Políticas linguísticas para a pandemia de COVID-19: um olhar para os contextos de Angola, Brasil, Moçambique e Timor-Leste

Autores

  • Alexandre Cohn da Silveira Doutorando em Linguística - UFSC

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2021.e79647

Resumo

Este texto traz reflexões acerca das atitudes linguísticas oficiais dos Estados de Angola, Brasil, Moçambique e Timor-Leste frente à divulgação de informações sanitárias relativas à pandemia de COVID-19. Trata-se de perceber como as políticas linguísticas institucionais veiculam informações em respeito aos direitos linguísticos humanos dos povos multiculturais e multilinguísticos que habitam os territórios analisados. A partir do depoimento de professores nativos de cada uma das nações abordadas, percebe-se que nem sempre a língua materna dos cidadãos é utilizada nas comunicações oficiais, as quais, preferencialmente, circulam em português. Tendo em conta o que advoga a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, é possível entender que não ofertar informações essenciais para a sobrevivência em situação pandêmica na língua materna dos indivíduos é uma forma de ferir as Declarações, negando o direito à língua e à vida.

Biografia do Autor

Alexandre Cohn da Silveira, Doutorando em Linguística - UFSC

Professor do Instituto de Humanidades e Letras – UNILAB/BA. Pesquisador em Políticas Linguísticas (Políticas Linguísticas Críticas-UFSC/CNPq) e Líder do GEPILIS (CNPq) (Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Linguagem e Sociedade

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Publicado

2021-12-29