O Autor e a Medida: alguns enunciados da classificação métrica de autores

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1518-2924.2020.e73397

Palavras-chave:

Biobibliografia, Metria, Autor, Produtividade autoral, Análise Epistemologia histórica

Resumo

Objetivo: Explorar e analisar, através de uma perspectiva epistemológico-histórica enunciados que possibilitam o discurso métrico entre autores no âmbito de uma economia política da produção científica. Mais especificamente, aquele discurso que permite medir e estabelecer um tipo de ranking entre os autores. Propor que a noção de biobibliografia, mais que a noção geral de bibliografia, está diretamente ligada a esta conformação discursiva. A pesquisa está voltada para a autoria científica.

Método: O procedimento metodológico adotado se define pela exploração teórica aplicada à literatura científica. Dar-se-á maior relevância aos enunciados produzidos no campo de saber da Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), apesar de não se restringir a este. A unidade discursiva, que permite descrever, medir e classificar os autores científicos, se forma a partir da relação heterogênea entre enunciados que lidam com as noções de autor e medição. Portanto, tratamos destes enunciados enquanto acontecimentos que constroem este saber.

Resultado: A exploração demonstra que as ideias de medição e de classificação entre os autores já era possível no início do século XX. No entanto, de uma perspectiva histórica podemos aferir algumas mudanças epistêmicas que influenciaram a esta prática. O caráter quantitativo está presente nos dois modelos discursivos estudados. No entanto, a formação dos objetos quantificados difere. No primeiro caso, há uma preocupação em medir a superioridade de um autor sobre o outro na superfície discursiva acerca deles, uma espécie singular de ordem moral (um ethos vertical para estabelecimento de padrões de comportamento). Em um segundo momento, que chamamos de virada epistêmica, temos que a produtividade autoral é fator de maior relevância para classificar a autoria científica. Assim, no capitalismo, a obra é convertida em produto e o autor em produtor.

Conclusões: A noção da medida e de autor estão, há muito tempo, presentes no macro discurso da bibliografia, enquanto discurso de saber. No entanto, podemos afirmar que estas relações não são estáticas no tempo. O discurso biobibliográfico sustenta a prática classificadora entre sujeitos. Ele passou de polo biográfico para uma episteme da produção bibliográfica do indivíduo, atravessado por questões métricas. Se a bibliometria só é possível pela estruturação de uma prática bibliográfica, também a avaliação pelo critério de produção para sujeitos, dotados da função autor, perpassa por uma lógica biobibliográfica, podendo sustentar uma noção “bio-bibliométrica”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Diogo Xavier, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (IBICT UFRJ)

Mestrando em Ciência da Informação (PPGCI IBICT UFRJ). Graduação em Biblioteconomia (UNIRIO)

Gustavo Silva Saldanha, Instituto Brasileiro em Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict)

Pesquisador Titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Doutor em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (IBICT UFRJ). Mestre em Ciência da Informação (PPGCI UFMG).

Referências

ARAUJO, André V. de F. Confusa e irritante multidão de livros: relações entre o contexto histórico-informacional da Europa Moderna e a estrutura documentária de Bibliotheca Universalis, de Conrad Gesner. InCID: R. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 7, n. esp., p. 224-241, ago. 2016.

ARAÚJO, Carlos Alberto. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-32, jan./jun. 2006.

BARTHES, Roland. A morte do autor. In: BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo:

Martins Fontes, 2004. p. 57-64.

CAPRONI, Attilio Mauro. Sapere Aude (dizia Kant): a bibliografia, uma ordem do discurso do século XXI? Informação e Informação, Londrina, v. 23, n. 2, p. 04-13, maio/ago. 2018.

CRIPPA, Giulia. Narrativa como gesto bibliográfico: Gabriel Naudé entre erudição e política. Perspectivas em Ciência da Informação, v.22, número especial, p.21-35, jul. 2017.

CRIPPA, Giulia. O desenvolvimento e o entrelaçamento entre bibliografia, bibliometria e política no Brasil. Em Questão, Porto Alegre, v. 25, p. 14-38, Edição Especial V Seminário Internacional A Arte da Bibliografia, 2019.

CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2008.

DEL CONT, Valdeir. Francis Galton: eugenia e hereditariedade. Scientiae Studia, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 201-218, abr./jun. 2008.

DRESDEN, A. A report on the scientific work of the Chicago section. Bulletin of the

American Mathematical Society, v. 28, n. 6, p. 303–307, 1922.

FOUCAULT, Michel. Le jeu de Michel Foucault. Ornicar?, n. 10, p. 62-93, jul. 1977. Disponível em: http://1libertaire.free.fr/MFoucault158.html. Acesso em: 24 abr. 2020.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

FONSECA, Edson Nery. A bibliografia como ciência: da crítica textual à bibliometria. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 12, n. 1, p. 29-38, jan./jun. 1979.

GORRAIZ, Juan; GUMPENBERGER, Christian; WIELAND, Martin. Galton 2011 revisited: a bibliometric journey in the footprints of a universal genius, Scientometrics, v. 88, p. 627-652, 2011.

LOTKA, A. J. The frequency distribution of scientific productivity. Journal of the Washington Academy of Sciences, v. 16, n. 12, p. 317–323, 1926.

MARX, Karl. O 18 brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.

MATA, Diogo Xavier; SALDANHA, Gustavo Silva. O discurso biobibliográfico em Gabriel Peignot: notas sobre o sujeito e o autor na Modernidade bibliológica. Em Questão, v. 25, número especial, p. 159-175, out. 2019.

MATA, Diogo Xavier; SALDANHA, Gustavo Silva. A vida íntima das sombras: a ordem do discurso biobibliográfico. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, v. 10, n. 2, p. 71-91, jan. 2020.

OTLET, Paul. Tratado de Documentação: o livro sobre o livro: teoria e prática. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2018.

SALARELLI, Alberto. Para além da falha digital: as duas perspectivas da bibliografia. Perspectivas em Ciência da Informação, v.22, número especial, p.7-20, jul. 2017.

SEN, Subir K.; GAN, S. K. Biobibliometrics: concept and application in the study of productivity of scientists. International Forum on Information and Documentation, v. 15, n. 3, p. 13-21, 1990.

SOLLA PRICE, Derek. Little science, big science… and beyond. New York: Columbia University Press, 1986.

STAPLEY, B. J.; BENOIT, G. Biobibliometrics: information retrieval and visualization from co-occurrences of gene names. In: Pacific Symposium on Biocomputing, p. 529–540. 2000. Disponível em: https://doi.org/10.1142/9789814447331_0050. Acesso em : 08 jun. 2020.

URBIZÁGASTEGUI, Rubén. A lei de Lotka na bibliometria brasileira. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 31, n. 02, p. 14-20, maio/ago. 2002. Nota: No prelo.

URBIZÁGASTEGUI, Rubén. A produtividade dos autores sobre a Lei de Lotka. Ciência da Informação, v. 37, n. 02, p. 87-102, maio/ago. 2008.

VIGNAUX, Georges. O demónio da classificação: pensar, organizar. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

WOODS, Frederick Adams. Historiometry as an exact science. Science, New Series, v. 33, n. 850, p. 568-574, abr. 1911.

Publicado

2020-12-02

Como Citar

XAVIER, Diogo; SALDANHA, Gustavo Silva. O Autor e a Medida: alguns enunciados da classificação métrica de autores. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, [S. l.], v. 25, n. Especial, p. 01–19, 2020. DOI: 10.5007/1518-2924.2020.e73397. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/73397. Acesso em: 9 nov. 2024.