Como as ciências morrem? Os ataques ao conhecimento na era da pós-verdade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1041

Resumo

Neste artigo analisamos como o fenômeno da pós-verdade impacta a opinião pública por meio da criação de um ambiente hostil ao pensamento crítico e ao conhecimento científico. Movimentos negacionistas e obscurantistas atacam as instituições democráticas e negam a ciência, relativizando e pulverizando as noções de verdade e objetividade, promovendo uma desconfiança na possibilidade de tratarmos dos fatos e não apenas de narrativas ou versões. A partir de tal pano de fundo histórico e social, analisamos o papel dos estudos de ciências e propomos três níveis de reação; (a) Um papel mais ativo na proposição de políticas públicas e estratégias educativas em divulgação e ensino de ciências, (b) revisão dos fundamentos conceituais no campo dos estudos de ciências e (c) a defesa de uma imagem de ciência que resgate as noções de verdade, fato e objetividade e que contemple a ciência em sua dimensão existencial e não somente em sentido instrumental e utilitário.

Biografia do Autor

Vinícius Carvalho da Silva, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Doutor e mestre em Filosofia da Ciência e Teoria do Conhecimento (UERJ). Pós-Doutor em Saúde Pública IMS-UERJ. Professor de Filosofia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Antonio Augusto Passos Videira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986) e doutorado em Filosofia - Université de Paris VII - Universitée Denis Diderot (1992). Realizou estudos doutorais na Universidade de Heidelberg (1988-1989) e na Universidade de Paris VII (1989-1992). É professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, além de professor colaborador no Programa de Ensino e História da Matemática (UFRJ), professor convidado no Instituo de Biofísica (UFRJ) e pesquisador colaborador no CBPF. 

Referências

ALBRIGHT, M. Fascism: A warning. New York: HarperCollins, 2018.

ARAÚJO, P. A conciliação entre realismo e relativismo segundo Paul Feyerabend. Em Construção, ano 1, n. 1, p. 123-151. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj. br/index.php/emconstrucao. Acesso em: 14 mai. 2020.

BARNES, B. Sociological theories of scientific knowledge. In: OLBY, R. C. et al. Companion to the history of modern science. Princeton: Princeton University Express, 1990.

CARUSO, F. Sonhando com uma escola menos conservadora e mais crítica. Ciência e Sociedade, CBPF, v. 2, n. 1, 2014. Disponível em: http://revistas.cbpf.br/index.php/CS/article/view/79. Acesso em: 20 mai. 2020.

CHANG, H. Pragmatism, Perspectivism, and the Historicity of Science. In: MASSIMI, M; MCCOY, C. D. Understanding perspectivism: scientific and methodological prospects. New York: Taylor & Francis, 2019.

CORREDOIRA, M. L. The Twilight of the Scientific Age. arXiv:1305.4144. [physics.hist-ph]. 2013. Disponível em: https://arxiv.org/pdf/1305.4144.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020.

COSTA, F. C. Como o homem se orienta no mundo? Uma discussão com Werner Heisenberg. 2012. 211 f. Tese (Doutorado em Filosofia da Ciência) - Programa de Pós-Graduação em Filosofia, UERJ, Rio de Janeiro.

DASTON, L; GALISON, P. Objectivity. New York: Zone Books, 2007.

EINSTEIN, A. Como eu vejo o mundo. Tradução: H. P. de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

FORMAN, P. A Cultura de Weimar, a Causalidade e a Teoria Quântica, 1918-1927. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, Supl. 2, Unicamp, 1983.

FREIRE-MAIA, N. A ciência por dentro. Petrópolis: Vozes, 1991.

FULLER, S. Science has always been a bit ‘post-truth’. The Guardian, 15/12/2016. Disponível em: https://www.theguardian.com/science/political-science/2016/dec/15/science-has-always-been-a-bit-post-truth. Acesso em: 14 mai. 2020.

GALISON, P. Specific Theory. Critical Inquiry, v. 30, p. 379-383, 2004.

LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo, UNESP, 2000.

LATOUR, B. Why has critique run out of steam? From matters of fact to matters of concern. Critical Inquiry, v. 30, n. 2, p. 225-248, 2004.

