O centenário de Mario Bunge: contextualizando sua obra sobre modelos científicos na filosofia da ciência e como referencial na pesquisa em ensino

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2019v36n1p178

Resumo

O ano de 2019 marca o centenário de nascimento do físico e filósofo da ciência argentino Mario Augusto Bunge, prolífico autor de uma vastíssima obra que cobre um amplo espectro de interesses. Neste artigo, discutimos sua obra sobre modelos científicos no contexto da filosofia da ciência a partir do século XX.  Ao caracterizar a concepção epistemológica do autor, procuramos enfatizar aspectos dessa concepção que se destacam na sua teoria sobre os modelos especificamente quanto à problemática da relação entre o conhecimento e a realidade e argumentamos em favor da fecundidade das ideias bungeanas como referencial para o ensino relativamente a essa problemática. Finalmente, abordamos uma objeção frequentemente feita a esse referencial.

Biografia do Autor

Juliana Machado, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, RJ

Licenciada em Física pela UFSC (2007), mestra em Educação Científica e Tecnológica pela UFSC (2009) e doutora em Ciência, Tecnologia e Educação pelo CEFET/RJ (2017). Lecionou Física na Universidade Federal da Fronteira Sul entre 2010 e 2014. Atualmente, é docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Educação, além de atuar como professora de Física na Educação Básica no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ).

Marco Braga, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, RJ

Graduado em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1985; mestre em Educação pela PUC-RJ em 1991; doutor em Engenharia de Produção pela COPPE – UFRJ – em 1999; pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Berkeley. Atualmente é professor titular e pesquisador no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, RJ. Líder do grupo de pesquisa do CNPq "Novas Abordagens em Tecnologia e Educação", é coautor de 11 livros de Divulgação Científica e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Educação do CEFET/RJ de 2010 até 2014 e de 2018 até a presente data.

Referências

AAAS (American Association for the Advancement of Science). Benchmarks for science literacy: A Project 2061 report. New York, Oxford: 1993.

ABD-EL-KHALICK, F.; LEDERMAN, N. G. The influence of history of science courses on students' views of nature of science. Journal of Research in Science Teaching, v. 37, n. 10, p. 1057-1095, 2000.

ACHINSTEIN, P. Concepts of Science. Baltimore: John Hopkins Press, 1968.

ADÚRIZ-BRAVO, A.; MORALES, L. El concepto de modelo en la enseñanza de la Física − consideraciones epistemológicas, didácticas y retóricas. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 19, n. 1, p. 76-88, abr. 2002.

ADÚRIZ-BRAVO, A. A ‘semantic’view of scientific models for science education. Science & Education, v. 22, n. 7, p. 1593-1611, 2013.

ANGELL, C.; KIND, P. M.; HENRIKSEN, E. K; GUTTERSRUD, O. An empirical-mathematical modeling approach to upper secondary physics. Physics Education, v. 43, n. 3, 2008.

BAILER-JONES, D. Models, Metaphors and Analogies. In: MACHAMER, P. K.; SILBERSTEIN, M. (Eds). The Blackwell guide to the philosophy of science. Copenhagen: Wiley-Blackwell, 2002.

BLACK, M. Models and metaphors: Studies in language and philosophy. New York: Cornell University Press, 1962.

BRANDÃO, R. V.; ARAUJO, I. S.; VEIT, E. A. Concepções e dificuldades dos professores de Física no campo conceitual da modelagem científica. Revista electrónica de enseñanza de las ciências, Ourense, v. 9, n. 3, p. 669-695, 2010.

BRANDÃO, R. V.; ARAUJO, I. S.; VEIT, E. A. A modelagem científica vista como um campo conceitual. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 28, n. 3, p. 507-545, 2011.

BRANDÃO, R. V.; ARAUJO, I. S.; VEIT, E. A. Um estudo de caso para dar sentido à tese de que a modelagem científica pode ser vista como um campo conceitual. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, v. 9, n. 1, p. 1-21, 2014.

BUNGE, M. Concepts of model. In: Method, model and matter. Springer Netherlands, p. 91-113, 1973a.

BUNGE, M. Philosophy of physics. Dordrecht: Reidel, 1973b.

BUNGE, M. Semantics II: interpretation and truth. Dordrecht: Reidel, 1974.

BUNGE, M. Treatise on basic philosophy: Ontology I: the furniture of the world. Dordrecht: Reidel, 1977.

BUNGE, M. Epistemology and Methodology III: Philosophy of Science and Technology. Dordrecht: Reidel, 1985.

BUNGE, M. Una caricatura de la ciencia: la novisima sociologia de la ciencia. Interciencia, Caracas, v.16, n. 2, p. 69-77, abr. 1991.

BUNGE, M. Intuición y Razón. Buenos Aires: Sudamericana, 1996.

