O cinema político de Ken Loach: trabalho, pós-fordismo e sofrimento psíquico em Sorry We Missed You (2019)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8026.2025.e105037Palavras-chave:
Cinema Britânico, Classe Trabalhadora, Precarização do Trabalho, Cultura e Colapso da Modernização, Centralidade negativa do trabalhoResumo
Embora o filme Sorry We Missed You (2019), de Ken Loach, tenha gerado discussões significativas sobre as configurações do trabalho no contexto contemporâneo, alguns aspectos cruciais de sua composição permanecem insuficientemente explorados. Este ensaio apresenta um trabalho de interpretação de um desses aspectos, a saber, a intersecção entre subjetividade e trabalho presente no modo como se configura a representação do cotidiano na composição narrativo-dramática do filme. Para este fim, partindo da noção de “fantasia social”, de Slavoj Žižek, tecemos uma série de comentários críticos com a intenção de refletir sobre a composição narrativo-dramática, à luz tanto do processo histórico-social pós-fordista, como de seus impasses, em perspectiva interdisciplinar. Entre as referências teóricas deste ensaio, estão os estudos de Arantes (2014), Bihr (1998), Harvey (1992), Safatle (2019) e Žižek (2014). De acordo com a interpretação aqui proposta, o filme estiliza uma experiência social de sofrimento característico de uma ordem simbólica na qual prevalece uma “violência sistêmica” (Žižek, 2014), que ocasiona um processo de “centralidade negativa do trabalho” (Arantes, 2014). A partir dessas condições, argumentamos ser possível acompanhar uma dialética de reconhecimento do desejo que estrutura a tensão social irresolvida, na qual o fracasso da fantasia conduz a personagem Ricky a um encontro traumático com o Real.
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