LAUDAN, L. Science and Relativism: Some Key Controversies in the Philosophy of Science. Chicago: Chicago University Press, 1990.

LEVITSKY, S; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Tradução: Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

LOPES, J. L. A ciência e a construção da sociedade na América Latina In Ciência e Liberdade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; CBPF/MCT, 1998.

LOPES, J. L. As palavras do orador da turma de bacharéis de 1942. Ciência e Sociedade. CBPF-CS-007/12 - abril 2012. Disponível em: http://cbpfindex.cbpf.br/publication_pdfs/cs00712.2012_04_27_10_59_20.pdf.

MACDOWELL, S. Responsabilidade social dos cientistas: natureza das ciências exatas. Estudos Avançados, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 67-76, Dec. 1988.

MARCUSE, H. A responsabilidade da ciência. Scientiae Studia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 159-164, Mar. 2009.

MCCOMISKEY, B. Post-Truth Rhetoric and Composition. Utah: Utah State University Press, 2017.

MCGUIRE, J. E; TUCHANSKA, B. Science Unfettered. A Philosophical Study in Sociohistorical Ontology. Ohio: University Press, 2000.

MCINTYRE, L. C. Post Truth. Cambridge, MA: MIT Press, 2018.

MENDONÇA, A. L. O. ; VIDEIRA, A. A. P. A assimetria entre fatos e valores: a herança de Kuhn nos science studies. In: CONDÉ, M. L. L.; PENNA-FORTE, M. do A. (Org.). Thomas Kuhn: a estrutura das revoluções científicas [50 anos]. 1. ed. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013. v. 1, p. 187-210.

MENDONÇA, A. L. O. Por uma nova abordagem da interface ciência/sociedade: a tarefa da filosofia da ciência no contexto dos science studies. 2008. 198 f. Tese (Doutorado em Filosofia da Ciência) - Programa de Pós-Graduação em Filosofia, UERJ, Rio de Janeiro.

MENDONÇA, A. L. O.; VIDEIRA, A. A. P. Reinstating Institutions: The Return of Natural Philosophy in Times of Academic Postmodernity. In: SILVA, A. P. B; MOURA, B. A. (Org.) Objetivos humanísticos, conteúdos científicos: contribuições da história e da filosofia da ciência para o ensino de ciências. 1. ed. Campina Grande: EDUEPB, 2019. p. 357-380. Disponível em: http://eduepb.uepb.edu.br/e-books/.

MENDONÇA, A. L. O. O legado de Thomas Kuhn após cinquenta anos. Scientiae Studia, v. 10, n. 3, p. 535-560, jan. 2012.

MENDONÇA, A. L. O.; ARAÚJO, P; VIDEIRA, A. A. P. Primazia da democracia e autonomia da ciência: o pensamento de Feyerabend no contexto dos science studies. Filosofia Unisinos, v. 11, n. 1, p. 44-61, 2010.

MIGUEL, L. R. Pensamento Científico, Integridade de Caráter e Coletividade: uma leitura sobre a ética da crença de William Kingdon Clifford. 2011. 118 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia da Ciência) - Programa de Pós-Graduação em Filosofia, UERJ, Rio de Janeiro.

MIGUEL, L. R. Wiliam Whewell: as motivações e os objetivos de um filósofo da ciência. In: VIDEIRA, A. A. P. Perspectivas contemporâneas em Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2012.

MIGUEL, L. R.; VIDEIRA, A. A. P. A distinção entre os “contextos” da descoberta e da justificativa à luz da interação entre a unidade da ciência e a integridade do cientista: o exemplo de William Whewell. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 33-48, jan/jun, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v15n41/ v15n41a13.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020.

NIINILUOTO, I. Critical Scientific Realism. Oxford: Oxford University Press, 2004.

OLIVA, A. O relativismo de Kuhn é derivado da história da ciência ou é uma filosofia aplicada à ciência? Scientiae Studia, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 561-592, 2012.

