Informação, Misinformação, Desinformação e movimentos antivacina: materialidade de enunciados em regimes de informação
DOI:
https://doi.org/10.5007/1518-2924.2021.e75576Palavras-chave:
Informação, Desinformação, Misinformação, Materialidade, Enunciados, Movimentos antivacina, Regimes de InformaçãoResumo
Objetivo: O ensaio objetiva refletir sobre informação, misinformação e desinformação como meios empregados por movimentos antivacina, abordando a produção dos seus efeitos sociais em termos de materialidade e de institucionalidade de enunciados no âmbito de regimes de informação.
Método: A revisão bibliográfica teve como foco os temas materialidade e institucionalidade de enunciados, informação, misinformação, desinformação, regimes de informação e movimentos antivacina. Além disso, foram realizadas consultas em legislações e em websites governamentais brasileiros, mediante as quais foi possível realizar as reflexões sobre os temas estudados.
Resultados: As reflexões apontam para a materialidade da misinformação e da desinformação como fonte ou produto de discursos antivacina, algo que, por vezes, mimetiza recursos empregados pelo regime de informação em ciência e tecnologia vigente e, com efeito, alimenta um modo de resistência junto às políticas públicas do Estado, num contexto em que doenças imunopreveníveis antes erradicadas têm retornado, como é o caso do reaparecimento do sarampo no Brasil.
Conclusões: A dificuldade de distinção entre informação, misinformação e desinformação constitui um problema para o Estado, para a ciência, para as entidades de saúde pública ou para os meios de comunicação e instituições de mediação, comprometidos com a informação. O viés de confirmação capitalizado pelos movimentos antivacina aparece como meio de resistência e/ou confrontação ao controle do Estado. Efeitos adversos de vacinas podem ser utilizados descontextualizadamente para reforçar a ideia de que “toda vacina é maléfica”. A ciência e o poder público têm o desafio de esclarecer a opinião pública sobre os benefícios ou cuidados a serem tomados em relação às vacinas.Downloads
Referências
AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. Resolution on disinformation, media manipulation and the destruction of public information. [Policy manual]. [S.l.]: ALA, 2005.
APS, L. R. M. M.; PIANTOLA, M. A. F.; PEREIRA, S. A.; CASTRO, J. T.; SANTOS, F. A. O.; FERREIRA, L. C. S. Eventos adversos de vacinas e as consequências da não vacinação: uma análise crítica. Revista de Saúde Pública, v. 52, n. 40, p. 01-13, abr. 2018.
BRAMAN, S. The emergent global informationpolicy regime. In: BRAMAN, S. (Ed.). The emergent global informationpolicy regime. Houndsmills-UK: Palgrave Macmillan, 2004. p. 12-37.
BRASIL. Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. Dispõe sobre a organização das ações de Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações, estabelece normas relativas à notificação compulsória de doenças, e dá outras providências. Presidência da República: Brasília, 1975.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA] e dá outras providências. Presidência da República: Brasília, 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. 3. ed. Brasília: MS, 2014. 250 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações de Programas de Imunização (SI-PNI). Brasília, MS, 2019a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Vacinação: quais são as vacinas, para que servem, por que vacinar, mitos. Brasília, MS, 2019b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Sarampo: Brasil atinge 99,4% de cobertura vacinal em 2019. Brasília, MS, dez. 2019c.
BRASIL. Ministério da Saúde. Datasus. SIPNI. Vacinômetro. [website]. Brasília: MS, [2020]. Disponível em: http://sipni-gestao.datasus.gov.br/si-pni-web/faces/relatorio/consolidado/vacinometroPolioSarampo.jsf Acesso em: 07 jan. 2020.
CAMBRIDGE ADVANCED LEARNER'S DICTIONARY & THESAURUS. Antivaxxer. Cambridge: [s.n.], 2020. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/es/diccionario/ingles/antivaxxer. Acesso em: 9 jun. 2020.
FALLIS, D. A conceptual analysis of disinformation. In iCONFERENCE, Proceedings... [S.l], iCONFERENCE, 2009. Disponível em: http://hdl.handle.net/2142/15205 Acesso em: 10 set. 2020.
