Sacerdotisas voduns e rainhas nas encruzilhadas das memórias discursivas: da Inquisição ao carnaval
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8412.2025.e105082Palavras-chave:
memória discursiva, lugares de enunciação, feminismo negro, memória diaspórica, ancestralidadeResumo
As históricas lutas dos movimentos negros por lugares de enunciação (Zoppi-Fontana, 1999; Autor 2, Autor 1, Modesto, 2023), em especial de mulheres negras pela memória (Autor 1, 2015), deslocam sentidos quando buscam (re)significar o passado, (re)significando o presente e o futuro. Inspiradas nas afirmações de Simas e Rufino (2018) e de Martins (2021), que trazem a ideia de que nos corpos se imantam sabedorias, memórias e experiências, perguntamos: o que se repete no corpo e na voz em um arquivo composto por processos da Inquisição contra mulheres africanas que ocupavam a posição de liderança em cultos aos voduns em Minas Gerais no século XVIII (Rodrigues, Maia, 2023)? Como essa memória se atualiza nos textos sobre/do desfile da Viradouro no carnaval carioca de 2024 sobre a história de guerreiras do reino Daomé iniciadas por sacerdotisas voduns? Em nosso trabalho, analisamos discursivamente em processos da Inquisição e em produções culturais contemporâneas as memórias das/sobre as sacerdotisas voduns africanas em uma relação com o corpo concebido, ao mesmo tempo, como materialidade significante, como formulação discursiva, como saber. Nosso objetivo é realizar um gesto de leitura que demonstre um lugar de significação do corpo em movimento, inserido no espaço carnavalesco, expressão de luta e de festa tipicamente brasileira.
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