Didática da língua e linguística aplicada: Duas perspectivas de construção de objetos de ensino

Autores

  • Marcos Bispo Santos Universidade do Estado da Bahia/ Programa de Mestrado Profissional em Letras

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2019v16n4p4229

Resumo

Neste texto, apresenta-se uma análise da forma como se dá a construção de objetos de ensino pela linguística aplicada, tendo o ensino de gramática como recorte temático. O objetivo é  identificar se seu modo de proceder se coaduna com os princípios teórico-metodológicos das didáticas geral e da língua. Distinguem-se duas concepções da linguística como ciência aplicada: uma linguística aplicada lato sensu, voltada para a aplicação das teorias linguísticas ao ensino de língua, e outra, stricto sensu, que se volta para o estudo de problemas que envolvem o uso da linguagem em contextos reais. Inicialmente, apresentam-se os fundamentos da didática geral,  aos quais a didática da língua, como disciplina específica, deve estar conectada. Em seguida, analisam-se propostas da linguística aplicada lato sensu para uma abordagem descritivista da gramática na educação básica, destacando-se os paradoxos que as atravessam. Concluiu-se que a linguística aplicada lato sensu ignora a didática como ciência da prática de ensinar, em favor do aplicacionismo, ou seja, a transferência dos saberes científicos ao contexto escolar e à formação de professores.

Biografia do Autor

Marcos Bispo Santos, Universidade do Estado da Bahia/ Programa de Mestrado Profissional em Letras

Doutor em Letras pela Universidade Federal da Bahia. Atua no curso de Letras – Língua Portuguesa e Literaturas e no Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) na Universidade do Estado da Bahia.

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Publicado

2019-12-31

Edição

Seção

Ensaio