FALLIS, D. What Is Disinformation? Library Trends, v. 63, n. 3, p. 401-426, Winter 2015.
FIOCRUZ. A revolta da vacina. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2 Acesso em: 7 jan. 2020.
FLORIDI, L. Brave.Net.World: the Internet as a disinformation superhighway? The Electronic Library, v.14, n. 6, p. 509-514, 1996.
FLORIDI, L. Is Semantic information meaningful data? Philosophy and Phenomenological Research, v. LXX, n. 2, March 2005.
FLOYD, M.; SEARS, B. The vaccine conversation. [website]. [podcast]. [S.l.:s.n.], [2020]. Disponível em https://thevaccineconversation.libsyn.com/ Acesso em: 6 jul. 2020.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987. 288p.
FROHMANN, B. Taking information policy beyond information science: applying the actor network theory. In: ANNUAL CONFERENCE OF THE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE (CAIS/ACSI), 23., 1995, Edmonton- Alberta. Anais […] Edmonton-Alberta: CAIS, 1995.
FROHMANN, B. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, K. S. L.; MARTELETO, R. M.; LARA, M. L. G. (Org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília-SP: Fundepe, 2008. p. 19-34.
GAMMON, K. How the anti-vaccine community is responding to Covid-19. Undark.org, Cambridge, 16 abr. 2020.
GHEZZI, P; BANNISTER, P. G.; CASINO, G.; CATALANI, A.; GOLDMAN, M.; MORLEY, J.; NEUNEZ, M.; PRADOS-BO, A.; SMEESTERS, P. R.; TADDEO, M.; VANZOLINI, T.; FLORIDI, L. Online information of vaccines: information quality, not only privacy, is an ethical responsibility of search engines. Front. Med., v. 7, n. 400, 2020.
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. As relações entre ciência, estado e sociedade: um domínio de visibilidade para as questões da informação. Ciência da Informação, v. 32, n. 1, p. 60-73, maio. 2003.
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. Regime de informação: construção de um conceito. Informação & Sociedade: Estudos, v. 22, n. 3, p. 43-60, set./dez. 2012.
HIGGINS, K. Post-truth: a guide for the perplexed. Nature, v. 540, n. 9, Springer, 1 dez. 2016.
FALLIS, D. What is disinformation? Library Trends, v. 63, n. 3, p. 401-426, 2015.
IMMUNITY Education Group. [website]. [S.l.:s.n.], 2020. Disponível em: https://immunityeducationgroup.org/ Acesso em: 6 jul. 2020.
KLAYMAN, J . Varieties of confirmation bias. The Psychology of Learning and Motivation, v. 32, p. 385-418, 1995.
LAZER, D. M. J.; BAUM, M. A., BENKLER, Y.; BERINSKY, A. J.; GREENHILL K. M.; MENCZER, F.; METZGER, M. J.; NYHAN, B.; PENNYCOOK, G.; ROTHSCHILD, D.; SCHUDSON, M.; SLOMAN, S. A.; SUNSTEIN, C. R.; THORSON, E. A.; WATTS, D. J.; ZITTRAIN, J. L. The science of fake news: addressing fake news requires a multidisciplinary effort. Science, v. 359, n. 6380, p. 1094-1096, 9 mar. 2018.
LATOUR, B. Cogitamus: seis cartas sobre as humanidades científicas. São Paulo: Editora 34, 2016.
LEVI, G. C. Aspectos éticos e legais da recusa de vacinação. [vídeo online]. In: CANAL SBIM. São Paulo: Sociedade Brasileira de Imunizações, 2013. Disponível em: https://sbim.org.br/midia/canal-sbim/58-temas-em-vacinacao/125-aspectos-eticos-e-legais-da-recusa-de-vacinacao-dr-guido-levi Acesso em: 2 jun. 2020.
MACDONALD, N. E. Vaccinehesitancy: definition, scopeanddeterminants. Vaccine, v. 33, n. 34, p. 4161-4164, nov. 2015.