ORDINE, N. A utilidade do Inútil: Um manifesto. Tradução: Luiz Carlos Bombassaro. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

PLANCK, M. Autobiografia científica e outros ensaios. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

REIS, V. M. S. O Problema do Ethos Científico no Novo Modo de Produção da Ciência Contemporânea. 2010. Tese. (Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

REIS, V. M. S.; VIDEIRA, A. A. P. John Ziman e a ciência pós-acadêmica: consensibilidade, consensualidade e confiabilidade. Scientiae Studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 583-611, 2013.

RUNCIMAN, D. Como as democracias chegam ao fim. Tradução: Sergio Flaksman. São Paulo: Todavia, 2018.

SILVA, R. O. Origens do science studies: política e interdisciplinaridade na constituição do movimento. Conhecimento & Diversidade, [S.l.], v. 2, n. 3, p. 10-18, ago. 2012. ISSN 2237-8049. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/conhecimento_diversidade/article/view/506/36. Acesso em: 15 mai. 2020.

SILVA, V. C; BEGALLI, M. Possibilidades e alternativas para o Ensino de Física: pensando em uma educação crítica, criativa e não utilitarista. Ciência e Sociedade, CBPF, v. 5, p. 1-6, 2018. Disponível em: http://revistas.cbpf.br/index.php/CS/issue/view/63. Acesso em: 15 mai. 2020.

SILVA, V. C; BEGALLI, M. Hands on CERN/RIO. CROLAR: Critical Reviews on Latin American Research: Science, Technology, Society - and the Americans?, v. 5, n. 1, p. 84-87, Apr. 2016.

SILVA, V. C. Qual é o valor da ciência? Metafísica e axiologia em tempos de Big Science e tecnociência. 2017. 241 f. Tese (Doutorado em Filosofia da Ciência) - Programa de Pós-Graduação em Filosofia, UERJ, Rio de Janeiro.

SILVA, V. C. Um ideal de ciência: José Leite Lopes e a história da física no Brasil. Ciência e Sociedade, CBPF, v. 6, n. 2, p. 1-13, 2019.

SILVA, V. C. O valor da Ciência: O debate entre a concepção epistêmica e o reducionismo utilitarista na Filosofia da Ciência de Illka Niiniluoto. Pensando, v. 10, n. 20, 2019. Disponível em: https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/article/view/8025. Acesso em: 14 mai. 2020.

SILVA, V. C. et al. O laboratório como espaço da produção dos fatos científicos no pensamento de Latour e Woolgar. Revista Ideação, n. 40, jul./dez. 2019.

SISMONDO, S. Post-truth? (Editorial). Social Studies of Science, v. 47, n. 1, p. 3-6, 2017. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0306312717692076. Acesso em: 14 mai. 2020.

VAZ, R. O.; VIDEIRA, A. A. P. As teses de Hacking e Chang em favor do realismo: uma breve introdução. In: DUARTE, A; GUITARRARI, R. (Org.). Lógica e racionalidade científica. 1. ed. Seropédica: Editora do PPGFIL-UFRRJ, Núcleo de Lógica e Filosofia da Ciência, 2019. v. 1. p. 98-111.

VIDEIRA, A. A. P. A filosofia da ciência sob o signo dos Science Studies. Abstracta, v. 2, n. 1, 2005.

VIDEIRA, A. A. P.; MENDONÇA, A. L. O. Instituindo os Science Studies. Episteme, Porto Alegre, n. 19, p. 149-158, jul./dez. 2004.

VIDEIRA, A. A. P. A inevitabilidade da filosofia na ciência natural do século 19 - O caso da física teórica. 1. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2013. v. 1. 213p.

VIDEIRA, A. A. P. Seria a realidade uma construção? In: CARLOS, L. (Org.). Avanços nas Ciências Físicas: um volume em honra do professor António Luciano Leite Videira. 1. ed. Aveira: Universidade de Aveiro, 2008. v. 1. p. 201-227.

Downloads

Publicado

2020-12-16

Como Citar

Silva, V. C. da, & Videira, A. A. P. (2020). Como as ciências morrem? Os ataques ao conhecimento na era da pós-verdade. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 37(3), 1041–1073. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1041

Edição

Seção

Artigos