Obstáculos epistemológicos em livros didáticos de Física: o gênero na Ciência-Tecnologia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2022.e85678

Palavras-chave:

Imagens, Mulheres, Personagens da CT, Cor

Resumo

Os obstáculos epistemológicos propostos por Gaston Bachelard podem ser entendidos como barreiras ao conhecimento. Nesse viés, objetivamos nesta pesquisa analisar obstáculos do conhecimento unitário e pragmático no ensino sobre questões de gênero e Ciência-Tecnologia (CT) presentes em imagens de livros didáticos (LD) de Física do Ensino Médio. Para isso, tivemos como corpus de análise as doze coleções aprovadas pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático de 2018, utilizando como metodologia de análise a Análise Textual Discursiva. Emergiam dessa investigação duas categorias, postas a seguir: 1) A Ciência-Tecnologia apresentada como masculina, de cor branca e produzida em séculos passados e 2) Mulheres enfrentando obstáculos quanto à visibilidade como personagens da CT. O tema gênero e CT pode remeter a um obstáculo do conhecimento unitário e pragmático ao generalizar o gênero masculino e a pessoa de cor branca como sujeitos que fazem CT, invisibilizando os demais grupos. Observamos a possível presença de um padrão desigual em gênero e cor acerca de pessoas que fazem CT em todos os LD analisados. Indicamos a necessidade de mudança na representatividade desses personagens nos LD, considerando que mulheres e pessoas com cor diferente da branca, também, possuem sucesso nesse ramo e carecem dessa representação.

Biografia do Autor

Ana Paula Butzen Hendges, Acadêmica da Universidade Federal da Fronteira Sul

Licenciada em Física pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) (2021), Campus Cerro Largo-RS e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC) da UFFS, atuando na linha de Políticas Educacionais e Currículo. Durante a graduação, atuou como Bolsista CAPES do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e do Programa Residência Pedagógica (PRP), além de Bolsista de Iniciação Tecnológica do CNPq. Atualmente é Professora de Ciências na rede municipal de ensino do município de São Paulo das Missões e Professora de Física na rede estadual do mesmo município.

Rosemar Ayres dos Santos, Universidade Federal da Fronteira Sul

Licenciada em Física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (2009); Mestra em Educação (2012) e Doutora em Educação (2016) na linha de pesquisa Práticas Escolares e Políticas Públicas pela UFSM. Atualmente, é Professora na área de Ensino de Física e Ciências; professora, orientadora e coordenadora da Linha de pesquisa 1 no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC), na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Cerro Largo, RS.

Referências

ANDRADE, B. L. de; ZYLBERSZTAJN, A.; FERRARI, N. As analogias e metáforas no ensino de ciências à luz da epistemologia de Gaston Bachelard. Ensaio, v. 2, n. 2, p. 1-11, dez. 2000. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1983-21172000020207. Acesso em: 18 abr. 2022.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5891: Regras de arredondamento na numeração decimal. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

AGRELLO, D. A.; GARG, R. Mulheres na Física: poder e preconceito nos países em desenvolvimento. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 1, p. 1305-6, 2009. Disponível em: http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/311305.pdf. Acesso em: 8 nov. 2021

BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. 316 p.

BANDEIRA, L. A contribuição da crítica feminista à ciência. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n.1, p. 207-228, jan./abr. 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2008000100020. Acesso em: 5 nov. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. PNLD 2021: Ciências da Natureza e suas Tecnologias – Guia de Livros Didáticos Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2021. 83 p.

CAVALLI, M. B. A mulher na ciência: investigação do desenvolvimento de uma sequência didática com alunos da educação básica. 2017. 100 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel.

CHAMBERS, D. W. Stereotypic images of the scientist: The Draw- A – Scientist Test. Science Education, v. 67, n. 2, p. 255-265, 1983. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/229689208_Stereotypic_images_of_the_scientist_The_Draw-A-Scientist_Test_Science_Education_672_255-265. Acesso em: 17 out. 2021.

CHASSOT, A. A Ciência é masculina? É, sim senhora! Contexto e Educação. Editora UNIJUÍ, Ano 19, n. 71/72, p. 9-28, jan./dez. 2004. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoeducacao/article/view/1130. Acesso em: 17 out. 2021.

