O enigma de James Marian: corpo gótico e desejos desviantes em Esphinge

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2025.e105175

Palavras-chave:

Transgótico, Identidade de gênero, Gótico tropical, Hibridismo, Coelho Netto

Resumo

O presente estudo analisa o romance Esphinge (1908), de Coelho Netto, sob a perspectiva da ficção gótica oitocentista. Argumenta-se aqui que a narrativa pode ser lida na chave do gótico não apenas por meio de suas imagens literárias—mansões assombradas, sanatórios, sonhos e experiências espectrais—mas também pelas formas como aborda questões relacionadas às políticas do corpo, identidade de gênero e identidade nacional. O conceito de transgótico, de Jolene Zigarovich (2018), que enfatiza a transformação e a transitoriedade na ficção gótica, é fundamental para esta leitura, que explora identidades transgênero, hibridismos culturais e dinâmicas transnacionais no romance. Os conflitos e desejos do protagonista, James Marian, são analisados em relação aos tropos góticos da dualidade, da monstruosidade e dos limites da subjetividade humana. O romance brasileiro adapta e reinterpreta criativamente convenções do gótico Anglo-Americano para criticar estruturas sociopolíticas na virada do século XX no Brasil. Conclui-se que Esphinge contribui para a tradição gótica ao desestabilizar categorias rígidas de identidade e oferecer uma reflexão complexa sobre hibridismo corporal e cultural.

Referências

BOSI, A. O Pré-Modernismo: a literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1969.

CAUSO, R. S. Ficção científica, fantasia e horror no Brasil: 1875 a 1950. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

COELHO NETTO, H. M. Esphinge. Porto: Chardon, 1920 [1908].

GINWAY, M. E. Transgendering in luso-brazilian speculative fictions from Machado de Assis to the present. Luso-Brazilian Review, Madison, v. 47, n. 1, p. 40-60, jun. 2010. Disponível em: https://lbr.uwpress.org/content/47/1/40. Acesso em: 19 maio 2025.

GOLDBERG, I. Brazilian Literature. New York: Alfred A. Knopf, 1922.

GREEN, J. N. Beyond carnival: male homosexuality in twentieth-century Brazil. Chicago: University of Chicago Press, 1999.

KHNOPFF, F. The Caresses, or The Sphinx. 1896. Pintura, óleo sobre tela, 151 x 50,5 cm. Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica. Disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/caresses-fernand-khnopff/_AGlYSd0kETwGw?hl=en. Acesso em: 22 jan. 2025.

LOPES, M. A. No purgatório da crítica: Coelho Neto e o seu lugar na história da literatura brasileira. 1997. 248 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997. Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/115716. Acesso em: 01 sept 2025.

MACHADO DE ASSIS, J. M. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1977 [1881].

MATURIN, C. Melmoth, the Wanderer. Oxford: Oxford University Press, 2008 [1820].

MENON, M. C. A questão do duplo em duas narrativas brasileiras. In: Colóquio de Estudos Linguísticos e Literários, 3., 2007, Maringá. Anais [...]. Maringá: UEM, 2009. p. 732-739.

MOERS, E. Female Gothic. In: MOERS, E. Literary women: the great writers. New York: Doubleday, 1976. p. 90-98.

MOREAU, G. Oedipus and the Sphinx (Édipo e a Esfinge). 1864. Pintura, óleo sobre tela, 206,4 x 104,8 cm. Metropolitan Museum of Art. Disponível em: https://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/21.134.1. Acesso em: 22 jan. 2025.

PEREIRA, L. M. História da literatura brasileira: Prosa de ficção (de 1870 a 1920). v. 12. São Paulo: José Olympio, 1950.

PLATÃO. O banquete. Tradução, apresentação e notas Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

SÁ, D. S. Nacional por oposição: ingleses na ficção brasileira do século XIX. In: SORIANO SALKJELSVIK, K.; MARTÍNEZ-PINZÓN, F. (org.). Revisitar el costumbrismo: cosmopolitismo, pedagogías y modernización en Iberoamérica. Frankfurt: Peter Lang, 2016. p. 75-94.

SANTOS, N. S. A.; BRITO, D. A. R. Um olhar sobre os limites do corpo humano por meio de Esfinge, de Coelho Neto. Revista Interdisciplinar em Cultura e Sociedade, São Luís, v. 3, n. 1, p. 235-250, jul./dez. 2017. Disponível em: https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/ricultsociedade/article/view/7757. Acesso em: 19 maio 2025.

SEDGWICK, E. K. Between men: english literature and male homosocial desire. New York: Columbia University Press, 1985.

SHELLEY, M. Frankenstein. London: Penguin Classics, 2012 [1818].

SILVA, A. M. Transexualismo e literatura gótica em A Esfinge, de Coelho Neto. Fazendo Gênero, Florianópolis, v. 7, n. 36, 2006. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/7/artigos/A/Alexander_Meireles_da_Silva_36.pdf. Acesso em: 10 fev. 2018.

STEVENSON, R. L. The strange case of Dr Jekyll and Mr Hyde and other tales of terror. London: Penguin Classics, 2003 [1886].

STOKER, B. Drácula. Tradução de Fábio Bonillo. Rio de Janeiro: Antofágica, 2022 [1897].

STRYKER, S. My words to Victor Frankenstein above the village of Chamounix: performing transgender rage. GLQ: A Journal of Lesbian and Gay Studies, Durham, v. 1, n. 3, p. 237-254, 1994. Disponível em: https://read.dukeupress.edu/glq/article/1/3/237/69091/My-Words-to-Victor-Frankenstein-Above-the-Village?searchresult=1. Acesso em: 19 maio 2025.

WELLS, H. G. The island of Doctor Moreau. London: Penguin, 2005 [1896].

WILDE, O. The picture of Dorian Gray. London: Penguin Classics, 1998 [1890].

ZIGAROVICH, J. (org.). TransGothic in literature and culture. Londres: Routledge, 2018.

Downloads

Publicado

2025-09-12

Edição

Seção

Dossiê | Antropoceno, Biopolítica e Pós-humano: novas materialidades?