As teorias e experimentos em ensaio sobre o fogo
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7941.2021.e73715Resumo
O estudo de fenômenos naturais de interesse social representa um dos objetivos da aprendizagem de ciências na Escola Básica. É de se estranhar, portanto, que o fogo, uma das mais úteis e fascinantes manifestações da Natureza, receba pouca atenção na ciência e quase nenhuma no ensino, como se percebe pela ausência de estudos aprofundados sobre este fenômeno nas coleções didáticas de química aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD 2015). O fogo, no entanto, já foi objeto de estudos da filosofia química no passado. Com o objetivo de resgatar a história do fogo enquanto objeto de estudo da química, neste trabalho propomos uma análise da obra An essay on fire, publicada em 1790 pelo celebrado filósofo de Genebra, Marc-Auguste Pictet. À luz da contemporânea historiografia da ciência, buscamos analisar de que forma as teorias do final do século XVIII explicavam tal fenômeno. Os resultados desta análise revelam aspectos de interesse sobre os modos de pensar dos químicos no contexto estudado. O texto de Pictet deixa claro, por exemplo, que a palavra fogo era empregada para designar não apenas a chama, mas um agente que seria responsável por diversos efeitos na estrutura dos corpos naturais, incluindo as dilatações, mudanças de estado e a própria decomposição química. Descrevendo séries de experimentos, o filósofo analisa o fogo sob quatro pontos de vista: Fogo liberado, calor específico, calor latente e fogo combinado. Todos os experimentos realizados pelo autor são precedidos por considerações teóricas e os resultados experimentais são usados como forma de aceitar ou recusar essas teorias que, muitas vezes, contrapõem concepções corpusculares e vibracionais na interpretação do fogo como o agente causal da sensação denominada calor. Concluímos que o estudo da obra de Pictet nos permite entender algumas características de como a ciência se desenvolve, destacando a importância da comunicação entre pesquisadores, a interdependência entre experimentos e teorias e o convívio com diferentes modelos para representar um fenômeno em estudo.
Referências
ALFONSO-GOLDFARB, A. M.; FERRAZ, M. H. M.; BELTRAN, M. H. A historiografia contemporânea e as ciências da matéria: uma longa rota cheia de percalços. In: ALFONSO-GOLDFARB, A. M.; BELTRAN, M. H. R. (Ed.). Escrevendo a História da Ciência: tendências, propostas e discussões historiográficas. São Paulo: Livraria da Física, EDUC, Fapesp, 2004. p. 49-73.
ALLCHIN, D. Phlogiston after oxygen. Ambix, v. 39, p. 110-116, 1992.
ALVES, E. A. Benjamin Thompson (Conde Rumford) e o experimento da radiação do frio. São Paulo: Pontifícia Unversidade Católica de São Paulo, 2015.
AUBIN, D. The Hotel that Became an Observatory: Mount Faulhorn as Singularity, Microcosm, and Macro-Tool. Science in Context, v. 22, n. 3, 2009.
BAHAR, S. Jane Marcet and the limits to public science. British Journal for the History of Science, v. 34, p. 29-49, 2001.
BALDINATO, J. O. Conhecendo a Química: um estudo sobre obras de divulgação do início do século XIX. 2015. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências) - Universidade de São Paulo. São Paulo.
CAROZZI, A. V. The history of petroleum geology and the geneva naturalists (1790-1815). Journal of Petroleum Geology, v. 15, n. 1, 1992.
EVANS, J.; POPP, B. Pictet’s Experiment: the apparent radiation and reflection of cold. American Journal of Physics, v. 53, n. 8, p. 737-753, 1985.
KUHN, T. S. The Caloric Theory of Adiabatic Compression. Isis, v. 49, n. 2, p. 132-140, 1958.
KUHN, T. S. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University Press, 1962.
LAVOISIER, A. L. Tratado Elementar da Química. Tradução: Laís dos Santos Pinto Trindade. São Paulo: Madras, 2007.
LAVOISIER, A. L. Traité Élémentaire De Chimie. Paris: Chez Cuchet, 1789.
LETTRES d’Alexandre de Humboldt a Marc-Auguste Pictet (1795-1824). Memóires de la Société de Géographie de Genève, v. 7, p. 127-204, 1868.
LINDEE, M. S. The American Career of Jane Marcet’s Conversations on Chemistry, 1806-1853. Isis, v. 82, p. 8-23, 1991.
MARTINS, L. A.-C. P. História da ciência: objetos, métodos e problemas. Ciência & Educação, v. 11, n. 2, p. 305-317, 2004.
MORTIMER, E. F.; MACHADO, A. H. Química. São Paulo: Scipione, 2013.
PICTET, M.-A. Essais de Physique. Tome 1er. Genève: Barde, Manget & Co., 1790.
PICTET, M.-A. An Essay on Fire. London: Jeffery, E., 1791.
RABKIN, Y. M. Technological Innovation in Science: The Adoption of Infrared Spectroscopy by Chemists. Isis, v. 78, p. 31-54, 1987.
SIGRIST, R. Correspondance de Marc-Auguste Pictet (1752-1825) Tome III : Les correspondants britanniques. Version française inédite, 2015. Disponível em: <https://independent.academia.edu/RenéSigrist/Books>. Acesso em: 24 set. 2019.
SIGRIST, R. Correspondance de Marc-Auguste Pictet (1752-1825) Partie scientifique et technique Tome I : Les correspondants genevois. Version révisée, 2016. Disponível em: <https://independent.academia.edu/RenéSigrist/Books>. Acesso em: 24 set. 2019.
THOMPSON, B. New Experiments upon Heat. By Colonel Sir Benjamin Thompson, Knt. E. R .S. In a letter to Sir Joseph "Banks, Bart, P. R. S. Philosophical Transactions, v. 76, p. 273-304, 1786.
VAUCHER, J. P. Nécrologie. Notice sur Mr. M. A. Pictet. Bibliothèque Universelle des Sciences, Belles-Lettres et Arts, v. 29, p. 65-88, 1825.
VOLTA, A. Del modo di render sensibilissima la più debole elettricità. Philosophical Transactions, v. 73, p. 237- 280, 1782.
WATTS, I. P. Philosophical intelligence: letters, print, and experiment during Napoleon’s continental blockade. Isis, v. 106, n. 4, p. 749-770, 2015.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE Certifico que participei da concepção do trabalho, em parte ou na íntegra, que não omiti quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e companhias que possam ter interesse na publicação desse artigo. Certifico que o texto é original e que o trabalho, em parte ou na íntegra, ou qualquer outro trabalho com conteúdo substancialmente similar, de minha autoria, não foi enviado a outra revista e não o será enquanto sua publicação estiver sendo considerada pelo Caderno Brasileiro de Ensino de Física, quer seja no formato impresso ou no eletrônico.
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, SC, Brasil - - - eISSN 2175-7941 - - - está licenciada sob Licença Creative Commons > > > > >