COSTA, M. C. Ainda somos poucas: exclusão e invisibilidade na ciência. Cadernos Pagu, n. 27, p. 455-459, julh./dez. 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-83332006000200018. Acesso em: 17 out. 21.

ENGELMANN, G. L.; CUNHA, M. B. da. Algumas percepções sobre cientistas em livros didáticos de química. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, XI, 2017, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em: http://www.abrapecnet.org.br/enpec/xi-enpec/anais/resumos/R1671-1.pdf. Acesso em: 1 nov. 2021.

FARIAS, R. M. da S. O legado científico de Marie Curie: Desafios e perspectivas da mulher na ciência. 2018. 88 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande.

FINSON, K. D. Applicability of the DAST-C to the images of scientists drawn by students of different racial groups. Journal of Elementary Science Education, v. 15, n. 1, p. 15-26, 2003. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/225851876_Applicability_of_the_DAST-C_to_the_images_of_scientists_drawn_by_students_of_different_racial_groups. Acesso em: 1 nov. 2021.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 220p.

GONZÁLEZ GARCÍA; M. I.; PÉREZ SEDEÑO, E. Ciencia, Tecnología y Género. Revista Iberoamericana CTS-I, n. 2, p. 1-19, jan./abr. 2002. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/28064562_Ciencia_Tecnologia_y_Genero. Acesso em: 5 set. 2021.

GROSSI, M. G. R. et al. As mulheres praticando ciência no Brasil. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 11-30, jan.-abr./2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1805-9584-2016v24n1p11. Acesso em: 7 nov. 2021.

GUIMARÃES, A. S. A. Raça, cor, cor da pele e etnia. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 20, p. 265-271, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v20i20p265-271. Acesso em: 5 dez. 2021.

HARDING, S. G. Ciencia y feminismo. Traducción: Pablo Manzano. 5. ed. Madrid, Ediciones Morata, 2016. Disponível em: https://vdoc.pub/documents/ciencia-y-feminismo-bc3507js39q0. Acesso em: 14 abr. 2022.

ICHIKAWA, E.; YAMAMOTO, J.; BONILHA, M. Ciência, Tecnologia e Gênero: desvelando o significado de ser mulher e cientista. Serviço Social em Revista (Online), v. 11, n. 1, p. 1-15, 2008. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/pdf/2008/18%20Artigo%20Genero_%20ciencia_tecnologia%20corrigidos.pdf. Acesso em: 1 nov. 21.

IDOETA, P. A. Mulheres são maioria nas universidades brasileiras, mas têm mais dificuldades em encontrar emprego. BBC News Brasil, 10 set. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49639664. Acesso em: 7 nov. 21.

JESUS, J. G. de. Orientações sobre Identidade de Gênero: Conceitos e Termos. 1. ed. Goiânia: Ser-Tão - Núcleo de estudos e pesquisas em gênero e sexualidade / UFG, v. 1, 2012. 42p. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/16/o/ORIENTA%C3%87%C3%95ES_POPULA%C3%87%C3%83O_TRANS.pdf. Acesso em: 16 mar. 2022.

JOLY, M. Introdução à Análise da Imagem. Tradução: José Eduardo Rodil. Lisboa, Ed.70, 2007. Disponível em: https://doczz.com.br/doc/122215/introducao-a-analise-da-imagem-martine-joly. Acesso em: 14 abr. 2022.

KELLER, E. F. Qual foi o impacto do feminismo na ciência? Cadernos Pagu, n. 27, p. 13-34, julh./dez. 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-83332006000200003. Acesso em: 12 abr. 2022.

LETA, J. As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um perfil de sucesso. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 271-284, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142003000300016. Acesso em: 28 out. 2021.

LOPES, A. R. C. Contribuições de Gaston Bachelard ao ensino de ciências. Enseñanza de las Ciências, v. 11, n. 3, p. 324-330, 1993. Disponível em: https://docero.com.br/doc/e001xc0. Acesso em: 27 jan. 2022.

LOPES, A. R. C. Bachelard: filósofo da desilusão. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 13, n. 3, p. 248-273, dez. 1996. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/7049#:~:text=Assim%2C%20enquanto%20um%20fil%C3%B3sofo%20da,base%20na%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20do%20pensamento. Acesso em: 5 dez. 2021.