BUNGE, M. Philosophy of science: from problem to theory. Transaction Publishers, 1998.

BUNGE, Mario. Física e filosofia. São Paulo: Perspectiva, 2007.

CARNAP, Rudolf. Foundations of logic and mathematics. Chicago: Chicago University Press, 1939.

CARTWRIGHT, N. How the laws of physics lie. Oxford: Clarendon Press, 1983.

CHAKRAVARTTY, A. The semantic or model-theoretic view of theories and scientific realism. Synthese, v. 127, n. 3, p. 325-345, 2001.

CHAMIZO, J. A. A new definition of models and modeling in chemistry’s teaching. Science & Education, v. 22, n. 7, p. 1613-1632, 2013.

CLEMENT, J. Analysis of clinical interviews: Foundations and model viability. In: KELLY, A.; LESH, R. (Eds). Handbook of research design in mathematics and science education. London: Lawrence Erlbaum, 2000. p. 547-589.

COLL, R. K.; FRANCE, B.; TAYLOR, I. The role of models/and analogies in science education: implications from research. International Journal of Science Education, v. 27, n. 2, p. 183-198, 2005.

CUPANI, A. A Filosofia da Ciencia de Mario Bunge e a questão do “Positivismo”. Manuscrito, v. 19, n. 2, p. 113-142, 1991.

CUPANI, A.; PIETROCOLA, M. A relevância da epistemologia de Mario Bunge para o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 19, n. especial, 2002.

CUSTÓDIO, J. F.; PIETROCOLA, M. Princípios nas ciências empíricas e o seu tratamento em livros didáticos. Ciência & Educação, v. 10, n. 3, p. 383-399, 2004.

DUIT, R.; GLYNN, S. Mental Modelling. In: WELFORD, G.; OSBORNE, J.; SCOTT, P. (Eds.). Research in Science Education in Europe: Current Issues and Themes. London: Falmer Press, 1996. p. 166-176.

GALAGOVSKY, L. R.; ADÚRIZ-BRAVO, A. Modelos y analogías en la enseñanza de las ciencias naturales. El concepto de modelo didáctico analógico. Enseñanza de las Ciencias, v. 19, n. 2, p. 231-242, 2001.

GIERE, R. Explaining Science: A Cognitive Approach. Chicago: University of Chicago, 1988.

GIERE, R. An agent-based conception of models and scientific representation. Synthese, v. 172, n. 2, p. 269-281, 2010.

GIL PÉREZ, D. et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, Bauru, v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001.

GILBERT, J. K.; WATTS, D. M. Concepts, misconceptions and alternative conceptions: Changing perspectives in science education. Studies in Science Education, v. 10, n. 1, p. 61-98, 1983.

GILBERT, J. K.; BOULTER, C. J. Learning science through models and modelling. In: FRASER, B, TOBIN,K. (Eds). International Handbook of Science Education. London: Kluwer Academics, 1998. p. 53-66. v. 2.

GILBERT, J. K.; PIETROCOLA, M.; ZYLBERSZTAJN, A.; FRANCO, C. Science and education: Notions of reality, theory and model. In: GILBERT, J. K.; BOULTER, C. Developing models in science education. Dordrecht: Springer, 2000. p. 19-40.

GILBERT, J. K.; JUSTI, R. Models of Modelling. In: Modelling-based Teaching in Science Education. Springer International Publishing, 2016. p. 17-40.

GRANDY, R. E. What are models and why do we need them? Science & Education, v. 12, n. 8, p. 773-777, 2003.

GRECA, I. M.; MOREIRA, M. A. Mental, physical, and mathematical models in the teaching and learning of physics. Science Education, v. 86, n. 1, p. 106-121, 2001.

HARRÉ, R. Metaphor, model and mechanism. Proceedings of the Aristotelian Society, v. 60, p. 101-122, 1960.

HARRISON, A. G.; TREAGUST, D. F. Modelling in science lessons: Are there better ways to learn with models? School Science and Mathematics, v. 98, n. 8, p. 420-429, 1998.

HARRISON, A. G.; TREAGUST, D. F. A typology of school science models. International Journal of Science Education, v. 22, n. 9, p. 1011-1026, 2000.

HARTMANN, S. Modeling in philosophy of science. Representation, evidence, and justification: Themes from Suppes, v. 1, p. 95-121, 2008.

HESSE, M. Models and Analogies in Science. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1966.

HESSEN, J. Teoria do conhecimento. 7. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1979.

HESTENES, D. Toward a modeling theory of physics instruction. American journal of physics, v. 55, n. 5, p. 440-454, 1987.

IZQUIERDO-AYMERICH, M.; ADÚRIZ-BRAVO, A. Epistemological foundations of school science. Science & Education, v. 12, n. 1, p. 27-43, 2003.