MILLER, E. R.; MORO, P. L.; CANO, M.; SHIMABUKURO, T. Deaths following vaccination: what does the evidence show? Vaccine, v. 33, n. 29, p. 3288-3292, jun. 2005.
PROCTOR, R. N. Agnotology: a missing term to describe the cultural production of ignorance (and its study). In: PROCTOR, R. N.; SCHIEBINGER, L. (Ed). Agnotology: the making and unmaking of ignorance. Stanford: Stanford University Press, 2008. p. 1-33.
RABELLO, R. A informação institucionalizada e materializada como documento: caminhos e articulações conceituais. Brazilian Journal of Information Studies: Research Trends, v. 13, n. 2, p 05-25. 2019.
RABELLO, R.; RODRIGUES, G. M. Information as proof or monument: materiality, institutionality and representation. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 24, n. 55, p. 1-23, maio 2019.
REYNOLDS, E. Some anti-vaxxers are changing their minds because of the coronavirus pandemic. CNN Health, 20 abr. 2020. Disponível em: https://edition.cnn.com/2020/04/20/health/anti-vaxxers-coronavirus-intl/index.html Acesso em: 9 jun. 2020.
SUCCI, R. C. Vaccine refusal: what we need to know. Jornal de Pediatria, v. 94, n. 6, p. 574-581, 2018.
UOL. [website]. 'Presidente não é tirano', diz Secom sobre vacinação não obrigatória. São Paulo: UOL, 2 set. 2020a. [fonte: Reuters]. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/09/02/presidente-nao-e-tirano-diz-secom-sobre-vacinacao-nao-obrigatoria.htm?cmpid=copiaecola Acesso em: 15 set. 2020.
UOL. [website]. Posicionamento presidencial sobre vacinação repercute em grupos antivacina. São Paulo: UOL, 9 set. 2020b. [fonte: Jornal da USP]. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/09/09/posicionamento-presidencial-sobre-vacinacao-repercute-em-grupos-antivacina.htm Acesso em: 15 set. 2020.
WALDMAN, E. A.; LUHM, K. R.; MONTEIRO, S. A. M. G.; FREITAS, F. R. M. Vigilância de eventos adversos pós-vacinação e segurança de programas de imunização. Revista de Saúde Pública, v. 45, n. 11, p. 173-1884, fev. 2011.
WARD, B. J. Vaccine adverse events in the new millenium: istherereason for concern? Bulletinofthe Word Health Organization, v. 78, n. 2, p. 205-215. 2000.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Richele Grenge Vignoli, Rodrigo Rabello, Carlos Cândido de Almeida
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
O autor deve garantir:
- que haja um consenso completo de todos os coautores em aprovar a versão final do documento e sua submissão para publicação.
- que seu trabalho é original, e se o trabalho e/ou palavras de outras pessoas foram utilizados, estas foram devidamente reconhecidas.
Plágio em todas as suas formas constituem um comportamento antiético de publicação e é inaceitável. Encontros Bibli reserva-se o direito de usar software ou quaisquer outros métodos de detecção de plágio.
Todas as submissões recebidas para avaliação na revista Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação passam por identificação de plágio e autoplágio. Plágios identificados em manuscritos durante o processo de avaliação acarretarão no arquivamento da submissão. No caso de identificação de plágio em um manuscrito publicado na revista, o Editor Chefe conduzirá uma investigação preliminar e, caso necessário, fará a retratação.
Esta revista, seguindo as recomendações do movimento de Acesso Aberto, proporciona seu conteúdo em Full Open Access. Assim os autores conservam todos seus direitos permitindo que a Encontros Bibli possa publicar seus artigos e disponibilizar pra toda a comunidade.
Os conteúdos de Encontros Bibli estão licenciados sob uma Licença Creative Commons 4.0 by.
Qualquer usuário tem direito de:
- Compartilhar — copiar, baixar, imprimir ou redistribuir o material em qualquer suporte ou formato
- Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.
De acordo com os seguintes termos:
- Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de maneira alguma que sugira ao licenciante a apoiar você ou o seu uso.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.