Ética da migração internacional: generosidade, benevolência e cuidado

Autores

  • Raissa Wihby Ventura Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2021.e80439

Resumo

A distribuição do pertencimento justo, nas cenas da migração internacional, deve ser objeto de uma teoria da justiça? Ao buscar reunir respostas negativas a essa questão fundamental, apresentamos, neste artigo, um conjunto de perspectivas sobre a “ética da migração” internacional unidas pela recusa da validade normativa de transformar o pertencimento político em objeto de uma teoria da justiça social. Para levar a bom termo esta proposta reconstrutiva, reunimos, nas duas primeiras seções, argumentos sobre porque a benevolência (Stephen Macedo) e os deveres de cuidado (David Miller) conformariam um vocabulário moral mais adequado para enfrentarmos os problemas normativos gerados pelo trânsito de pessoas entre as fronteiras – cívicas e territoriais – dos Estados soberanos e de base territoriais. Por fim, e caso aceitemos, por qualquer uma das vias apresentadas, que a gramática da justiça é inadequada para nomearmos normativamente os desafios carregados pelo fenômeno da migração internacional, caberia a questão sobre como poderíamos acessar a benevolência, o cuidado e a generosidade para enfrentarmos as demandas surgidas por quem solicita refúgio.  Retomaremos, no último movimento do texto, definições sobre o que uma linguagem moral, alternativa à justiça, requer das autoridades políticas liberais e democráticas quando recebem demandas da(o)s solicitantes de refúgio.

Biografia do Autor

Raissa Wihby Ventura, Universidade de São Paulo

Doutoranda do Departamento de Ciência Política da Univerdade de São Paulo. Pesquisadora visitante do Consejo Superior de Investigaciones Cientificas. Atualmente participa do Grupo de Pesquisa em Ciência Política (Getepol) e do Núcleo de Estudos em Relações Internacionais (Nupri).

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Publicado

2021-12-16