JUSTI, R.; GILBERT, J. K. The role of analog models in the understanging of the nature of models in Chemistry. In: Metaphor and analogy in science education. Springer Netherlands, p. 119-130, 2006.

KNUUTILA, T. Models as epistemic artefacts: Toward a non-representationalist account of scientific representation. Helsinki, Finland: University of Helsinki, 2005.

KNUUTTILA, T.; BOON, M. How do models give us knowledge? The case of Carnot’s ideal heat engine. European journal for philosophy of science, v. 1, n. 3, p. 309, 2011.

KOPONEN, I. T. Models and modelling in physics education: A critical re-analysis of philosophical underpinnings and suggestions for revisions. Science & Education, v. 16, n. 7, p. 751-773, 2007.

LEDERMAN, N. G. Nature of science: Past, present, and future. In: ABELL, S. K.; LEDERMAN, N. G. (Eds.). Handbook of Research on Science Education (p. 831-880). Mahwah, NJ: Erlbaum, 2007.

MACHADO, J.; SOUZA CRUZ, S. Conhecimento, realidade e ensino de Física: modelização em uma inspiração bungeana. Ciência & Educação, v. 17, n. 4, p. 887-902, 2011.

MACHADO, J.; BRAGA, M. A. B. Can the History of Science Contribute to Modelling in Physics Teaching?. Science & Education, v. 25, n. 7-8, p. 823-836, 2016.

MACHADO, J.; BRAGA, M. Secondary students’ modelling conceptualisation in situations related to particle dynamics: a clinical perspective. International Journal of Science Education, v. 40, n. 13, p. 1606-1628, 2018.

MATTHEWS, M. R. Mario Bunge, systematic philosophy and science education: An introduction. Science & Education, v. 21, n. 10, p. 1393-1403, 2012.

MCCOMAS, W. C. Seeking historical examples to illustrate key aspects of the nature of science. Science & Education, v. 17, p. 1249-1263, 2008.

MORGAN, M. S.; MORRISON, M. Models as mediators: Perspectives on natural and social science. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

MORRISON, M. Where have all the theories gone? Philosophy of Science, v. 74, n. 2, p. 195-228, 2007.

NERSESSIAN, N. J. Should physicists preach what they practice? In: BERNARDINI, C.; TARSITANI, C.; VICENTINI, M. (Eds). Thinking physics for teaching. New York: Springer US, 1995. p. 77-96.

NIINILUOTO, I. Critical Scientific Realism. London: Oxford University Press, 2002.

PIETROCOLA, M. Construção e realidade: o realismo científico de Mário Bunge e o ensino de ciências através de modelos. Investigações em ensino de ciências, v. 4, n. 3, p. 213-227, 1999.

PINHEIRO, T. F. Aproximação entre a ciência do aluno na sala de aula da 1a série do 2o grau e a ciência dos cientistas: uma discussão. 1996. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação.

PORTIDES, D. P. A theory of scientific model construction: The conceptual process of abstraction and concretisation. Foundations of Science, v. 10, n. 1, p. 67-88, 2005.

PORTIDES, D. Seeking representations of phenomena: Phenomenological models. Studies In History and Philosophy of Science Part A, v. 42, n. 2, p. 334-341, 2011.

REICHENBACH, H. Experience and Prediction. Chicago: University of Chicago Press, 1938.

STOCKMAN, N. Anti-positivist theories of science: critical rationalism, critical theory and scientific realism. Dordrecht: Reidel, 1983.

SUPPE, F. The Structure of Scientific Theories. Illinois: University of Illinois Press, 1977.

SUPPE, F. The semantic conception of theories and scientific realism. Illinois: University of Illinois Press, 1989.

SUPPES, P. Models of Data. In: NAGEL, E.; SUPPES, P.; TARSKI, A. (Eds). Logic, Methodology and Philosophy of Science: Proceedings of the International Congress. Stanford: Stanford University Press, 1962.

UHDEN, O.; KARAM, R.; PIETROCOLA, M.; POSPIECH, G. Modelling mathematical reasoning in physics education. Science & Education, v. 21, n. 4, p. 485-506, 2012.

VAN FRAASSEN, B. The Scientific Image. Oxford: Clarendon Press, 1980.

WESTPHAL, M.; PINHEIRO, T. C. A epistemologia de Mario Bunge e sua contribuição para o Ensino de Ciências. Ciência e Educação, Bauru, v. 10, n. 3, p. 585-596, 2004.

Downloads

Publicado

2019-05-13

Como Citar

Machado, J., & Braga, M. (2019). O centenário de Mario Bunge: contextualizando sua obra sobre modelos científicos na filosofia da ciência e como referencial na pesquisa em ensino. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 36(1), 178–203. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2019v36n1p178

Edição

Seção

História e Filosofia da Ciência