LOPES, M. M.; COSTA, M. C. Problematizando ausências: mulheres, gênero e indicadores na História das Ciências. In: QUARTIM DE MORAES, M. L. (Org.) Gênero nas fronteiras do Sul. Campinas-SP, Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu/Unicamp, Coleção Encontros, p. 85-96, 2005.

MARTINS, E. de F.; HOFFMANN, Z. Os papéis de gênero nos livros didáticos de ciências. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v. 9, n.1, p. 132-151, jan./jun. 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1983-21172007090109. Acesso em: 8 jun. 2021.

MORAES, R.; GALIAZZI, M. do C. Análise Textual Discursiva. 2. ed. Ijuí, RS: Editora UNIJUÍ, 2007, 224 p.

NETO, J. M.; FRACALANZA, H. O livro didático de ciências: problemas e soluções. Ciência & Educação, v. 9, n. 2, p. 147-157, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-73132003000200001. Acesso em: 8 jun. 2021.

PÉREZ, D. G.; et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-73132001000200001. Acesso em: 7 nov. 2021.

PORDATA. Base de Dados de Portugal. Docentes do ensino superior: total e por sexo. Portugal: DGEEC/ME-MCTES; Pordata, 2020. Disponível em: https://www.pordata.pt/Portugal/Docentes+do+ensino+superior+total+e+por+sexo-666. Acesso em: 11 abr. 2022.

PORDATA. Alunos matriculados no ensino superior: por tipo de ensino e sexo. Portugal: DGEEC/ME-MCTES, Pordata, 2021. Disponível em: https://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+no+ensino+superior+por+tipo+de+ensino+e+por+sexo-1044. Acesso em: 11 abr. 2022.

RIGHETTI, S.; GAMBA, E. Na pós-graduação, mulheres são maioria entre estudantes, mas minoria entre docentes. Folha de São Paulo, 12 mar. 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/03/na-pos-graduacao-mulheres-sao-maioria-entre-estudantes-mas-minoria-entre-docentes.shtml. Acesso em: 7 nov. 2021.

RODRIGUES, H. W.; GRUBBA, L. S. Bachelard e os obstáculos epistemológicos à pesquisa científica do Direito. Sequência, n. 64, p. 307-333, jul. 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2012v33n64p307. Acesso em: 17 out. 2021.

ROSA, K.; SILVA, M. R. G. da. Feminismos e ensino de ciências: análises de imagens de livros didáticos de Física. Gêneros: Niterói, v. 16, n. 1, p. 83-104, 2015. Disponível em: https://periodicos.uff.br/revistagenero/article/view/31226. Acesso em: 27 jan. 2022.

SARDELICH, M. E. Leitura de imagens, cultura visual e prática educativa. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 128, p. 451-472, maio/ago. 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-15742006000200009. Acesso em: 27 jan. 2022.

SCHIEBINGER, L. O feminismo mudou a ciência? Tradução: Raul Fiker. Bauru, SP: EDUSC, 2001, 384 p.

SILVA, F. V. de J. da. Entre números e saias: a trajetória de mulheres professoras de Ciências Exatas da Universidade Federal do Maranhão. 2020. 110 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Maranhão, São Luis. Disponível em: https://tedebc.ufma.br/jspui/bitstream/tede/3251/2/FERNANDA-SILVA.pdf. Acesso em: 1 nov. 2021

SILVA, P. V. B. da; TEIXEIRA, R.; PACÍFICO, T. M. Políticas de promoção de igualdade racial e programas de distribuição de livros didáticos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 127-143, jan./mar. 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1517-97022013000100009. Acesso em: 6 dez. 2021.

VALLADARES, J.; PALACIOS, F. J. Aplicación del análisis secuencial al estúdio del texto escrito e ilustraciones de los libros de física y química de la ESO. Enseñanza de las Ciencias, v. 19, n. 1, 2001.

Downloads

Publicado

2022-08-15

Como Citar

Hendges, A. P. B. ., & Santos, R. A. dos. (2022). Obstáculos epistemológicos em livros didáticos de Física: o gênero na Ciência-Tecnologia. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 39(2), 584–611. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2022.e85678

Edição

Seção

História, Filosofia e Sociologia da Ciência e Ensino de Ciências/Física