos em suas tentativas morais de evitar a tentação do sangue humano (Dungan 2022). Cortes de cabelo extravagantes, roupas escuras e de couro usadas por bandas como The Cure e Siouxsie and the Banshees receberam várias revisões e revisitas desde os anos 1970 e 1980. O sobrenatural e o espetacular continuam a ser peças centrais na apreciação do gótico entre muitas subculturas (Spooner 2006, 91-94). Como tal, seus temas e suas características têm aparecido em ficção que normalmente não é considerada gótica; através de referências, paródias e adaptações. "O Corvo" de Edgar Allan Poe foi recitado em desenhos animados e adaptado para música, de uma canção da banda de folk Omnia a um álbum inteiro de Lou Reed. Drácula, o vampiro quintessencial, tornou-se um personagem em inúmeros filmes, histórias em quadrinhos e videogames. O tema do doppelgänger passou de histórias de horror de E. T. A. Hoffmann e Robert Louis Stevenson para filmes de terror psicológico contemporâneos como Nós, de Jordan Peele. O gótico não é só mutável; ele parece ser imortal.

 

Esta edição da Ilha do Desterro convida artigos e resenhas originais, em inglês e português, que abordem o gótico na ficção contemporânea. O gótico como âncora estilística, o gótico como discurso, o gótico como um grupo de temáticas, ou o gótico como referência estética; todas essas são perspectivas válidas. Obras de literatura, cinema, histórias em quadrinhos, videogames e outras formas de arte narrativa que abordem o gótico são bem-vindas como objetos de análise, mas é importante basear a investigação em perspectivas críticas contemporâneas, mesmo ao trabalhar com narrativas mais antigas.

 

Referências

Botting, Fred. Gothic. Routledge, 1996.

Punter, David; Glennis Byron. The Gothic. Blackwell Publishing, 2004.

Spooner, Catherine. Contemporary Gothic. Reaktion Books, 2006.

Dungan, Sophie. Reading the Vegetarian Vampire. Palgrave Macmillan, 2022.